João Almeida
Dias atrás,
como sempre ultimamente acordo, estava muito triste...pelo universo de problemas e os efeitos colaterais de medicações, todos
acordando junto comigo. A maioria são comuns
à nós, eu e Maria, mas existem os que são só
meus, assim como existem os que são só dela, talvez pela forma diferente de que
cada um absorvem, coisas normalíssima entre as pessoas.
Em dado momento, facilitei e o pote de café se soltou das minhas mãos e virou cacos ! O ruído de coisa quebrando chegou aos ouvidos de Maria lhe despertando e sua voz se manifestou:
Em dado momento, facilitei e o pote de café se soltou das minhas mãos e virou cacos ! O ruído de coisa quebrando chegou aos ouvidos de Maria lhe despertando e sua voz se manifestou:
-O que foi
pai ! tá enxergando ?
Uma
intromissão “melosa” suficiente para provocar um estalo e afastar aquela
tristeza matinal que tanto vem me
maltratando. Catei os cacos sentindo um alívio, o meu café teve um outro sabor e dali abri a porta me deparando
com este espetáculo que gosto tanto de ver nas manhãs do nosso paraíso, o céu
de qualquer cor, o verde, os pássaros e as flores, acomodados num clima tão
gostoso expondo a alegria que tanto gosto de sentir. Dizem que é difícil às pessoas
observarem exatamente o que um prazer
faz na gente, e que só é observado por
fora, para ver mais seria necessário
olhar dentro dos olhos, mas nunca se chegaria ao efeito no coração. Senti
prazer neste domingo, caminhando pelos caminhos do mato, passeando sob a copa
das mangueiras buscando exemplares de
frutos mais doce de todo esse mundo. Gosto de muitas outras coisas, de viajar
(principalmente para Sampa, não como agora onde o sofrimento se meteu no meio),
gosto daquelas saidinhas ali por perto, as visitas às cidades próximas, e os
passeios com Maria, embarcados no metrô
já fomos à tantas alegrias, em algumas parecíamos duas crianças num parque. Também idas curtas a Salvador e longas quando
são necessárias, assim não sou rigorosamente preso ao meu paraíso mas é ele meu
porto seguro principalmente nesse momento de incertezas. Sobre a minha tristeza
matinal antes de ouvir a voz de
Maria me chamando de Almedinha, foi como se nossos problemas provisoriamente
fossem arquivados .
Hoje
uma realidade muito forte convive comigo de mãos dadas, o envelhecimento! Nada
mais justo para qualquer pessoa que viva o nosso tempo buscar alegria, ser na
medida do possível feliz! Coisas me
entristecem mas não tiram minha esperança e assim quero viver os dias da minha
vida, encantado com as coisas mais
simples que estejam à minha volta. Não reviver grandes momentos nossos, pinta a
saudade com tristezas, mas num novo passo recomponho minha estima e fico feliz.
Como essa rotina no meio do mato me deixa tão bem! quando abro a porta dos fundos é como uma cortina se abrindo e meus olhos tomam a
direção do céu, sinto a brisa como sopro de felicidade e observando os pássaros
uma paz toma forma, mas mesmo ao alcance
das minhas mãos às vezes não consigo traze-la para o meu coração . Há quem
despreze posições filosóficas dos antigos filósofos, gregos ou não, dos novos e
até quem não tem a formação mas que filosofando do seu jeito altera o ponteiro
da bússola das nossas vidas. A realidade é a minha religião e a busca de sempre
aprender direito me livra de equívocos. Assim, de um embarque num trem às
quatro horas da tarde fiz minha primeira grande viagem...para o desconhecido !
sabiam que eu chegava mas ninguém estava me esperando! Dalí até aqui sempre fui
fiel, fiel de amor! À minha família, as minhas origens e aos meus sonhos.
