terça-feira, 1 de maio de 2012
Não me deixes
Gonçalves Dias
Debruçada nas águas de um regato
A flor dizia em vão
A corrente, onde bela se mirava:
" Ai, não me deixes, não!"
Comigo fica ou leva-me contigo
Dos mares à amplidão
Límpido ou turvo te amarei constante,
Mas não me deixes, não!
E a corrente passava, novas águas
Após outras vão,
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
" Ai, não me deixes não!
E das águas que fogem inçessantes
A eterna sucessão
Dizia sempre a flor e sempre embalde:
" Ai, não me deixes não!
Por fim desfalecida e machucada
Quase a lamber o chão,
Buscava ainda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não!
A corrente impiedosa a flor enleia
Leva-a do seu torrão.
Afundar-se dizia a pobrezinha:
" Não me deixaste, não!
Gonçalves Dias
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