sábado, 8 de junho de 2013

Linhas sobre nós e os nossos nós.

Débora Andrade
 
Eu sei que não foi mentira. Eu sei que nos amamos como se fossemos morrer no outro dia, mas levantando preces para que fossemos eternos. E seríamos eternos apaixonados, um pelo outro. Seríamos só nós dois. Porque o mundo, parecia figurante na nossa história. Escrevemos páginas lindas, cheias de amor. E agora você simplesmente me solta, e me manda nadar, me diz que talvez, nade comigo de novo, um dia, mas que não sabe. Você vem e me diz pra sorrir, mas os teus sorrisos não me acompanham, os teus braços não estão mais me envolvendo, o teu corpo e o meu, separados. E eu nado, e sorrio, e vivo, olhando pra você, na praia, com um sorriso tímido, como o de um espectador que pouco ou quase nada me conhece. Aquele sorriso de quem se foi, mas espera que eu entenda que da praia, ainda me vê, vez ou outra, mergulhando. E eu nado, e sorrio, e não quero te devolver um sorriso tímido, porque soa falso. Você me conhece tanto. E agora, agir como estranhos é, estranho. E doloroso. Sabe, talvez este seja o último escrito sobre você. Entretanto, eu viveria cem anos escrevendo sobre o seu sorriso, sobre cada parte de você. Sobre nós. Mas tantas linhas não cabem entre sorrisos tímidos, entre estranhos. E você pede que eu cuide da minha saúde, e eu cuido, porque sempre fiz o que você pedia, só porque era mesmo o melhor a se fazer. Você só errou em desistir de nós. Quando você me pede pra viver, quando me fala para não negligenciar a minha saúde, penso no quanto a minha cura está em você. Só que, eu, eu estou no mar, nadando e nadando, e você na praia. E eu não consigo chegar até você, porque você me olha como quem quer que eu fique no mar. E eu não resisto às suas vontades. Penso que sempre vou te amar, e talvez sim, eu tenha outros amores, esse alguém melhor do qual você fala, mas tenho a impressão de que você nunca sairá de mim; e não falo das memórias, falo de você assim, inteiro, o homem para o qual entreguei o meu amor. Eu nunca desistiria de nós. Não acho que eu seja melhor do que você por isso, afinal, sempre achei que você era a melhor parte de mim. Você era o amor, e pra mim, o amor é tudo. Você foi o meu tudo. Por isso me sinto vazia e triste. E me sinto pouco, como se eu não fosse suficiente pra mim. Eu deveria ser, sabe? E estou tentando ser. Sei de um monte de coisas, racionalmente. Quero dizer, a minha razão me aponta diversas teorias, mas na prática, é só você. E não é. Nem somos mais. Estou nadando sozinha. Mas, continua sendo você. Eu te olho na praia, e quase esqueço de nadar, de tanto que me dói o fato de você não estar comigo. Mas então eu nado mais, porque você não teria sequer esse sorriso tímido se visse que me afoguei. E mais uma vez, é mais por você do que por mim, que nado. Às vezes sinto uma câimbra, outras me falta o ar, então, eu me agarro em qualquer coisa, pra não me afogar. Desidratada, machucada, mas sem poder voltar, sem descanso, sem você pra me amparar, pra ser o meu salva vidas, o meu porto seguro. Me desculpe se estou tão fraca agora. Me desculpe por não saber nadar direito, nem sorrir direito, ou por ter deixado, já sem forças, que tudo me abatesse ainda mais. Me desculpe pelas oscilações, é que tento ser forte, caio de novo, mas vou levantar, porque é o que você me pede. E eu não resisto. Porque também é o que preciso, porque não posso caminhar na praia ao teu lado, já que me coloca na água de novo, com toda a sua delicadeza que me insulta. Você é docemente bruto. Como pôde desistir de nós? Nos amamos. Amamos, no passado e também no presente. Mas como podes amar assim? Eu nunca soube te amar sem querer te ter. Agora o faço porque não me couberam escolhas. Isso é tão arrasador, talvez humilhante, mas não importa. Se a minha vergonha for amar, eu a aceito. E se estou assim, triste, não é por amor. É pela ausência dele.

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