quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

ANTES QUE O MUNDO ACABE





 

19.12.12

Do Blog: Eu é um outro
não vou fingir felicidade
de fim de ano,
que essa felicidade
sempre foi uma espécie de ilusão.
desde quando o homem
inventou a televisão e as revistas,
essa felicidade e a margarina
sempre foram duas obrigações
- depois do facebook,
certas ilusões passaram a durar o ano inteiro.
não vou compactuar com as mentiras digitais.
não vou acender velas para os gênios
vivos e mortos da tecnologia.
nem para os cérebros articuladores
por trás dos veículos de comunicação.
quando o mundo acabar,
nenhum computador sobrará
para contar nossas histórias.
nenhum pen drive, nenhum tablet
nenhuma revista, nenhuma televisão...
e mesmo que sobrassem, resistentes ao fim,
para nada serviriam.
se um tsunami invadir esta cidade,
transbordando a Lagoa do Violão aqui ao lado,
a Maria da feira e eu
teremos a mesma expressão de desespero sobre o rosto.
ninguém na cidade se preocupará
em salvar sua câmera digital antes da inundação.
não sobrará nenhuma fotografia da morte
e do sangue das horas derradeiras.
os pescadores nos barcos, os comerciantes,
os advogados, as cabeleireiras,
as donas de casa, os velhos, as crianças,
os padeiros, as faxineiras,
os garis, as margaridas, os professores,
os médicos, os enfermos no hospital,
e até os feirantes, que não estarão trabalhando
na sexta-feira do dia vinte e um,
todos irão afogar sob as águas
misturadas do mar e da lagoa,
chocando-se em tudo o que vier
pelo caminho com a cataclísmica enxurrada.
quando o mundo for acabar,
é certo que ninguém estará sorrindo.
e que até os ateus, descrentes de um juízo final,
nessa hora gritem "Oh, meu Deus!"
quando o mundo for acabar,
todos os papéis se transformarão em nada, todos os livros,
todos os pensamentos que foram registrados,
todas as ideias não servirão nem para embrulho de peixes.
que sequer haverá quem coma peixes.
que sequer haverá quem possa ler
qualquer coisa que já tenha sido escrita.
- que sequer haverá quem.
quando o mundo for acabar,
ninguém estará fazendo a social na rede.
a desgraça e o desespero
serão as únicas coisas compartilhadas.
nossos pais, irmãos, tios, primos,
amigos e amigos dos nossos amigos,
todos teremos apenas caos e desordem,
e nada disso será motivo para curtir.
quando o mundo for acabar,
haverá luzes e sons pelos céus
muito mais impressionantes
do que quaisquer fogos de artifício.
ninguém assistirá ao espetáculo estourando champanhes
nem desejando ao outro que o próximo ano seja melhor.
- um próximo ano simplesmente não virá para mais ninguém.
nem para a natureza como a conhecemos
nem para os bichos, e nem para as coisas feitas pelo homem
para as pirâmides, para o Cristo Redentor,
para a Torre Eiffel, para o Machu Picchu,
para as estátuas da Ilha de Páscoa,
para o Palácio do Planalto, para a Casa Branca,
para qualquer tipo de casa...
tudo se transformará em um imenso nada,
e depois haverá apenas silêncio.
antes que o mundo acabe,
e que a água do mar ou uma pedra do espaço me cale,
confesso: não fui santo nem demônio.
e como todos os outros animais racionais,
às vezes apenas uma espécie de macaco
quase todo pelado, arrogante e pretensioso.
às vezes ingênuo, buscando algum conforto
para conseguir habitar meu próprio corpo,
como habitam em si mesmos
os animais irracionais, livres e despudorados.
nunca dei nome aos meus sentimentos,
e embora já tenha vivido algumas ilusões,
hoje, perto do fim,
prefiro não fingir nenhum tipo
de felicidade ou tristeza,
porque nunca gostei de me dizer
triste ou feliz,
alegre ou melancólico...
tudo isso sempre foram códigos
que usamos para representar papéis.
em verdade, agora apenas esclareço:
o que sempre gostei foi de viver.

