segunda-feira, 29 de abril de 2013

DEPOIMENTO DE UM CAÇADOR DE FELICIDADE !



João Almeida

Dias atrás, como sempre ultimamente acordo, estava muito triste...pelo universo de problemas e os efeitos colaterais de medicações, todos acordando junto comigo. A maioria são comuns  à nós, eu e Maria,  mas existem os que são só meus, assim como existem os que são só dela, talvez pela forma diferente de que cada um absorvem, coisas normalíssima entre as pessoas. 
Em dado momento, facilitei e o pote de café se soltou das minhas mãos e virou cacos ! O ruído de coisa quebrando chegou aos  ouvidos  de Maria lhe despertando  e sua voz se manifestou:
-O que foi pai !  tá enxergando ?
Uma intromissão “melosa” suficiente para provocar um estalo e afastar aquela tristeza matinal que tanto vem  me maltratando. Catei os cacos sentindo um alívio, o meu café teve um  outro sabor e dali abri a porta me deparando com este espetáculo que gosto tanto de ver nas manhãs do nosso paraíso, o céu de qualquer cor, o verde, os pássaros e as flores, acomodados num clima tão gostoso expondo a alegria que tanto gosto de sentir. Dizem que é difícil às pessoas  observarem exatamente o que um prazer faz na gente, e que  só é observado por fora,  para ver mais seria necessário olhar dentro dos olhos, mas nunca se chegaria ao efeito no coração. Senti prazer neste domingo, caminhando pelos caminhos do mato, passeando sob a copa das mangueiras buscando exemplares  de frutos mais doce de todo esse mundo. Gosto de muitas outras coisas, de viajar (principalmente para Sampa, não como agora onde o sofrimento se meteu no meio), gosto daquelas saidinhas ali por perto, as visitas às cidades próximas, e os passeios com Maria,  embarcados no metrô já fomos à tantas alegrias, em algumas parecíamos duas crianças num parque.  Também idas curtas a Salvador e longas quando são necessárias, assim não sou rigorosamente preso ao meu paraíso mas é ele meu porto seguro principalmente nesse momento de incertezas. Sobre a minha tristeza matinal  antes de ouvir a  voz de Maria me chamando de Almedinha, foi como se nossos problemas provisoriamente fossem  arquivados .
Hoje uma realidade muito forte convive comigo de mãos dadas, o envelhecimento! Nada mais justo para qualquer pessoa que viva o nosso tempo buscar alegria, ser na medida do possível  feliz! Coisas me entristecem mas não tiram minha esperança e assim quero viver os dias da minha vida, encantado  com as coisas mais simples que estejam à minha volta. Não reviver grandes momentos nossos, pinta a saudade com tristezas, mas num novo passo recomponho minha estima e fico feliz. Como essa rotina no meio do mato me deixa tão bem!  quando abro a porta dos fundos é como  uma cortina se abrindo e meus olhos tomam a direção do céu, sinto a brisa como sopro de felicidade e observando os pássaros  uma paz toma forma, mas mesmo ao alcance das minhas mãos às vezes não consigo traze-la para o meu coração . Há quem despreze posições filosóficas dos antigos filósofos, gregos ou não, dos novos e até quem não tem a formação mas que filosofando do seu jeito altera o ponteiro da bússola das nossas vidas. A realidade é a minha religião e a busca de sempre aprender direito me livra de equívocos. Assim, de um embarque num trem às quatro horas da tarde fiz minha primeira grande viagem...para o desconhecido ! sabiam que eu chegava mas ninguém estava me esperando! Dalí até aqui sempre fui fiel, fiel de amor! À minha família, as minhas origens e aos meus sonhos. Sonhos !!! gosto de sonhos mas não só os que são passeio da alma, que fazem viagens empolgantes, mas muito mais do que almejo para o amanhã. Muitos sonhos ficaram pelos caminhos, uns eram demasiadamente grandes, não me importei por ter se desmanchados, o tempo que tenho faz a diferença e então tenho sonhos extraordinários, mas pequenos sonhos. A realidade da vida não passa por destino traçados, evoluí o suficiente para desprezar crendices que são pura bobagem, mas somos presos por cordas invisíveis a uma variedade de algozes fantasiados de bons  moços que não transformam a natureza, mas regula a vida das pessoas com decretos , leis e medidas provisórias. Não somos indignados com as atitudes dos nossos senhores, então por isso somos menos felizes. Tenho limitações financeiras, não as teriam se pudesse visitar médicos que preciso no direito legítimo de cidadão sem precisar pagar nada, se não tivesse minha renda tão alvitada contando com a indiferença dos algozes incluindo aí a Exma. Presidenta da república que alimenta decisões anteriores e também de  quem se omite.Tenho minhas limitações de saúde, nada que me impeça de ser feliz. Poderia existir várias opções para ir tocando meus dias, mas o que tenho de concreto é este espaço no meio do mato que amo tanto. Concordo com intervalos, eles são necessários...não falo de isolamento, mas de viver estes momentos felizes que o sitio me proporciona. Pode ser pouco, e posso ser contestado, mas, não acho que seja pelo envelhecimento e sim pelas mazelas  dos meus males explícitos nos diagnósticos, por tanto estou menos tolerante ou numa linguagem mais popular ”sem paciência”. Apesar de me vigiar posso cometer alguma indelicadeza, ser indelicado me faz muito mal, e me aflinge   o fato é de não entenderem que tudo são sinais, parafusos frouxos, ou relaxados. Então, acordo cedo, tomo meu remédio inseparável, ligo o PC  e leio vários jornais, visito o Orkut , vou para minhas queridas comunidades e por último passo no facebook, tomo meu café, me visto de camponês e sem uma tarefa estabelecida passeio pelo sitio, passo no jardim e observo todos os detalhes, um botão novo, uma flor que se abriu, uma planta que se desenvolve, olho as copas das fruteiras e   acompanho  a evolução das flores aos frutos .Horas fico só olhando o céu, uma alegria imensa me domina quando solitário invado a mata fechada, me sinto como num santuário, me embaraço em cipós, me encontro com insetos raros e flores de todas as cores. Quando uso a enxada não é um prazer menor, preparar o solo, semear e depois ver germinar. Que me perdoem quem não consiga compreender este meu encantamento, pode até ser por não ter outra opção, só não poderia ser, viver num AP, numa cobertura que fosse, muito menos perambular  por shopings ou experimentar uma água no gargalo num congestionamento. Tudo diferente da minha vida no campo é possível, desde que seja por pouco tempo.  Desta forma quero ir vivendo, enquanto minhas pernas aguentarem já que a vida segue uma evolução perversa  pois o homem foi feito para morrer de tanto viver ! não de doenças...mas por não seguir regras ou por falta de apoio social para poder morrer de tanto viver enfrentamos sofrimentos. Quero sentar na minha varanda, sob as sombras das árvores e me encontrar com a natureza, com os pássaros, até assistir os vôos dos urubus é uma beleza! Maria, como prova as fotos nos diversos albuns criados ao longo destes anos em que decidimos ir para o mato, também me acompanha nestes prazeres, tão simples mas deliciosos como os pratos feitos por Sinhá Barbina. Receio que a vida me crie embaraços e me entristeça, por isso essa pressa de viver feliz, quero que quem apareça por lá, por lá nos arredores de um pedacinho de terra batizado de Recanto Verde, possa como nos versos de J. Esteves dizer:

