terça-feira, 29 de maio de 2012
sexta-feira, 18 de maio de 2012
Essa Mulher
De manhã cedo essa senhora se conforma
Bota a mesa, tira o pó, lava a roupa, seca os olhos
Ah. como essa santa não se esquece de pedir pelas mulheres
Pelos filhos, pelo pão
Depois sorri, meio sem graça
E abraça aquele homem, aquele mundo
Que a faz assim, feliz
De tardezinha essas menina se namora
Se enfeita se decora, sabe tudo, não faz mal
Ah, como essa coisa é tão bonita
Ser cantora, ser artista
Isso tudo é muito bom
E chora tanto de prazer e de agonia
De algum dia qualquer dia
Entender de ser feliz
De madrugada essa mulher faz tanto estrago
Tira a roupa, faz a cama, vira a mesa, seca o bar
Ah, como essa louca se esquece
Quanto os homens enlouquece
Nessa boca, nesse chão
Depois parece que acha graça
E agradece ao destino aquilo tudo
Que a faz tão infeliz
Essa menina, essa mulher, essa senhora
Em que esbarro toda hora
No espelho casual
É feita de sombra e tanta luz
De tanta lama e tanta cruz
Que acha tudo natural.
Bota a mesa, tira o pó, lava a roupa, seca os olhos
Ah. como essa santa não se esquece de pedir pelas mulheres
Pelos filhos, pelo pão
Depois sorri, meio sem graça
E abraça aquele homem, aquele mundo
Que a faz assim, feliz
De tardezinha essas menina se namora
Se enfeita se decora, sabe tudo, não faz mal
Ah, como essa coisa é tão bonita
Ser cantora, ser artista
Isso tudo é muito bom
E chora tanto de prazer e de agonia
De algum dia qualquer dia
Entender de ser feliz
De madrugada essa mulher faz tanto estrago
Tira a roupa, faz a cama, vira a mesa, seca o bar
Ah, como essa louca se esquece
Quanto os homens enlouquece
Nessa boca, nesse chão
Depois parece que acha graça
E agradece ao destino aquilo tudo
Que a faz tão infeliz
Essa menina, essa mulher, essa senhora
Em que esbarro toda hora
No espelho casual
É feita de sombra e tanta luz
De tanta lama e tanta cruz
Que acha tudo natural.
quinta-feira, 17 de maio de 2012
João de Deus...
(AD)
Você
já viu que riqueza é um "velho"? Velho é um livro que fala. Isso, meu
avô materno era isso: um livro que falava. Ele era cheio de contos.
Esse
velho sempre foi um menino, mas poderia notavelmente ser identificado
como passarinho, e podia voar perfeitamente com a única asa que possuiá,
já que a outra uma granada levou. Que beleza carregava aquele homem e
vice-versa.
Dia
feliz era o do passear com ele, íamos a pé, porque os cavalos não
estavam na "moda" mais nas cidades, mesmo na minha, interiorana de
poucos habitantes, além do mais não havia necessidade de carro.
Havia
um tempinho tinham deixado os cavalos em paz, coisa essa que agradava
muito meu avô por ser assim tão livre e enxergar liberdade em todas as
criaturas de Deus. Tão simples, tão da terra, tão precioso! Meu avô
tinha cheiro de café - plantado pelas suas próprias mãos de homem
trabalhador. Trabalh-a-dor. Sim, ele fazia isso com uma sabedoria de
grego.
Hoje
eu sei, não reparava quando criança, que meu avô sabia dar flor em
troca dos espinhos. Inacreditável existir gente assim, ainda mais pra
quem acostumou com a velocidade e o individualismo das cidades grandes.
Mas ele existiu e marcou minha vida.
Lembro
que antigamente na minha cidade ás vezes faltava luz. Era um terror pra
mim e meus primos porque de costume as tias matracas inventavam
monstros da escuridão. então, ele juntava nós todos e contava histórias.
