terça-feira, 12 de junho de 2012

Sê para a Ação


Sem o teu colo de mãe postiça teria hibernado na menina-perdida-de-si que dilacerava. Você então pôde calçar (m)eus sapatos e eu pude amar(r)á-los. Fiz um laço bonito e ele era vermelho, da cor da vida misteriosa e pungente em mim. Fiquei linda vestida de vida! Escovou os meus cabelos loiros cacheados com paciência e me disse que eu poderia usar fita. E eu busquei todas as cores. Elas estavam guardadas naquele baú velho.

Com meus próprios passos saí andando em busca do meu manancial, e ele tinha preço. Puerilmente pude atravessar o caminho, as traves, e encontrar minhas linhas entremeio a tanto tecido. Foram dias de chuvas e trovoadas. Sabe as agulhas e tesouras...? O aço atrai raios. Deu medo! Mas minhas pernas trêmulas ainda podiam me conduzir e minhas mãos davam formas aos estopos. Lentamente e com cuidado pude escolher cada trama. A cada ponto furei-me a pele. Mas era eu comigo. Cresci! Pude ouvir a criatura muda e os fantasmas que ela trazia. Não teve um dia em que Ela não estivesse lá, até mesmo onde parec(e)ia não estar. Quantos foram Eles os meus fantasmas? No centro, junto aos emaranhados, eu estava lá... desatando nós, cosendo a pele. Pude costurar o que havia remendo e atear fogo nos panos velhos. Me vesti de mulher e do meu Desejo. Pinchei os trapos. Desobriguei-me da simbiose caótica e busquei a mim, tão imperfeita e digna de amor. Prescindi do amor que nunca tive e que temia perder. Deixei-o para si e agradeci pelo que não recebi. Do desamor eu compreendi facilmente, já o amor para sempre me parecerá uma esfinge. Lembrei do encontro comigo, quando estive à beira do abismo e pude me aproximar do nada. Tudo era asfalto e cinza como os sepulcros; gélido e sem sentido. Tudo era mortífero e eu latejava como uma borboleta que caída no chão, buscava forças para bater as asas feridas. Escolhi  então a incansável busca do segredo, mesmo para sempre ele estivesse perdido. Quero estar sempre diante do mistério da vida e do mistério do amor, apesar de toda transitoriedade. Como as ondas do mar que em vão buscam contornar a areia, escolhi sentir, mesmo sabendo que nunca darei conta de tudo e que nem sempre as coisas farão sentido. Me devolvi às letras... Os versos me organizaram, ouvi meus ecos sedentos e minha mudança de posição me deu movimento. Quem eu sou será uma constante, quem eu serei, nunca saberei, mas quero estar comigo. E que o outro seja bem vindo posto que nem que eu tenha todos os sentimentos do planeta, poderei amar sozinha. E, mesmo que haja intencionalidade, que sejam bem vindos os desinteressados. Me absolvo das amarras, dos castigos, das idolatrias. No meu baú guardo as re-edições da minha história, guardo as saudades que não pesam, guardo a gratidão de ter vivido. Sigo Atravessando tentando não ser trave, pois a  Travessia é o que sou...

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