sábado, 15 de dezembro de 2012

VONTADE LOUCA DE VIVER FELIZ !


sábado, 17 de novembro de 2012


João Almeida

Quarta feira passada estava semeando, uma brisa suave passava fazendo graça, caí em mim e senti que eu estava feliz, por vários motivos, havia um sinalzinho de que eu poderia me sentir assim, feliz ! mas tambem pela obcessão que tenho de lutar sempre para estar feliz e de fazer a minha parte para a felicidade dos outros. Foi então que soltei a voz como quem queria mostrar ao mundo um sentimento. Comecei a cantar em plenos pulmões enquanto semeava, o meu canto se espalhou e pessoas prestaram atenção nos meus versos e se contagiaram, riram, e até me ajudaram na cantoria, houve quem dissesse que o meu canto alegrou  a tarde. As horas passaram e na quinta-feira eu estava completamente diferente, triste ! logo me lembrei de um livro que li  a uma década  atrás, de autoria da Condessa  de Ségur : JOÃO QUE CHORA, JOÃO QUE RI . Pois é,  eu sou um João assim, apesar de ter disponível na garganta o sorriso,  quando menos espero sou convidado a chorar.  Só não consigo entender  por que ? E não entendo por várias razões, mas prefiro  não discutir nenhuma,  é melhor....não alivia minha tristeza, mas poupa meu coração pois  a luta continua. Há algum tempo atrás, li um livro que comparava a vida a uma viagem de trem. Isso mesmo, a vida não passa de uma viagem de trem, cheia de embarques e desembarques, alguns acidentes, surpresas agradáveis em alguns embarques e grandes tristezas em outros. Quando nascemos, entramos nesse trem e nos deparamos com algumas pessoas que julgamos, estarão sempre nessa viagem conosco : nossos pais. Infelizmente, isso não é verdade; em alguma estação eles descerão e nos deixarão órfãos de seu carinho, amizade e companhia insubstituível... mas isso não impede que, durante a viagem, pessoas interessantes e que virão a ser super especiais para nós, embarquem. NO MEU TREM EMBARCOU UMA MORENA DE OLHOS MIUDOS, A QUEM DEDICO SEM PUDOR UM SENTIMENTO  QUE ENTENDO  MUITO MAIOR DO QUE AMOR, POIS VEJO  O  AMOR CONVENCIONAL  ÀS VEZES MUITO  MAL EMPREGADO  E QUE  NÃO TEM NADA  DO QUE  EU SINTO  POR MINHA MULHER. PORÉM ISSO SÓ NÃO BASTA....A VIDA ME COBRA O QUE TALVEZ EU NÃO TENHA COMO PAGAR, E ASSIM SIGO TENTANDO USUFRUIR DO DIREITO DE SER FELIZ.  
Mas vamos  a viagem do trem....
Muitas pessoas tomam esse trem apenas a passeio. Outros encontrarão nessa viagem somente tristezas. Ainda outros circularão pelo trem, prontos a ajudar a quem precisa. Muitos descem e deixam saudades eternas,  outros tantos passam por ele de uma forma que, quando desocupam seu acento, ninguém nem sequer percebe.
Curioso é constatar que alguns passageiros que nos são tão caros, acomodam-se em vagões diferentes dos nossos; portanto, somos obrigados a fazer esse trajeto separados deles, o que não impede, é claro, que durante o trajeto, atravessemos com grande dificuldade nosso vagão e cheguemos até eles... só que, infelizmente, jamais poderemos sentar ao seu lado, pois já terá alguém ocupando aquele lugar.
O fato é que  fui acometido por um"vuco-vuco"  na minha cabeça,  me vi feliz,  muito feliz e depois..... e nessa inconstância  perversa  me lembrei  de uma poesia que postei no meu blog  O CANTO DO TIÊ.