Não eram histórias de bicho papão, mas de heróis, aqueles que
despertavam em nós personagens que poderíamos ser, e a vida ficava tão
cheia de vontade de viver. De repente o escuro passava e eu podia
perceber que uma luz me iluminava no céu. Ele me trazia luas.
Emily
Dickinson disse uma vez que "para fazer uma campina é preciso um trevo e
uma abelha. Um trevo, uma abelha e fantasia, mas faltando abelhas,
basta a fantasia" Era assim que aqueles olhos chumbados da liga metálica
que lhe explodiu nas mãos viam o mundo. Nunca vi o olhar dele ficar
cinza, nem a esperança virou fumaça. Nunca exigiu retalhações do
governo, nem fazia do braço que não tinha uma bandeira vitimada. Fazia
do seu terror uma história de ninar.
Hoje
sinto falta das suas visitas que corriam para me ver crescer. Hoje
sinto falta da lua que ele acendia quando o meu céu escurecia.
Foi
embora como o pássaro que era, suave, sem estardalhaços, cantando,
deixando paz, digno de toda doçura que deixou de semente para os netos.
E
sai das falas risonhas para ser transformado em livro, em história de
ninar para outros ouvidos pequenos, e pode ser sentido o seu abraço de
um braço só, de um amor que pode suportar bombas e florescer rosas.
Sabes, pai
Ruth Ministro
Sabes,
pai, há dias em que me lembro do mundo que me pintaste quando ainda não
sabia de que cores se pintava o mundo. Quando eu era maior do que o meu
pequeno tamanho, porque tu me dizias que o mundo era meu. E tenho
saudades das tardes de sol que passámos juntos, a brincar nesse mundo
onde nada nem ninguém podia enegrecer o céu. Sabes, pai, há dias em que
quase me esqueço do caminho para esse mundo que tu me pintaste e que
guardei até hoje na gaveta das memórias. Dias em que a vida me magoa a
pele, me fere a esperança e me pesa os passos. Mas depois há o verde dos
teus olhos a lembrar-me que um dia, há muito, muito tempo, eu já
acreditei. Sabes, pai, o mundo que tu me pintaste continua a ser cenário
dos meus sonhos. E a tua mão continua a amparar-me a cada vez que
acordo e vejo que, afinal, o mundo é um labirinto cheio de sombras onde
os poemas se perdem. E os dias se gastam. Tu sabes, pai.
quarta-feira, 16 de maio de 2012
Mãe! Em todos os dias do ano.
Hilda Lucas
"Mãe é aquele ser estranho, louco, capaz de heroísmos, dramas e
breguices com a mesma fúria; paga mico, escreve carta para Papai Noel,
se faz passar por fadinha do dente, coelho da páscoa, cuca, pede
autógrafo para artistas deploráveis assiste a programas, peças, shows
horríveis, revê milhares de vezes os mesmos desenhos animados, conta as
mesmas histórias centenas de vezes, vai pra Disney e ... A- D - O - R -
A!
Mãe faz escândalo, tira satisfação com professor, berra em público, dá
vexame, deixa a gente sem graça, compra briga; é espaçosa, barulhenta,
tendenciosa, leoa, tiete, dona da gente. Mãe desperta extremos,ganas,
irrita, enlouquece, mas... É mãe.
Mãe faz promessa, prestação, hora extra, pra que a gente tenha o que é
preciso e o que sonha. Mãe surta, passa dos limites, às vezes até bate,
diz coisas duras; mãe pede desculpas, mortificada... Mãe é um bicho
doido, louco pela cria. Mãe é Visceral!
Mãe chora em apresentação de balé, em competição de natação, quando a
filha menstrua pela primeira vez, quando dá o primeiro beijo, quando vê a
filha apaixonada no casamento, no parto... Xinga todo e cada desgraçado
que faz a filha sofrer, enlouquece esperando ela chegar da balada. Mãe é uma espécie esquisita que se
alterna entre fada e bruxa com um naturalidade espantosa. É competente
no item culpa e insuperável no item ternura, mas pode ser virulenta,
tem um lado B às vezes C, D, E... Mãe é melosa, excessiva, obsessiva,
repulsiva, comovente, histérica, mas não se é feliz sem uma. Mãe é
contrato: irrevogável, vitalício instransferível!