Nada tiraria,
nada, nesse dia,
toda essa alegria
do meu coração: 

Hoje eu vi João!
Hoje eu vi João!

Quero uma harmonia
rica de poesia
para qualquer dia
pôr numa canção 

Já que vi João!
Já que vi João!
...

A felicidade
ganhou, de verdade
visibilidade
com explicação: 

É que eu vi João!
É que eu vi João! 

AMÉM !!!!!

sexta-feira, 26 de abril de 2013

A mulher e o tempo




Naquele dia o vento
levou para a frente
da casa toda a poeira
do mundo
as folhas secas e
restos de sonhos.

Era necessário fazer
algo urgente:
charac...charac...charac
E a vassoura jogou
tudo para cima
como nunca!










sexta-feira, 12 de abril de 2013

RECEBI MAIS DO QUE DEI


Escrevo para saberem como se pode ajudar alguém nos ajuda a sermos pessoas melhores. 
Escrevo para perguntar onde está a dignidade humana, onde estão os valores morais da nossa sociedade?Escrevo porque me sinto revoltado e desiludido… com o mundo, com a vida e com as pessoas, que conseguem ser surpreendentemente frias e cegas.

Numa manhã, enquanto tomava o pequeno-almoço num café, tristemente, apercebi-me que neste mundo, que se diz solitário, reina ainda a hipocrisia e o egocentrismo. Já não sei que horas eram, já não sei se foi hoje ou ontem, ou outro dia qualquer, já não sei o nome do café. Não, desculpem, não vos posso mentir. Sei muito bem as horas que eram, sei o dia em que foi e sei o nome do café, mas não é isso que importa. Antes pelo contrário, esses pormenores são insignificantes perante tudo o que aconteceu. Não houve nenhuma tragédia, nenhuma catástrofe natural, nem nenhuma morte. Houve, apenas, uma injustiça, uma profunda falta de humanidade e um olhar triste num rosto de um homem.