Não sei porque eu tô tão feliz
Não há motivo algum pra ter tanta felicidade
Não sei o que que foi que eu fiz
Se eu fui perdendo o senso de realidade
Um sentimento indefinido
Foi me tomando ao cair da tarde
Infelizmente era felicidade
Claro que é muito gostoso
Claro que eu não acredito
Felicidade assim sem mais nem menos é muito esquisito
Não sei porque eu tô tão feliz
Preciso refletir um pouco e sair do barato
Não posso continuar assim feliz
Como se fosse um sentimento inato
Sem ter o menor motivo
Sem uma razão de fato
Ser feliz assim é meio chato
MAS EU PLANTEI UMA FELICIDADE DE VERDADE, SÓ NÃO SEI  QUAL SERÁ A HORA DA COLHEITA .

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

JOVENS ONTEM E HOJE


      
          Ser jovem era amar a vida, cantar a vida, abraçar a vida. Era ter altos e baixos, entusiasmos, desalentos, sem perder a coragem de lutar, de prosseguir. Era gostar de leitura, escrever diários, às vezes, copiar poesias de amor e remetê-las ao namorado, à namorada, sem assinatura própria.
          Ser jovem era ter os olhos molhados de esperança e adormecer com problemas, na certeza de que a solução viria no dia seguinte. Era amar a simplicidade, o vento, o perfume das flores, o canto dos pássaros. Ter ódio de guerra, de ser manipulado.
          Ser jovem era vibrar com o gol do time, emocionar-se com filmes de ternura e simpatizar secretamente com alguém que viu só de passagem. Planejar férias no fim do ano sentir-se um pouco embaraçado diante de estranhos, não perder o hábito de encabular, tremer diante de um exame.
         Ser jovem era continuar gostando de deitar na grama, de fazer parar o relógio quando o encontro era feliz, caminhar na chuva, iniciar cursos de Inglês e violão. Era não dar muita bola ao que diziam e pensavam, mas irritar-se com as calúnias, a ingratidão.
          Ser jovem era permanecer descobrindo, amando, servindo. À luz de alguma estrela. Era ter coragem de denunciar, mesmo na turbulência, navegar, redescobrir, sonhar e comprometer-se.
          É uma pena que hoje os jovens não são assim. Como definir o jovem de hoje? Muitos são mais um número na estatística no consumo de drogas e bebidas. Para a maioria a rotina é sempre igual, acorda com os gritos da mãe, ou nem acorda pela ausência dela. Há falta de valores e muitos dizem que eles são o espelho da nossa sociedade. Os sonhos já são impossíveis e o lutar por eles perdeu a graça.
          Infelizmente nossos jovens estão assim, descrentes de tudo e os poucos que querem o melhor não têm oportunidade. O primeiro emprego só consegue se tiver experiência. E a falta de oportunidade muitas vezes leva a prostituição e as drogas. A frustração e a carência afetiva, muitas vezes justificam a busca pelo prazer desorientado.
          Pergunto-me muitas vezes, quem serão os futuros professores, médicos, engenheiros, políticos? E confesso ter medo da resposta.

VELHO MUNDO



(AD)  COLHIDO NO BLOG RETALHOS DO QUE EU SOU

TANTO  JÁ  ME ENTREGUEI AOS SENTIMENTOS
TANTO JÁ ME EMOCIONEI
ESTREMECI A ALMA
ANDEI DE  MÃOS  ABERTAS EM PALMA
DEIXEI-ME PENETRAR  PORO A PORO CADA SENTIR
SOLTEI AMARRAS, ABRI JANELAS, DEIXEI-ME ILUMINAR
PERMITI QUE TODA  CANÇÃO  ME  CHEGASSE AO CORAÇÃO
CANTEI MEUS VERSOS E OUVI OS VERSOS DO UNIVERSO
QUIS VOCÊ PERTO
QUIS ME APROXIMAR
SENTI BEM DE PERTINHO
ESTA MINHA FORMA DE AMAR
QUE CONVIDA TODOS PARA PARTILHA
TUDO TEM O DOM DE ME ENCANTAR
ACABEI DE VER AS LUZES   E AS FLORES  DO VELHO MUNDO
MAS AS FLORES AQUI DENTRO E AS LUZES QUE INSISTEM EM NÃO SE APAGAR
SÃO AS MAIS VISTOSAS E  DESEJÁVAIS QUE VEJO
ATÉ QUANDO FUJO E DESEJO SENTIR MENOS, ACENDE-SE OS CANDEEIROS E
AS FLORES DESABROCHAM, NÃO HÁ COMO FUGIR DO QUE SOMOS!
VELHO MUNDO SÓ A PASSEIO, AQUI DENTRO TUDO SE RENOVA
SINTO  FALTA DE SENTIR

domingo, 18 de novembro de 2012

Sob medida


2 de novembro de 2011

(AD)