Mãe lê pensamento, tem premonição, sonhos estranhos. Conhece cara de
choro, de gripe, de medo; entra sem bater, liga de madrugada, pede favor
chato, palpita e implica com amigos, namorados, escolhas. Mãe dá a
roupa do corpo, tempo, dinheiro, conselho, cuidado, proteção. Mãe dá um
jeito, dá nó,dá bronca, dá força. Mãe cura cólica, porre, tristeza,
pânico noturno, medos. Espanta monstros, pesadelos, bactérias mosquitos,
perigos. Mãe tem intuição e é messiânica: Mãe salva. Mãe guarda
tesouros, conta histórias e tece lembranças. Mãe é arquivo!
Mãe exagera, exaure, extrapola. Mãe transborda, inunda, transcende.
Ama, desmama desarma, denota, manda, desmanda, desanda, demanda. Rumina o
passado, remói dores, dá o troco, adora uma cobrança e um perdão
lacrimoso.
Mãe abriga, afaga, alisa, lambe, conhece as batidas do nosso coração, o
toque dos nossos dedos, as cores do nosso olhar e ouve música quando a
gente ri. Mãe tem coração de mãe!
Mãe é pedra no caminho, é rumo; é pedra no sapato, é rocha; é drama
mexicano, tragédia grega e comédia italiana; é o maior dos clássicos;é
colo, cadeira de balanço e divã de terapeuta... Mãe é madona-mia! É
deus-me-acuda; é graças-a-deus; é mãezinha-do-céu, é mãe é minha- é a
que padece no paraíso enquanto nos inferniza... Mãe é absurda e
inexoravelmente para sempre e é uma só: não há Mistério maior! Só cabe
uma mãe na vida de um filho... e olhe lá! Às vezes, nem cabe inteira.
Mãe é imensurável!
Mãe é eterna, não morre jamais. Bicho estranho, entranha, milagre,
façanha, matriz, alma, carne viva, laço de sangue, flor da pele. Mãe é
mãe, e faz cada coisa..."
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Precisa-se de Loucos
(AD)
Do Blog; pensamentos
Precisa-se de loucos De loucos uns pelos outros! Que
em seus surtos de loucura tenham habilidades suficientes para agir como
treinadores de um mundo melhor. Que olhem a ética, o respeito às pessoas
e a responsabilidade social não apenas como princípios organizacionais,
mas como verdadeiros compromissos com o Universo. Precisa-se de loucos
de paixão. Não só pelo trabalho, mas principalmente por gente, que vejam
em cada ser humano o reflexo de si mesmo, trabalhando para que velhas
competências dêem lugar ao brilho no olhar e a comportamentos
humanizados.
Precisa-se de loucos pelo desconhecido que caminhem na contramão da história
Precisa-se de loucos poliglotas que não falem inglês,
espanhol, francês ou italiano, mas que falem a língua universal do
amor, do amor que transforma, modifica e melhora. Palavras não
transformam empresas e sim atitudes. Precisa-se simplesmente de loucos
de amor. De amor que transcende toda a hierarquia, que quebra
paradigmas; Amor que cada ser humano deve despertar e desenvolver dentro
de si e pôr a serviço da vida própria e alheia.
As organizações precisam urgentemente de loucos,
capazes de implantar novos modelos de gestão, essencialmente focados no
SER, sem receios de serem chamados de insanos, que saibam que a
felicidade consiste em realizar as grandes verdades e não somente em
ouvi-las… Ou resgatamos a inocência perdida ou teremos que desistir de
vez da condição de HUMANOS. Qual vai ser a sua atitude?
terça-feira, 1 de maio de 2012
Tinta fresca
Tinha quintal semeado e a garantia de boa colheita. Junto ao pé de
araçá, uma toceira de capim limão que era do agrado da dona da casa para
fazer chá em dias de vento norte e alguns galhos de arruda que nunca
falhavam. Diz que tinham poderes de manter o ambiente livre de olho
gordo.
