quarta-feira, 6 de junho de 2012

SOB O CÉU DE UM DOMINGO CINZENTO





O céu pintado de cinza, estranho para uma tarde de domingo que só combina com o Sol feito laranjão, alumiando tudo. Melhor parar de espiar pra cima, inquirindo o céu e sua indecisão de se fazer chuva ou quentura... Talvez os céus tenham um signo no zoodíaco e o teto celeste sobre a minha cabeça deve bem ser libriano.

Rodolfo disse agorinha que o “se” não combina comigo. Falou pra eu exterminá-lo do meu vocabulário. Amigos vêm mesmo com essa função no seu “vide bula”? Sim. Amigos têm o dom de nos fazerem lindas e fortes quando menos pensamos que o somos. Têm olhos lindos e generosos os verdadeiros amigos. E compreendem. E acolhem. E mesmo por efêmeros instantes, tudo parece possível.

Conversávamos sobre o meu “assoprar de brasas” acerca do retorno aos estudos. Deixei pra trás sem tanto remorso, é verdade. Mas também é verdade que nunca adormeceu de vez o desejo de voltar. Então ressurgem os monstros, os inventados por mim, cultivados além da minha vontade... Bem vivos. Contei sobre quando bem lá atrás, nas manhãs de domingo, eu chegava à missa das crianças munida de muletinhas de madeira, entrava sempre pela porta lateral. As bichinhas faziam uma zoada da gota no assoalho, então no primeiro “toc” da minha ilustre entrada, o povo todo virava o zóio pra mim... Nessa hora eu só queria ser uma galeguinha invisível feito os super-heróis dos desenhos animados, como não era possível, morrer era o desejo seguinte. E iria pro céu, né não? Afinal, morrer na igreja haveria de ter alguma serventia.

A Cida me ligou enlouqueCIDA (trocadilho infame, eu sei) pra eu ler o comentário dela na outra postagem e retirá-lo caso tivesse sido rude acerca do que falou sobre faculdade à distância. Não retirei. Não foi rude, apenas expôs o seu ponto de vista  sobre um tema que ainda é motivo de muito preconceito. Não foi o caso da Camila, obviamente, essa visão preconceituosa. Compreendi sua fala a respeito do dia-a-dia que só uma faculdade presencial pode proporcionar. A questão fundamental pra mim, não só neste caso, mas em tudo nessa maluquice de vida, é observar os pontos de vista, as situações, sob várias possibilidades. Certa vez, estavam aqui em casa a Cida e a Cleide, sua irmã, num papo-incentivo sobre a minha retomada a um curso universitário. Eu, dotada de uma sutileza descomunal, falei: “é, vou fazer uma dessas  faculdades que não servem pra nada, à distância”... Na sala estava também uma tia em comum, que prontamente falou, enquanto me lançava uma chicotada no olhar: “elas estão cursando uma dessas, Milene”... Os preconceitos são assim, às vezes generosos, surgem do nada pra que tenhamos a possibilidade de afogá-los ou trancafiá-los em inviolável masmorra. Os meus, se desavisados aparecem, não fujo ao embate.

Se eu não conhecesse outras pessoas formadas pela tão falada faculdade lá de longe, só em saber da incrível profissional que é essa minha prima, já seria motivo suficiente pra eu devotar-lhe toda confiança. Esses dias outra amiga estava à beira de um surto por conta de tanto trabalho a ser feito no seu curso de Administração à distância. A conclusão (de vez em quando consigo alcançar uma) é de que quando há dedicação e vontade, sejamos Cida, Camila ou Neusa (esse amiga semi-surtada), amemos as letras, baratas bonitas ou gestão administrativa, bacaninha mesmo é assoprar a brasa, engolir o saber com voracidade assombrosa, seja lá como ele se apresente.

Filosofia de quinta, quem disse? A minha é de domingo.

Há um céu libriano esperando por mim. Vou ali, encará-lo. Talvez ele me chova ou apenas me sopre vento... O que mais esperar de um domingo cinzento?


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