Eu quero uma companhia de alegrias e fadigas. Que ande comigo e ajude a manter meu coração descalço. Que nossas fotografias abram os olhos para nunca parecerem indiferentes.  Nenhuma torre será alta demais e  nenhuma fada sera expulsa do conto.  Vamos  decretar  que as estrelas caem de maduras,  por isso o pedido precisa ser rápido, para não apodrecer no esquecimento.  Os ciúmes podem ser disfarçados e  os telefonemas do tipo "quero te ver".  Que a gente faça arte andarilha com nossos chinelos desempedidos de caminhar. Quero mudar o sabor do vinho ao beber junto. Confessar uma culpa que nem carrego, se isso o fizer sorrir. É preciso que não haja minutos de silêncios glaciais e que a nossa janela é que faça a paisagem. Que a gente não deixe a vida ser carrasca de nos gastar o tempo sem estarmos juntos. Preciso de alguém que pegue o dia desajeitado e o ajeite num passeio à dois de bicicleta. Que eu durma ao lado do telefone esperando ele tocar.  Uma companhia que tenha fome no olhar e que provoque cócegas nos meus olhos. Alguém que eu deseje ter ao lado ao acordar e que quando me olhe, eu pense: raras vezes na vida, alguém me olhou assim.

Removi a teia de aranha, retirei todos os cadeados e fui andar de bicicleta.


Angelica Lins


Nunca me agoniei com o escorrer do tempo, mas admito meu gosto pelo olhar envolvendo-se com a memória. Cada texto é um início em si mesmo. Assisti a um filme que dizia: “ às vezes tudo que precisamos é de 20 segundos de coragem constrangedora para viver algo muito especial.” O inesperado me trouxe de volta à escrita.  Escrever histórias ou vivê-las?  O que de fato quero que sobreviva através dos meus escritos? Combinei com as letras de arrumar os armários. Organizar o sentir sempre vale a pena, mesmo que o outro desconheça do que se trata nossa linguagem. Deixo de ser e sou a cada texto. Muitos rascunhos ficaram perdidos dentro da bolsa. Outros, ficaram pendurados nas chaves que esqueci na fechadura pelo lado de fora. Já quis muito mais do que cabia em mim, hoje quero apenas não me ensimesmar no estranhamento do é tão meu. Bom mesmo é abandonar os caminhos que nos levam onde não queremos chegar. Resolvi tingir o asfalto com os pneus da minha bicicleta em cenários diferentes. Dia de sol. Sem nenhuma nuvem de chuva no céu. Descobri que de fato, o "pecado" mora ao lado. É uma luxúria tipo escritos de Jorge Amado: "por fora água parada, por dentro uma fogueira acesa." Adorável de ler, sentindo.
 

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Coisas da vida



google

Na minha vida há sempre
uma mala por fazer,
uma viagem que deveria ter sido,
uma poesia que devia ter vindo,
mas não veio.
Há sempre um amigo não feito,
uma festa não curtida,
um show não assistido.
Há sempre uma bronca não dada,
um “Eu te amo” não dito,
um amor não resolvido.
Na minha vida sempre houve
um sapo engolido,
um “não” não questionado,
um poema mal feito.
Sempre houve algo que foi,
mas não deveria ter sido;
algo que poderia ter sido,
mas não foi.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Chuva Silenciosa


Miguel Russowsky






Domingo sem ninguém... A tarde avança
E uma Tristeza vem chegando agora,
e a chuva chove... Chove e não se cansa
Muito solícita a vidraça chora

O meu relógio diz, de hora em hora,
Uma palavra só : - Desesperança !
E a chuva chove lenta, fria e mansa
e mansa e fria não se vai embora

A minha amada , longe, não me escreve..
Corre em meu rosto a lágrima, de leve
e vem borrar o retratinho antigo.