Sentado junto à montra, esperava que me trouxessem o pequeno-almoço e olhava para o infinito e desejava partir com ele para algum lugar longe, longe de tudo, longe de mim. Embora estivesse tão presente naquele local, a minha mente estava longe... À medida que estes e outros pensamentos me assaltavam a mente, entrou um homem alto, de cabelo branco e olhos claros. O casaco castanho evidenciava o passar dos anos, os óculos finos no rosto faziam-no mais magro, mais velho ainda, e as palavras, proferidas a medo, demonstravam óbvios problemas de expressão. Junto à montra daquele café, estavam dez ou onze pessoas, incluindo eu. Avançando por entre as mesas e por entre as cabeças baixas dos que, serenamente permaneciam incólumes no seu mundo, o homem foi pedindo dinheiro para comer alguma coisa mesmo ali. Mas, sempre que se aproximou de uma mesa, ninguém levantou o olhar e o enfrentou de frente. Cobardes, ninguém foi capaz de ver um retrato do mundo real. Hipócritas, preferiram ignorá-lo a dar-lhe algum tipo de resposta. Desumanos, mantiveram-se intocáveis nas suas redomas de vidro, julgando-se felizes talvez, como diria Pessoa.

Por fim, veio ter comigo. Os seus olhos azuis eram bonitos, lembravam a maresia, mas, faltavam-lhe o brilho. E a essa ausência juntava-se-lhe, talvez, a desilusão e o cansaço. Paguei-lhe o pequeno-almoço. Ele sentou-se na minha mesa, enquanto as pessoas em redor olhavam com desprezo, como se estivéssemos a cometer algum tipo de crime. Veio o empregado, pegou-lhe no braço a tentar levanta-lo bruscamente. Eu levantei-me e disse: “O senhor está comigo!” Com um olhar doce mas magoado, como que habituado a situações destas, tocou-me na mão e disse: “Sorria… chega de tristeza, sorria”.

Olhei-o nos olhos e disse-lhe: “Não estou triste…”

Ele sorriu e replicou: “De tristeza percebo eu…”

Aquela pessoa, ignorada por todos, foi a única pessoa que reparou que eu estava ainda mais triste do que ela…

Pediu com uma voz em tom baixo e envergonhado um galão (bem quente) e bolo de arroz.

Retribuiu-me contando-me um pouco da sua vida, ainda curta, mas já dorida e envelhecida.

Fiquei a olhar para as pessoas que passavam, enquanto escrevia num pedaço de papel o nome de alguém…

Pouco depois, senti a sua mão na minha. Olhei para ele nos olhos e deixei cair uma lágrima…

Ele sorriu e disse: “Eu sei que essa lágrima não por causa da minha história… Não olhe tanto lá para fora… ela não vai passar…”

Fixei-o nos olhos e disse-lhe “Pois não…”

Apontando para o meu coração e para o papel disse: “Tem que olhar mais cá para dentro…é aqui que a paisagem é bonita… é aqui que ela está! Conheço esse olhar menino…”

Quando saiu, agradeceu-me pelo gesto que tive, e, de barriga e alma cheias, partiu com um brilho nos olhos, a olhar para trás e a apontar para o coração com um gesto de quem segura algo precioso…

Fiquei a vê-lo desaparecer ao longo da avenida.

Desconheço o seu nome… desconheço o seu rumo… desconheço o seu futuro. Mas sei que ele me deixou mais rico.

Ele ajudou-me muito mais do que eu a ele… muito mais.

Obrigado…
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segunda-feira, 8 de abril de 2013

NÃO !


  • NÃO !
João Almeida

Não são meus pés dormentes
que não me levam à alegria...
Nem é o cansaço dos anos !
Mas a obrigação de assistir
tudo diferente do texto que escrevi...

Escrevi tudo direitinho...
Não omiti pontos nem vírgulas
que pudessem mudar o sentido,
por isso os meus e quem estava em volta
tiveram a opção de aprender.

Por onde andei
Todos podem caminhar sem riscos !
Se não encontrarem perfeição 
encontrarão exemplos, bons !
e sempre essa vontade de ser feliz.

    João Almeida

    Não são meus pés dormentes
    que não me levam à alegria...
    Nem é o cansaço dos anos !
    Mas a obrigação de assistir
    tudo diferente do texto que escrevi...

    Escrevi tudo direitinho...
    Não omiti pontos nem vírgulas
    que pudessem mudar o sentido,
    por isso os meus e quem estava em volta
    tiveram a opção de aprender.

    Por onde andei
    Todos podem caminhar sem riscos !
    Se não encontrarem perfeição
    encontrarão exemplos, bons !
    e sempre essa vontade de ser feliz.

domingo, 7 de abril de 2013

Jardins da vida...

(AD)







Desfio com emoção o meu rosário de memórias.
São tantas as recordações que compõem a minha história!
Há um sorriso de saudade que se solta deste viver
e chegam até mim vozes de criança,
sonhos, projetos, olhares sedentos de saber.
Dei de mim tudo o que podia.
Ouvi quando queria gritar
Sorri quando a tristeza me consumia
Acarinhei quando também eu precisava de uma mão.
Ensinei, aprendi, cuidei
Fui pai, mãe, amigo, irmão.
A vontade, a dedicação, a persistência, a vocação
sempre pintaram os dias de amor que doei à educação.
Tudo valeu a pena.
Encerro esta viagem pelas esquinas do tempo.
Espreito pela janela onde o sol ainda me acena.
Sorrio.
Tenho ainda tantas flores à minha espera noutros jardins.