João Almeida
E as meninas pegaram o caminho de volta, agora vão se "aquetar." A vida é mesmo um caso sério, quando alguma coisa fica fora de ordem, são tantas as consequências... Acho que preciso deitar na cama de um analista , preciso de ajuda para assimilar o que me disse dona filosofia, que a vida é assim, devemos aceitar os tropeços, mas e a saudade? Sentimento perverso. Os netos deveriam visitar os avós nas férias e no máximo uma semana, mas Carol e Júlia foram morar lá, por seis meses...Lá no Recanto Verde regularmente acordo as cinco horas e começo a cuidar das coisas, mas nesses periódo, era obrigado a ficar perto de casa aguardando Paquita chegar com o leite, pois Jú regularmente por volta das seis acordava e corria pra cozinha reclamando pelo mingáu. Carol, ao contrário, se não fosse acordada levantava na hora do almoço. Às dez as duas pegavam o caminho da banca, sempre eu segurava o queixo observando duas crianças urbanas caminhando pela estrada de chão e irregular como tantas nos caminhos do interior.
De volta da banca vinham em disparada para o pé de sibipiruna, brincar no balanço, até a avó da o sinal da hora do banho. As onze e meia eu descalçava as botas e ia sentar na sala, assistir um pouquinho de tv . Na verdade, onze e meia é o horário do almoço meu e de Quinha, mas com a presença das netas o horário tornou-se flexível. Quando Balbina colocava o primeiro prato Júlia corria para sala e exigia que eu fosse para mesa. Carol sentava ao lado da avó e Jú no lado oposto. A primeira manifestação era pela escolha do suco, sempre duas opções e quem comia a comidinha toda ganhava palmas. Mais ou menos ao meio dia chegava Vanessa, a colaboradora contratada para levar as duas para a escolinha na cidade no ônibus da prefeitura. Da sala eu observava as duas caminhando, arrastando as sacolas . Ali eu ficava com minhas preocupações, pelas condições da estrada , pelas condições do transporte, pelo tempo se era dia de chuva. Algumas vezes o ônibus velho quebrou e eu fui em socorro, lotando o carro com Carol, Júlia e quantos coubessem . Quando escurecia, lá para seis horas eu e Quinha ficávamos inquietos até aparecer lá no início do caminho as duas figurinhas, saltitando, correndo. Que alívio! O jantar era servido, e no tempo de mangas Carol não dispensava saborear uma ou duas lá pras oito horas. Mais ou menos nesse horário Júlia ia ao encontro da avó que estrategicamente já lhe esperava sentada na rede. Não demorava muito e meu anjo adormecia. Carol saía da sala depois do Jornal Nacional, proibida de ver a novela das oito ia para o quarto com Paquita e às vezes também com Alice (assim como Paquita uma das auxiliares meio filha de Quinha) contar e ouvir estórias. Às vezes um silêncio se instalava no quarto, era sinal que as três haviam adormecido. A rotina de Carol e Júlia no sítio era um previlégio, me lembro agora do velho Junot de Oliveira quando disse:
“...saiam do concreto e vão para o mato, porque lá vão encontrar muitas respostas. O que me entristece na vida urbana é que a pessoa, o jovem se afasta do sagrado, cai no consumo e não tem saída...
.....O asfalto, o concreto, isso impede o ser humano, bicho-homem, de receber determinadas emanações que vem das arvores, de mato e canto de passarinho...,
Sempre um ou mais tipos de frutas, leite do peito da vaca para mesa , ar puro, flores, pássaros e os macaquinhos (micos) que elas gostavam tanto de observar. Alimentar as galinhas, recolher os ovos, correr, subir em árvores. Um fato engraçado aconteceu. Vinha chegando em casa e ouvi Carol chorando, ouvia mas não via. Primeiro perguntei o motivo do choro, a avó tinha lhe dado uma palmadinha pelo seu ataque desproporcional a minha acessora Júlia. Sim... mas cadê Carol? Estava lá, chorando sentada numa galha do pé de umbu-cajá. Vai ser difícil esquecer o entre e sai pela cozinha e as chegadas de surpresa da avó na roça usando sempre a mesma expressão:
Quem mandou você cativar? Júlia quer lhe ver.
Lá ia eu largar o que fazer para carregar Júlia, manhosa, ficava com os bracinhos pra cima até eu pegar.
As meninas foram embora! Mas antes de sofrer com a saudade vem o consolo.
As meninas voltaram para os braços da mãe!
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