A solidão renova o olhar sizudo..
Chove...Silêncio.. ( e o telefone mudo)
Pois bem, Tristeza, janta aqui comigo !!


Miguel Russowsky (poeta brasileiro)

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

ABRAÇO TAMANHO GG


(AD)

Uma amiga trabalha em um brechó de um hospital, 
como voluntária. 
Certo dia adentrou na loja uma certa
"senhora  bastante obesa", 
e de cara a minha amiga pensou 
que não tinha nada na  loja na numeração dela. 
Se sentiu apreensiva e constrangida naquela  situação,
vendo a senhora percorrer as araras 
em busca de algo que  minha amiga 
sabia que ela não encontraria.  
Ficou angustiada, porque não queria
que a senhora  se sentisse mal 
 pelo tamanho das peças de roupas, 
se sentindo excluída  implícita.  
Naquele momento minha amiga orou a Deus 
e pediu que  lhe desse sabedoria 
para conduzir a situação evitando 
que a cliente se  sentisse excluída 
ou humilhada na sua autoestima.  
Foi quando o esperado aconteceu. 
A senhora se  dirigiu à minha amiga 
e disse tristinha: - “É... não tem nada grande, não é?”
 E a minha amiga, 
sem até aquele momento saber o que  diria,
 simplesmente abriu os braços de uma ponta a outra
 e lhe  respondeu:
 - “Quem disse??? 
Claro que tem!! 
Olha só o tamanho  desse abraço!”
E a abraçou com muito carinho. 
A senhora então se entregou àquele abraço acolhedor 
e deixou-se tomar pelas lágrimas exclamando:
- “Há quanto tempo que  ninguém me dava um abraço.”
E chorando, 
tal qual uma criança a procura de um  colo, lhe disse:
- “Não encontrei o que vim buscar, 
mas encontrei muito  mais do que procurava".
E naquele momento, 
através dos braços calorosos de minha amiga, 
Deus afagou a alma daquela criatura, 
tão carente de amor  e de carinho.

Quantas almas não se encontram 
também tão  necessitadas de um simples abraço, 
de uma palavra de carinho, 
de um  gesto de amor.  
Será que dentro de nós,
 se procurarmos no nosso  baú, 
lá nas prateleiras da nossa alma, 
no estoque do nosso coração,  
também não acharemos
 algo “grande” que sirva para alguém?


A criança que há em mim


 (Clauder Arcanjo)


“Eu sou aquele menino
Que cresceu por distração.”
(Paulo Bomfim)

