Do blog Sete Ramos de Oliveira
(AD)
Nove da manhã. Dia bonito, poucas nuvens no céu. Um sol tímido de inverno trava escaramuças com uma brisa gelada, filha do vento noturno que cantou até a madrugada.
Após o café da manhã, saio ao quintal para o ritual sagrado em dias claros de inverno, ritual que tem o nome mineiríssimo de "quentar sol".
Celebro em comunhão com os pássaros e as plantas o calor e a luz aos quais só damos valor nesta época de frio; e ao erguer os olhos na vã tentativa de calcular os minutos antes que a próxima nuvem se interponha entre o Sol e o centro do universo - no caso, eu - eis que me deparo com ela.
É incrível que haja pessoas que nunca perceberam que ela é visível durante o dia. Entre essas, um filósofo russo que sustentava que "a Lua é mais útil que o Sol, pois brilha à noite, quando tudo está escuro, enquanto o Sol brilha de dia, quando tudo está claro". Esqueci-lhe o nome (citado por George Gamow, em "Nascimento e Morte do Sol"); e se você souber, não mo diga. Não quero me dar ao trabalho de esquecê-lo novamente.
A Lua é visível durante metade do dia nas proximidades de suas fases de quarto-crescente (à tarde, a leste) ou quarto-minguante (pela manhã, a oeste). Tirei a foto às nove e pouco e deu-me vontade de compartilhar com os amigos. Assim, abreviei (com pena) o ritual de "quentar sol" e entrei para esquentar o computador e os neurônios.
Estava na metade desta crônica quando o Daniel veio me avisar da visita do agente mata-mosquito da prefeitura. Após acompanhá-lo na vistoria (tudo certinho), lembrei-me que o Daniel fotografa melhor que eu e chamei-o para fotografar a Lua.
- A Lua?! Agora? - estranhou ele.
Casa de ferreiro, espeto de pau... só então eu percebi que ele fazia parte da multidão que nunca vira a Lua de dia. Levei-o ao quintal... mas passava das onze e a Lua tinha já se escondido no horizonte oeste.
Voltamos para dentro de casa, eu, frustrado, ele, balançando a cabeça, com pena desse avô que, por conta da idade, anda vendo coisas, como a Lua no céu em pleno dia...
Não faz mal. Amanhã ela ainda estará lá. E se o céu estiver claro, e se o Daniel estiver acordado, e se as pilhas da máquina estiverem boas, conseguiremos uma foto melhor e o Daniel parará de balançar a cabeça. Se, se, se...
Por agora, contente-se com essa foto desfocada. E se avistar a Lua amanhã pela manhã, lembre-se de mim. Eu provavelmente estarei olhando para lá, também.
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