O
terreiro era varrido todos os dias. Não havia folha seca lançada ao
léo, as frutas podres que caíam na terra eram engolidas com a ajuda da
enxada. Não havia desgosto nisso, eram vistas como futuro adubo; eram
recolhidas para vingarem outros brotos. Assim também era a fé daquele
povo. A fé era limpa como os vãos entre as plantas.
Quando se é simples é posssível enxergar a naturalidade das coisas.
Mais
para frente do quintal tinha um galinheiro e um poço de água. As
crianças eram acostumadas desde que espiavam o mundo pela primeira vez
que cada vida podia viver, ter um hino próprio e trazer sua riqueza,
até as galinhas. Da água que brotava no poço, e era bebida, chamavam
as comadres e faziam também os batismos da gurizada. As coisas eram
vistas como sagradas que eram. Assim de cedo ia-se aprendendo a linguagem do mundo que era mostrada.
Não
era feio usar chapéu de palha, era orgulho. Ter uma caixa de
ferramentas e e um kit de carpinar era coisa de gente sábia-
observadores e habilidosos. Pai passava para filho como herança, uma
espécie de riqueza que carregava mais que macetes, era permeada de
afeto; anos e anos de "técnica". As mulheres também podiam usar a tal
técnica, pois a vida mantida em círculos ressalatava a igualdade. Se
quisessem podiam cozinhar e coser, bem como colocar suas mãos santas na
terra. Vi muitas vezes minhas avós Angelina e Honorina plantando, e elas
nunca perderam o feitiço da panela, nem o a hipnose das suas vozes
doces. Eram mulheres fortes e doces, e sabiam "semear"...
A
casa era trocada de tinta todo fim de ano. Isso se dava para comemorar
festivamente uma ano que se passou e um outro que virá trazendo novas
esperanças. Olhava as casquinhas raspadas caídas no chão como feridas
que secaram. Foram dias de sol, outros tantos de brisa, entretanto
tiveram dias de chuva, geada, granizo e vento. Trocar de casca era bom,
era como se a vida pudesse se regenerar... e pode! E me traz a sensação
de que podemos escolher novas cores, e isso é bom.
Por
ali o calor humano aprendido com o sol podia ser sentido entre as
pessoas. A família costumava a se reunir para tomar um chimarrão em
roda, lá na grama dos fundos onde tinha um banco comprido feito pelo vô, que ficava embaixo do pinheiro. Traziam
também as cadeiras de cerejeira da vó e as dispunham de modo que todos
podiam se olhar e conversar. O solzinho de raposear dava um descanso
também pro peito familiar e assoprava as brasas de modo que as pessoas
reconheciam-se e se afirmavam. Até a embriaguês do tio era comentada com
ares de assembléia, reunião essa que não deixava as crianças excluídas.
Mas brincar de esconde-esconde naquele quintal imenso era muito melhor.
Voavam rendinhas, fitas e calças curtas.
Os
eventos familiares sempre foram grandes acontecimentos, as datas não
passavam em branco e hoje dá saudade de tanta festa que carregávamos no
olhar.
Dessa
herança toda herdei o prazer de estar junto, de repartir minha vida com
os demais, a simplicidade de usar chapéu de palha do meu avô, de
colocar as mãos na terra e de não dividir as pessoas. Pouco isso é
entendido. A não ser por quem conhece dessa abundância... por quem sabe a
diferença entre dinheiro e riqueza.
Toda
vida tem jeitos e acentos, segredos, grandezas e miudezas, coragem e
medo, vergonha e orgulho,... Atravessamos-na e dela cada um carrega o
que pode.
