sábado, 19 de dezembro de 2015

DESEJO DE SER CHUVA

LUIZ FERNANDO

Se me perguntassem o que  eu seria na próxima vida
Respondo sem demora: 
-----CHUVA


 Queria ser chuva Regar as plantações e fazer florescer fruto , flor
 Matar a sede, encher rios e mares
Ser garoa nos  dias calmos
 Ser tempestade nos dias de raiva
Cair pequena, frágil, mas unida ser grande bonita de se ver
Chuva pra ser foto de exposição
Pra ser apreciada da janela
 Chuva pra ter meu som sendo reproduzido em todas as línguas
 Chuva para molhar as lagrimas e confundir a tristeza
Mas sobretudo queria ser chuva, para nos instantes que eu mais preciso molhar a pele de meu amado, sentir nossas temperaturas se fundirem e estar com ele quando o sol não nascer.
Queria ser chuva para penetra-lo a alma e os poros e sentir sua essência mais fiel
 Estar em gotas para senti-lo inteiro e envolve-lo por completo até que ele faça parte de mim.
Se pudesse escolher queria se chuva, mesmo vendo você de longe nos dias nublados isso já me  faria feliz.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

DESEJO DE SER AVE

Gaivotas fazem é escorregar pelo céu. Gosto de ver. Liberdade elas lembram. Mergulham no nada e tem tudo. Nem o nome “gaivota” precisam. Dá vontade de ser pássaro.

Médico e louco só um cura o outro, e acho por isso só tenho um pouco de louco para me curar sozinho. Certa vez quis me curar sem asas de um mundo com peso de pequenos problemas, medido em contas vencidas, amores perdidos, um time de pernas de pau e de gente sangrando na cidade maravilhosa. A bula estava lá, esticado como uma segunda-feira, no sofá: o gato vivendo a sua felina vida sem contrariedades – desejei ser um. Ser um gato de verdade, daqueles que miam. Daqueles, como se diz por ai: têm sete vidas – porque gato de ser bonito, isso já sou! Ser gato de me ir por aí, noites sem muros, sem escuros, ronronando a atrair gatinhas, sabendo amar até de arranhões. Ah, uma vida a bel-prazer, uma vida que se caísse em qualquer circunstância de queda, seria de pé, sem sentir a dor da falta de autoconfiança. Mas como tudo que passa, demovi-me da idéia de ser bichano. Considerei, e se me castrassem? Há gentes que são cruéis com os animais. Sabe como é, gato que não é inteiro só tem prazer em comer rato. Não quis ser gato mais... Vai que a minha dona é a Chica!

Mas não sou louco e nem vou dizer por aí que estou feliz. É que quando a gente quer ser bicho a razão já não serve mais pra nada. Então eu não li nos jornais o que disse uma criança da favela do Alemão? “Sonho é ser um pássaro e voar da favela”. Nas palavras de W. de treze anos, bastava ter tido a sorte de nascer passarinho “para poder voar para bem longe da favela”. Assim, ele se livraria da violência na Favela da Grota, no Complexo do Alemão, em Ramos. Os bichinhos, que são gente, estão desorientados, com medo. Muitos deles não querem ir para escola porque não conseguem se concentrar. “Ficam agressivos – feito bichos mesmo – deprimidos e acabam fazendo xixi e dormindo sem querer”. Bastava ser pássaro – uma gaivota – para deslizar no céu do Rio de Janeiro. E quem sabe ver a maravilhosa cidade que nunca se vê a não ser na televisão?

Não me digam que é melhor encarar a vida de cara, tête-à-tête, sem farmácia e fantasia, porque não se trata de enfrentar a vida – é a morte que se encara – não é o coitadinho do bicho papão que se tem pela frente.

Não se pode ser gente em lugar que se mata até os sonhos das crianças. Porque ser gente não existe coisa melhor. Melhor do que ser bicho que voa de bem perto para bem longe, porque gente tem sonho.

Não há nada mais belo do que ser gente na melhor acepção da palavra: gente que não rouba do erário público, que não escandaliza no senado, que não emprega parente, que não falta com o respeito. Gente que não é brega e subdesenvolvida como aqueles que puxam saco dos poderosos, aqueles que não trabalham e recebem, que xingam no trânsito, gente que não está nem aí e maltrata bichos.

Eu por mim nunca vi nada mais belo do que gente simpática que pede desculpas no trânsito e gente que dá bom dia pro porteiro. Eu fico apaixonado e feliz uma semana inteira e até mais quando vejo gente assim de verdade.

Para os que ainda não são, abraço do amigo urso!


segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

OUÇO


Manuela Barro

Ouço-te na rouquidão da noite

nos passos lentos do luar.

ninguém diria que te escondes

na luz das folhas

pernoitando nos mastros sem marés.

não há vento,

nem sequer lamento de asas.

quem és?

o princípio e o fim do tempo,

o ressonar do crepúsculo,

água viva em movimento.

tudo adormece à tua sombra

não o azul noite

vigiando a água dura

escorrendo, calma, a meus pés.

 enquanto o silêncio me atura.

 Eu Poético VII

Sonia M

Vê como passa o tempo
como a chuva teima em esconder a
luzque deixas quando passas
como são longe os caminhos
como as distâncias
queimam todas as pontes
deixando as margens numa solidão aguada
e vê como tudo se altera como tudo muda
ou como tudo regressa
quando uma pequena brecha na
memória se abree um pequeno vento
se escapa e te sopra
uma suave melodia antiga...
e como se não existisse outro tempo
a não ser o das madrugadas
onde os olhos se abraçam
e as margens cantam
inventas uma rua regressas
ao iníciode um tempo sem tempo
e fazes o que sempre fazias- danças!