A criança que há em mim acorda chupando o dedo, com saudade do bico, consolo do fim da noite, no berço da rede branca, de varandas brancas. Em gostosa preguiça infantil. Quando flagrado em pesadelo, o mijo na rede, batismo do medo.
Levanta-se, acorda de olhos ainda fechados, água fria a abrir os olhos para a luz do dia, resquícios de sonho nas remelas a colarem as pálpebras sonolentas. No café, nunca foi de ter fome. O estômago inda não acordara, e o leite com açúcar a passar por entre os dentes cerrados. “Gut, gut, gut. Vamos! Gut, gut, gut.” A voz de minha mãe, Djanira, a me encorajar a esvaziar o copo, grande. “O café da manhã é a mais importante das refeições.” Conselho que, nos dias atuais, repasso credulamente para os meus rebentos.
      A criança que há em mim caminha com timidez em meio a homens e mulheres, fingidamente decididos, a socarem o chão com os seus sapatos apressados, sempre simulando compromissos inadiáveis, quando, na verdade, rodam em círculos, atrás do rabo de si e do nada.
A criança que há em mim adora parar na praça desabitada e sentar, sozinho, no banco mais ao fundo. Sem pressa, para ouvir a sinfonia sem regra dos pássaros. Passaredo a executar a matinê orquestrada. E, do meu canto, flagrar os velhos, presos pelas famílias às molduras das janelas. Seres de olhos capiongos, a catarem reminiscências nos becos e nas ruas, defronte do seu inexpugnável e vazio exílio.
Em torno do meio-dia, a criança retorna para a Rua Mateus Mendes, 75, e abre o portão da casa em Santana chamando pelos irmãos: “Dedé, Baía, Tito, Dr. Stygma! Onde estão vocês?” Lembrança que dói, e como dói.
A criança que há em mim consagra a madorna após o almoço à memória dos antepassados; costume que corre o rio de tantas existências, hábito de carne, espírito e osso. Por todas as gerações. Assim seja, amém. “Não atrapalhem o meu sono!” O aviso diário de Zequinha, o Arcanjo pai. De vez em quando, dado às barulhentas travessuras, o ringir dos armadores. E, “pernas pra que te quero!”, no aviso do Baía; aquele que ficasse para trás seria brindado com a sova do dia. Uma palmada na bunda. Hoje, bem sei, ela doía mais na mão de Zequinha de que em nossas nádegas.
A criança que há em mim sempre gosta de futebol. Futebol do drible certo, do passe preciso, da marcação sem falta, da jogada inesperada a gerar a festa do gol... mesmo sendo um péssimo jogador. A raça a suplantar a magia. No máximo, aplicado zagueiro. “Menino do Catecismo, você nunca foi de bola!”; goza-me o meu terceiro pai, o Chico de Neco Carteiro.
Nas partidas na tevê, sinto muita falta da companhia de Dederardo, de Gordinho, de Gazumba, de Totonho, de Gatinho... Enfim, de toda a meninada de Licânia. Quanta saudade!
A criança que há em mim, parece, hoje pouca coisa nova vive, apenas relembra, e recupera, as maravilhas que deixou enterradas nas ribeiras do passado. Gloriosa botija deste quase cinquentão.
Algumas vezes, distraído, flagro-me em gaitadas longas e gostosas, e acabo me dando conta de que serei sempre criança, mesmo que isso se dê por mera distração.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Onde Está?




Onde está meu quintal
amarelo e encarnado,
com meninos brincando
de chicote-queimado,
com cigarras nos troncos
e formigas no chão,
e muitas conchas brancas
dentro da minha mão?

E Júlia e Maria
e Amélia onde estão?

Onde está meu anel
e o banquinho quadrado
e o sabiá na mangueira
e o gato no telhado?

- a moringa de barro,
e o cheiro do alvo pão?
E a tua voz, Pedrina,
sobre meu coração?
Em que altos balanços
se balançarão?... 


Cecília Meireles

Ausente...




Os que se vão, vão depressa.
Ontem, ainda, sorria na espreguiçadeira.
Ontem dizia adeus, ainda, da janela.
Ontem, vestia, ainda, o vestido tão leve cor-de-rosa.

Os que se vão, vão depressa.
Seus olhos grandes e pretos há pouco brilhavam.
Sua voz doce e firme faz pouco ainda falava,
Suas mãos morenas tinham gestos de bênçãos.

No entanto, hoje, na festa, ela não estava.
Nem um vestígio dela, sequer.
Decerto sua lembrança nem chegou, como os convidados
Alguns, quase todos, indiferentes e desconhecidos.

Os que se vão, vão depressa.
Mais depressa que os pássaros que passam no céu.
Mais depressa que o próprio tempo,
Mais depressa que a bondade dos homens,
Mais depressa que os trens correndo nas noites escuras,
Mais depressa que a estrela fugitiva
Que mal faz um traço no céu.

Os que se vão, vão depressa.
Só no coração do poeta, que é diferente dos outros corações,
Só no coração sempre ferido do poeta
É que não vão depressa os que se vão.

Ontem ainda sorria na espreguiçadeira,
E o seu coração era grande e infeliz.
Hoje, na festa, ela não estava, nem a sua lembrança.
Vão depressa, tão depressa os que se vão...

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

As lavadeiras do Baldo



 Nei Leandro de Castro


Essas moças e mulheres
eram putas ou safadas?
Viam olhos espiando
ou não enxergavam nada?
Quando mostravam as coxas,
gostavam da exibição
aos olhos, à sede, à palma,
à louca masturbação?
Se suas roupas molhadas
deixavam à mostra os seios,
achavam isso normal?
E aquele escuro no meio?
Batendo roupa elas tinham
pensamentos libertinos?
**
O sexo se incendiava
sob a moita dos meninos.

