terça-feira, 29 de maio de 2012

DA LEVEZA DOS MEUS TRINTA ANOS

Wender Montenegro.
DA LEVEZA DOS MEUS TRINTA ANOS


E essa saudade das coisas sem peso,
sem massa de memória que as estrangule...

As cores do tempo que atracam nos olhos
vermelhos de tanto riacho
o batismo de sal das jangadas
sob o peso vermelho dos pargos
a velha frase engessada na infância:
“coração de beija-flor deixa acerteiro”
o cacimbão, primeira aula de medo
a malícia sensitiva nos enternecendo
as epopéias nas curvas do sonho
o sobrenome perdido entre nomes
no braço fraturado de um amigo
dentro do frio ouvir formigas-de-asas
tirando a chuva das portas
Chico Ferrão, meu santo-avô-barroco,
arrastando a corcunda e o banquinho
para a fala das seis com o Senhor.

O adeus veste o branco de todas as cinzas,
mas quem prescreverá, se habito em febre,
minha dose diária de abstrato?

Hoje pisei num tabaco-do-cão
e um sarro de infância se evolou, tão leve...



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