O céu pintado de cinza, estranho
para uma tarde de domingo que só combina com o Sol feito laranjão, alumiando
tudo. Melhor parar de espiar pra cima, inquirindo o céu e sua indecisão de se
fazer chuva ou quentura... Talvez os céus tenham um signo no zoodíaco e o teto celeste sobre a minha
cabeça deve bem ser libriano.
Rodolfo disse agorinha que o “se”
não combina comigo. Falou pra eu exterminá-lo do meu vocabulário. Amigos vêm
mesmo com essa função no seu “vide bula”? Sim. Amigos têm o dom de nos fazerem
lindas e fortes quando menos pensamos que o somos. Têm olhos lindos e generosos
os verdadeiros amigos. E compreendem. E acolhem. E mesmo por efêmeros
instantes, tudo parece possível.
Conversávamos
sobre o meu “assoprar
de brasas” acerca do retorno aos estudos. Deixei pra trás sem tanto
remorso, é
verdade. Mas também é verdade que nunca adormeceu de vez o desejo de
voltar.
Então ressurgem os monstros, os inventados por mim, cultivados além da
minha
vontade... Bem vivos. Contei sobre quando bem lá atrás, nas manhãs de
domingo,
eu chegava à missa das crianças munida de muletinhas de madeira, entrava
sempre
pela porta lateral. As bichinhas faziam uma zoada da gota no assoalho,
então no
primeiro “toc” da minha ilustre entrada, o povo todo virava o zóio pra
mim...
Nessa hora eu só queria ser uma galeguinha invisível feito os
super-heróis dos
desenhos animados, como não era possível, morrer era o desejo seguinte. E
iria pro céu, né não? Afinal, morrer na igreja haveria de ter alguma
serventia.
A Cida me
ligou enlouqueCIDA
(trocadilho infame, eu sei) pra eu ler o comentário dela na outra
postagem e
retirá-lo caso tivesse sido rude acerca do que falou sobre faculdade à
distância. Não retirei. Não foi rude, apenas expôs o seu ponto de vista
sobre
um tema que ainda é motivo de muito preconceito. Não foi o caso da
Camila,
obviamente, essa visão preconceituosa. Compreendi sua fala a respeito do
dia-a-dia que só uma faculdade presencial pode proporcionar. A questão
fundamental pra mim, não só neste caso, mas em tudo nessa maluquice de
vida, é
observar os pontos de vista, as situações, sob várias possibilidades.
Certa
vez, estavam aqui em casa a Cida e a Cleide, sua irmã, num
papo-incentivo sobre a minha retomada a um curso universitário. Eu,
dotada de uma sutileza descomunal, falei: “é, vou fazer
uma dessas faculdades que não servem pra nada, à distância”... Na sala
estava também uma
tia em comum, que prontamente falou, enquanto me lançava uma chicotada
no olhar:
“elas estão cursando uma dessas, Milene”... Os preconceitos são assim,
às vezes
generosos, surgem do nada pra que tenhamos a possibilidade de afogá-los
ou
trancafiá-los em inviolável masmorra. Os meus, se desavisados aparecem,
não
fujo ao embate.
Se eu não conhecesse outras
pessoas formadas pela tão falada faculdade lá de longe, só em saber da incrível
profissional que é essa minha prima, já seria motivo suficiente pra eu devotar-lhe
toda confiança. Esses dias outra amiga estava à beira de um surto por conta de
tanto trabalho a ser feito no seu curso de Administração à distância. A
conclusão (de vez em quando consigo alcançar uma) é de que quando há dedicação
e vontade, sejamos Cida, Camila ou Neusa (esse amiga semi-surtada), amemos as
letras, baratas bonitas ou gestão administrativa, bacaninha mesmo é assoprar a
brasa, engolir o saber com voracidade assombrosa, seja lá como ele se apresente.
Filosofia de quinta, quem disse?
A minha é de domingo.
Há um céu libriano esperando por
mim. Vou ali, encará-lo. Talvez ele me chova ou apenas me sopre vento... O que
mais esperar de um domingo cinzento?
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