quinta-feira, 17 de maio de 2012

Sabes, pai

Ruth Ministro

Sabes, pai, há dias em que me lembro do mundo que me pintaste quando ainda não sabia de que cores se pintava o mundo. Quando eu era maior do que o meu pequeno tamanho, porque tu me dizias que o mundo era meu. E tenho saudades das tardes de sol que passámos juntos, a brincar nesse mundo onde nada nem ninguém podia enegrecer o céu. Sabes, pai, há dias em que quase me esqueço do caminho para esse mundo que tu me pintaste e que guardei até hoje na gaveta das memórias. Dias em que a vida me magoa a pele, me fere a esperança e me pesa os passos. Mas depois há o verde dos teus olhos a lembrar-me que um dia, há muito, muito tempo, eu já acreditei. Sabes, pai, o mundo que tu me pintaste continua a ser cenário dos meus sonhos. E a tua mão continua a amparar-me a cada vez que acordo e vejo que, afinal, o mundo é um labirinto cheio de sombras onde os poemas se perdem. E os dias se gastam. Tu sabes, pai.

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