O movimento entre o ser e o existir é unissono, e isso é bonito.
Porém, essa exclusividade é carpinada por várias mãos, semeada por
muitos dedos e intenções. Criarão-se cascas velhas e as tintas caírão,
mas a promessa é que outro frescor traga suavidade e força para as
próximas estações e alivie a aparência.
As
garantias de boa colheita podem ser vistas como garantidas quando se
espera alguma coisa e não algo. De tudo há de se tirar o extrato e com
ele fazer um bom chá.
Há
de se carregar atrás da orelha ou dentro da roupa um raminho de arruda
porque a vida também pede doses de confiança, e tenha bons olhos para o
podre, porque por vezes, as frutas podres caídas no chão do terreiro
darão belos adubos.
Que
cada um dê seu "ovo" e traga seu canto- mesmo desafinado- e tenha sede
de água gelada de poço- aquela que a família toda pode beber e
batizar-se...
Que
o chapéu de palha não seja vergonha, mas abrigo, e possa deixar a
singularidade de cada cabeça. E junto a ele, que cada caixa de
ferramentas tenha no seu interior solidariedade, compaixão, respeito,
humanidade, fé e amor para que possa ser mostrada sempre -e- deixada um
dia para o filho. Que ele possa ser habilidoso nessas artes.
Que
hajam conversas embaixo dos pinheiros e que as crianças não sejam
esquecidas, porém que elas possam brincar, crescer e voar para serem
adultos mais felizes.
Que como cada novo dia a gente possa se levantar e que o sol seja sentido no nosso coração e quando nos dermos as mãos.
Que
haja festa no olhar na comemoração do nosso afeto e que a vida, enfim,
possa na sua simplicidade ser repartida e deixada de herança. Que na sua
(re) construção diária possamos elaborá-la, recuperando a sua verdade,
esperançando o seu devir de um jeito manso e crente, pintando-a da cor
que vier.
Tinha quintal semeado e a garantia de boa colheita. Junto ao pé de araçá, uma toceira de capim limão que era do agrado da dona da casa para fazer chá em dias de vento norte e alguns galhos de arruda que nunca falhavam. Diz que tinham poderes de manter o ambiente livre de olho gordo.
O
terreiro era varrido todos os dias. Não havia folha seca lançada ao
léo, as frutas podres que caíam na terra eram engolidas com a ajuda da
enxada. Não havia desgosto nisso, eram vistas como futuro adubo; eram
recolhidas para vingarem outros brotos. Assim também era a fé daquele
povo. A fé era limpa como os vãos entre as plantas.
Quando se é simples é posssível enxergar a naturalidade das coisas.
Mais
para frente do quintal tinha um galinheiro e um poço de água. As
crianças eram acostumadas desde que espiavam o mundo pela primeira vez
que cada vida podia viver, ter um hino próprio e trazer sua riqueza,
até as galinhas. Da água que brotava no poço, e era bebida, chamavam
as comadres e faziam também os batismos da gurizada. As coisas eram
vistas como sagradas que eram. Assim de cedo ia-se aprendendo a linguagem do mundo que era mostrada.
Não
era feio usar chapéu de palha, era orgulho. Ter uma caixa de
ferramentas e e um kit de carpinar era coisa de gente sábia-
observadores e habilidosos. Pai passava para filho como herança, uma
espécie de riqueza que carregava mais que macetes, era permeada de
afeto; anos e anos de "técnica". As mulheres também podiam usar a tal
técnica, pois a vida mantida em círculos ressalatava a igualdade. Se
quisessem podiam cozinhar e coser, bem como colocar suas mãos santas na
terra. Vi muitas vezes minhas avós Angelina e Honorina plantando, e elas
nunca perderam o feitiço da panela, nem o a hipnose das suas vozes
doces. Eram mulheres fortes e doces, e sabiam "semear"...