Sonhos !!! gosto de sonhos mas não só os que são passeio da alma, que fazem
viagens empolgantes, mas muito mais do que almejo para o amanhã. Muitos sonhos ficaram
pelos caminhos, uns eram demasiadamente grandes, não me importei por ter se
desmanchados, o tempo que tenho faz a diferença e então tenho sonhos
extraordinários, mas pequenos sonhos. A realidade da vida não passa por destino
traçados, evoluí o suficiente para desprezar crendices que são pura bobagem,
mas somos presos por cordas invisíveis a uma variedade de algozes fantasiados
de bons moços que não transformam a natureza,
mas regula a vida das pessoas com decretos , leis e medidas provisórias. Não somos indignados com as atitudes dos nossos
senhores, então por isso somos menos felizes. Tenho limitações financeiras, não
as teriam se pudesse visitar médicos que preciso no direito legítimo de cidadão
sem precisar pagar nada, se não tivesse minha renda tão alvitada contando com a
indiferença dos algozes incluindo aí a Exma. Presidenta da república que alimenta decisões anteriores e também
de quem se omite.Tenho minhas limitações
de saúde, nada que me impeça de ser feliz. Poderia existir várias opções para
ir tocando meus dias, mas o que tenho de concreto é este espaço no meio do mato
que amo tanto. Concordo com intervalos, eles são necessários...não falo de
isolamento, mas de viver estes momentos felizes que o sitio me proporciona.
Pode ser pouco, e posso ser contestado, mas, não acho que seja pelo
envelhecimento e sim pelas mazelas dos
meus males explícitos nos diagnósticos, por tanto estou menos tolerante ou numa
linguagem mais popular ”sem paciência”. Apesar de me vigiar posso cometer
alguma indelicadeza, ser indelicado me faz muito mal, e me aflinge o fato
é de não entenderem que tudo são sinais, parafusos frouxos, ou relaxados.
Então, acordo cedo, tomo meu remédio inseparável, ligo o PC e leio vários jornais, visito o Orkut , vou
para minhas queridas comunidades e por último passo no facebook, tomo meu café,
me visto de camponês e sem uma tarefa estabelecida passeio pelo sitio, passo no
jardim e observo todos os detalhes, um botão novo, uma flor que se abriu, uma
planta que se desenvolve, olho as copas das fruteiras e acompanho
a evolução das flores aos frutos .Horas fico só olhando o céu, uma
alegria imensa me domina quando solitário invado a mata fechada, me sinto como
num santuário, me embaraço em cipós, me encontro com insetos raros e flores de
todas as cores. Quando uso a enxada não é um prazer menor, preparar o solo,
semear e depois ver germinar. Que me perdoem quem não consiga compreender este
meu encantamento, pode até ser por não ter outra opção, só não poderia ser,
viver num AP, numa cobertura que fosse, muito menos perambular por shopings ou experimentar uma água no
gargalo num congestionamento. Tudo diferente da minha vida no campo é possível,
desde que seja por pouco tempo. Desta
forma quero ir vivendo, enquanto minhas pernas aguentarem já que a vida segue
uma evolução perversa pois o homem foi
feito para morrer de tanto viver ! não de doenças...mas por não seguir regras ou por falta de apoio social para poder morrer de tanto viver enfrentamos sofrimentos. Quero sentar na minha
varanda, sob as sombras das árvores e me encontrar com a natureza, com os
pássaros, até assistir os vôos dos urubus é uma beleza! Maria, como prova as
fotos nos diversos albuns criados ao longo destes anos em que decidimos ir para
o mato, também me acompanha nestes prazeres, tão simples mas deliciosos como os
pratos feitos por Sinhá Barbina. Receio que a vida me crie embaraços e me
entristeça, por isso essa pressa de viver feliz, quero que quem apareça por lá,
por lá nos arredores de um pedacinho de terra batizado de Recanto Verde, possa
como nos versos de J. Esteves dizer:
Nada tiraria,
nada, nesse dia,
toda essa alegria
do meu coração:
nada, nesse dia,
toda essa alegria
do meu coração:
Hoje eu vi João!
Hoje eu vi João!
Quero uma harmonia
rica de poesia
para qualquer dia
pôr numa canção
Já que vi João!
Já que vi João!
...
A felicidade
ganhou, de verdade
visibilidade
com explicação:
É que eu vi João!
É que eu vi João!
Um comentário:
Belo texto, porém triste.
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