(Poema de Nei Leandro de Castro in Autobiografia, ilustração de Carib

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

SAUDADE



 miguel Falabella

Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.

Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade de um filho que estuda fora.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.

Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada; se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial; se ela aprendeu a estacionar entre dois carros; se ele continua preferindo Malzbier; se ela continua preferindo Margarita; se ela continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados; se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor; se ela continua cantando tão bem; se ela continua detestando o Mc Donald's. Se ele continua amando; se ela continua a chorar até nas comédias.

Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos;
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento;
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.

Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer;
Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...

Miguel Falabella

domingo, 21 de outubro de 2012

OUTONO DAS NOSSAS ESPERANÇAS


Outono das nossas esperanças

Como tapete de folhas amarelo-avermelhadas, um outono começa em nós. “Cá dentro, a idade, restos de sonhos e mocidade”. As estações do tempo são as mesmas estações da vida. A primavera brotando beleza na terra, graças à esperança da ressurreição das folhas mortas do outono. Destino de todos nós. Mas, é preciso sonhar, é preciso amar... No outono das nossas esperanças, o amor se mostra em cores, como um arco-íris iluminado por primaveras remotas. Onde a cor da paixão é uma deliciosa surpresa, sem cobranças e sem limites, mas num mundo sempre belo, sempre diverso e sempre novo. Se contentando em um para o outro num bem querer misterioso e pleno como uma fruta madura.
 "Sonhe com o que você quiser. Vá para onde você queira ir. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz." (Clarice Lispector)

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Só um mundo de amor pode durar a vida inteira

"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.

O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios.Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há,estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.
Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.
O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.
O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado,viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não.
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."
(Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Expresso')

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

CASINHA

Wellington Vicente


Fiz do teu portão de entrada
O meu portão de saída.
(Mote do Prof. Garcia/RN)
 Casinha que me abrigou
Que viu meus primeiros passos
Parti em busca de espaços
Mas meu espaço ficou
Nem o tempo que passou
Te fez ficar esquecida
Pois parte da minha vida
Vivi em tua calçada
Fiz do teu portão de entrada
O meu portão de saída.
Ainda guardo o retrato
Sentado no teu batente
Mamãe ao lado contente
Papai feliz pelo fato
De ver o filho novato
Em sua calça comprida
A camisa colorida
Ainda tenho guardada
Fiz do teu portão de entrada
O meu portão de saída.
Meu rastro no teu terreiro
Sei que não existe mais
Já desfizeram os currais
A cocheira e o chiqueiro
O meu velho juazeiro
De sombra tão preferida
Teve a copa ressequida
Por falta de trovoada
Fiz do teu portão de entrada
O meu portão de saída.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

PALAVRAS

William Affleck
Soltei palavras ao vento...
Palavras soltas como
Pássaros de asas abertas
Que não possuem destino,
Nem desatino, apenas pulsam em voos livres...
Pois que voem livres as palavras,
Que ecoem em canções e gemidos.
Em pranto e prece, até que se calem
Todas as feridas, todas as iras...
Que a palavra finalmente expressa,
Seja livre, doce e calma
Definitivamente liberta, pois...
Hoje quero esta calma,
Azul e mar,
Sono e cama,
Silêncio e carinho...

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O Presente Maior

(Roberto Lima)