A
casa era trocada de tinta todo fim de ano. Isso se dava para comemorar
festivamente uma ano que se passou e um outro que virá trazendo novas
esperanças. Olhava as casquinhas raspadas caídas no chão como feridas
que secaram. Foram dias de sol, outros tantos de brisa, entretanto
tiveram dias de chuva, geada, granizo e vento. Trocar de casca era bom,
era como se a vida pudesse se regenerar... e pode! E me traz a sensação
de que podemos escolher novas cores, e isso é bom.
Por
ali o calor humano aprendido com o sol podia ser sentido entre as
pessoas. A família costumava a se reunir para tomar um chimarrão em
roda, lá na grama dos fundos onde tinha um banco comprido feito pelo vô, que ficava embaixo do pinheiro. Traziam
também as cadeiras de cerejeira da vó e as dispunham de modo que todos
podiam se olhar e conversar. O solzinho de raposear dava um descanso
também pro peito familiar e assoprava as brasas de modo que as pessoas
reconheciam-se e se afirmavam. Até a embriaguês do tio era comentada com
ares de assembléia, reunião essa que não deixava as crianças excluídas.
Mas brincar de esconde-esconde naquele quintal imenso era muito melhor.
Voavam rendinhas, fitas e calças curtas.
Os
eventos familiares sempre foram grandes acontecimentos, as datas não
passavam em branco e hoje dá saudade de tanta festa que carregávamos no
olhar.
Dessa
herança toda herdei o prazer de estar junto, de repartir minha vida com
os demais, a simplicidade de usar chapéu de palha do meu avô, de
colocar as mãos na terra e de não dividir as pessoas. Pouco isso é
entendido. A não ser por quem conhece dessa abundância... por quem sabe a
diferença entre dinheiro e riqueza.
Toda
vida tem jeitos e acentos, segredos, grandezas e miudezas, coragem e
medo, vergonha e orgulho,... Atravessamos-na e dela cada um carrega o
que pode.
O movimento entre o ser e o existir é unissono, e isso é bonito.
Porém, essa exclusividade é carpinada por várias mãos, semeada por
muitos dedos e intenções. Criarão-se cascas velhas e as tintas caírão,
mas a promessa é que outro frescor traga suavidade e força para as
próximas estações e alivie a aparência.
As garantias de boa colheita podem ser vistas como garantidas quando se espera alguma coisa e não algo. De tudo há de se tirar o extrato e com ele fazer um bom chá.
Há de se carregar atrás da orelha ou dentro da roupa um raminho de arruda porque a vida também pede doses de confiança, e tenha bons olhos para o podre, porque por vezes, as frutas podres caídas no chão do terreiro darão belos adubos.
Que cada um dê seu "ovo" e traga seu canto- mesmo desafinado- e tenha sede de água gelada de poço- aquela que a família toda pode beber e batizar-se...
Que o chapéu de palha não seja vergonha, mas abrigo, e possa deixar a singularidade de cada cabeça. E junto a ele, que cada caixa de ferramentas tenha no seu interior solidariedade, compaixão, respeito, humanidade, fé e amor para que possa ser mostrada sempre -e- deixada um dia para o filho. Que ele possa ser habilidoso nessas artes.
Que hajam conversas embaixo dos pinheiros e que as crianças não sejam esquecidas, porém que elas possam brincar, crescer e voar para serem adultos mais felizes.
Que como cada novo dia a gente possa se levantar e que o sol seja sentido no nosso coração e quando nos dermos as mãos.
Que haja festa no olhar na comemoração do nosso afeto e que a vida, enfim, possa na sua simplicidade ser repartida e deixada de herança. Que na sua (re) construção diária possamos elaborá-la, recuperando a sua verdade, esperançando o seu devir de um jeito manso e crente, pintando-a da cor que vier.
As garantias de boa colheita podem ser vistas como garantidas quando se espera alguma coisa e não algo. De tudo há de se tirar o extrato e com ele fazer um bom chá.