Para os meninos David Drummond e Hique Silva

 
O que dar de presente a um menino no dia de seu aniversário?
Das minhas recordações da infância salta uma bola de futebol, presente de uma tia de Belo Horizonte.
Cresci achando ter ganhado menos presentes do que mereci.
Adulto, entendi que recebi muito mais do que puderam me dar.
O que dar a um filho, menino, no dia de seu aniversário?
Um futuro brilhante?
Um lugar garantido em Princeton, quando ele crescer?
Um poema?
Uma canção?
O gol da vitória numa final de campeonato na escola?
Um dez em matemática?
Um pai e uma mãe honestos e de bom coração?
Estes últimos são, a meu ver, um presente imprescindível.
Tudo o mais, vem junto, a reboque, dentro dos limites de cada um.
Eu, se pudesse, daria uma professora carinhosa e meiga, quase uma extensão da avó.
E um carrinho de madeira, com capô de lata e rodas recortadas de uma velha sandália havaiana.
Um peão, uma pipa e um carrinho de rolimã.
Um embornal com um estilingue e muitas bolinhas de gude.
E frutas maduras, cheirosas, suculentas, tiradas diretamente do pé.
Daria ainda manhãs de grama orvalhada.
Uma estrela que nunca se apaga.
E uma fogueira de São João.
Daria férias inesquecíveis na fazenda.
E um piau prateado, daqueles que dançam no extremo da linha que pende da ponta da vara de pescar.
Daria ainda um passeio no lombo de um cavalo troteiro.
E a visão confortante, ao longe, de uma chaminé fumegando na paisagem.
Construiria uma estrada margeada por flores silvestres, margaridas, cravos, lírios e jasmins.
Daria um conselho de avô.
Um biscoito da avó.
Um mergulho no riacho.
Uma ducha na cachoeira.
Uma lua cheia.
Noites sem pesadelos, sem bruxas malvadas ou dragões cuspindo fogo.
Chuvas?
Só se fossem as de verão, cantando “sol e chuva, casamento de viúva”.
E o ar com cheiro da terra molhada e um arco-íris, com seu pote de ouro, bem no fim.
Daria-lhe ainda uma festa de aniversário coalhada de balões coloridos num dia ensolarado, bem no começo da primavera.
E um bolo de chocolate com uma vela numeral em cima, além um coral de amiguinhos do peito, puxando um desafinado mas, entusiasmado, ‘parabéns’.
Mas os tempos mudaram, eu sei.
E hoje só se fala em videogames, bicicletas cibernéticas, rollerblades, Ipods, celulares, roupas de grife, viagens a Disney e bonecos de super-heróis, daqueles que lançam raios laser de seus olhos.
Não existe nada de errado nisto.
Mudaram os tempos e as prendas que damos aos meninos.
O que não podemos mudar é aquilo que acredito ser o presente maior.
No meu relicário, que é onde guardo as coisas de maior valor, estão o respeito e a admiração por um cara que sempre me deu muito mais do que pôde dar:
O amor pelo filho, esse sim, é um presente que dura para sempre. Herdei do meu como lição.
O resto, todo o resto, também é importante.
Mas é coisa menor.
Bem menor.
Grande é a infância.
 
(Roberto Lima)
 
 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A vida é tão maravilhosa porque ela nos compensa com ela mesma.

E, diariamente, eu chego à simples conclusão de que a vida é tão maravilhosa porque também é feita de colos, de feridas que cicatrizam, de amigos que celebram ou choram junto, de café coado com coador de pano, de gente que pega ônibus ou faz caminhada pela manhã, de quem planta o que se pode comer, de "Seus Saluns" que presenteiam seus vizinhos com laranjas que ele mesmo colheu e que alimenta seus gatos com comida de gente. Que a vida é feita de algumas pessoas que direcionam todo o seu potencial criativo para melhorar a qualidade de vida de gente que eles nem conhecem. Que é feita de e-mails que chegam recheados de saudade e de cartas extraviadas solitárias numa gaveta de um correio qualquer. De muros e pontes e cais. De aviões que suprimem distâncias e de barcos que chegam. De bicicletas que atravessam cidades. De redes que balançam gente. De rostos que recebem beijos. De bocas que beijam. De mãos que se dão. Que existem pessoas altamente gostáveis, altamente rabugentas, altamente generosas, pessoas distraídas que perdem as coisas, mal-educadas que buzinam sem necessidade, pessoas conectadas que se preocupam com o lixo, pessoas apaixonadas e apaixonantes, possíveis e impossíveis, pessoas que se entregam, pessoas que se privam, pessoas que machucam, pessoas que chegam pra curar; desencadeadores de poemas, de sorrisos,de lições de vida que ficarão guardadas para sempre...