Há de se carregar atrás da orelha ou dentro da roupa um raminho de arruda porque a vida também pede doses de confiança, e tenha bons olhos para o podre, porque por vezes, as frutas podres caídas no chão do terreiro darão belos adubos.
Que cada um dê seu "ovo" e traga seu canto- mesmo desafinado- e tenha sede de água gelada de poço- aquela que a família toda pode beber e batizar-se...
Que o chapéu de palha não seja vergonha, mas abrigo, e possa deixar a singularidade de cada cabeça. E junto a ele, que cada caixa de ferramentas tenha no seu interior solidariedade, compaixão, respeito, humanidade, fé e amor para que possa ser mostrada sempre -e- deixada um dia para o filho. Que ele possa ser habilidoso nessas artes.
Que hajam conversas embaixo dos pinheiros e que as crianças não sejam esquecidas, porém que elas possam brincar, crescer e voar para serem adultos mais felizes.
Que como cada novo dia a gente possa se levantar e que o sol seja sentido no nosso coração e quando nos dermos as mãos.
Que haja festa no olhar na comemoração do nosso afeto e que a vida, enfim, possa na sua simplicidade ser repartida e deixada de herança. Que na sua (re) construção diária possamos elaborá-la, recuperando a sua verdade, esperançando o seu devir de um jeito manso e crente, pintando-a da cor que vier.
Desencantar-se...
LUH
Sentimento de estranheza, estranho é o desencantar-se...
Desencantar-se é perder a energia que você depositava em algo ou alguém, é não ter vontade nenhuma para com, nenhuma curiosidade movida, é criar distâncias. Desencantar-se é não querer mais ter cuidado, é não se importar, é dar um corte na corda que segurava o laço.
É perder a fé. É sentir nada.
Desencantar-se é ver as quimeras perdidas, ilusões estas que nós mesmos depositamos e que na real só poderiam dar certo se fossem uma via de mão dupla...e não eram.
É mudar o foco, deixar pra trás o que perdeu o viço. É dar á outras formas o encantamento.
O movimento é esse e quando nos damos conta disso, é estranho...
Nos desencantamos com as pessoas, com as coisas. Empoderamos o objeto das expectativas, puros artifícios, que nós conseguimos dar conta concluir sozinhos; colocamos as nossas capacidades á mercê e queremos achar culpados: era o autor daquele livro que perdeu a inspiração, era o curso de línguas que era ruim, era a pessoa que não prestava...e tantos outros era.
Somos inventores! Somos cheios de truques. Vivemos de realidade ilusória. Esquecemos que expectativa é probabilidade.
Na verdade nossas expectativas eram nossas, só nossas e o que tem o algo ou alguém haver com isso? Nada...Cada um é responsável por si e pelo que deseja.
O que nos salva ? Os outros encantamentos; restos de ilusão. Pequenas e grandes mortes simbólicas virão, assim como pequenos e grandes encantamentos...Morrendo para dar lugar a algo novo...
O desencanto afinal é encontrar-se - ainda que não se saiba.
Desencantar-se é estar livre...
Reféns de (quase) nada somos.
Debandos permanentes.
E a vida corre.
Contrastes!
Não me deixes
Gonçalves Dias
Debruçada nas águas de um regato
A flor dizia em vão
A corrente, onde bela se mirava:
" Ai, não me deixes, não!"
Comigo fica ou leva-me contigo
Dos mares à amplidão
Límpido ou turvo te amarei constante,
Mas não me deixes, não!
E a corrente passava, novas águas
Após outras vão,
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
" Ai, não me deixes não!
E das águas que fogem inçessantes
A eterna sucessão
Dizia sempre a flor e sempre embalde:
" Ai, não me deixes não!
Por fim desfalecida e machucada
Quase a lamber o chão,
Buscava ainda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não!
A corrente impiedosa a flor enleia
Leva-a do seu torrão.
Afundar-se dizia a pobrezinha:
" Não me deixaste, não!
Gonçalves Dias
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