19.12.12
Do Blog: Eu é um outro
não vou fingir felicidade
de fim de ano,
que essa felicidade
sempre foi uma espécie de ilusão.
desde quando o homem
inventou a televisão e as revistas,
essa felicidade e a margarina
sempre foram duas obrigações
- depois do facebook,
certas ilusões passaram a durar o ano inteiro.
não vou compactuar com as mentiras digitais.
não vou acender velas para os gênios
vivos e mortos da tecnologia.
nem para os cérebros articuladores
por trás dos veículos de comunicação.
quando o mundo acabar,
nenhum computador sobrará
para contar nossas histórias.
nenhum pen drive, nenhum tablet
nenhuma revista, nenhuma televisão...
e mesmo que sobrassem, resistentes ao fim,
para nada serviriam.
se um tsunami invadir esta cidade,
transbordando a Lagoa do Violão aqui ao lado,
a Maria da feira e eu
teremos a mesma expressão de desespero sobre o rosto.
ninguém na cidade se preocupará
em salvar sua câmera digital antes da inundação.
não sobrará nenhuma fotografia da morte
e do sangue das horas derradeiras.
os pescadores nos barcos, os comerciantes,
os advogados, as cabeleireiras,
as donas de casa, os velhos, as crianças,
os padeiros, as faxineiras,
os garis, as margaridas, os professores,
os médicos, os enfermos no hospital,
e até os feirantes, que não estarão trabalhando
na sexta-feira do dia vinte e um,
todos irão afogar sob as águas
misturadas do mar e da lagoa,
chocando-se em tudo o que vier
pelo caminho com a cataclísmica enxurrada.
quando o mundo for acabar,
é certo que ninguém estará sorrindo.
e que até os ateus, descrentes de um juízo final,
nessa hora gritem "Oh, meu Deus!"
quando o mundo for acabar,
todos os papéis se transformarão em nada, todos os livros,
todos os pensamentos que foram registrados,
todas as ideias não servirão nem para embrulho de peixes.
que sequer haverá quem coma peixes.
que sequer haverá quem possa ler
qualquer coisa que já tenha sido escrita.
- que sequer haverá quem.
quando o mundo for acabar,
ninguém estará fazendo a social na rede.
a desgraça e o desespero
serão as únicas coisas compartilhadas.
nossos pais, irmãos, tios, primos,
amigos e amigos dos nossos amigos,
todos teremos apenas caos e desordem,
e nada disso será motivo para curtir.
quando o mundo for acabar,
haverá luzes e sons pelos céus
muito mais impressionantes
do que quaisquer fogos de artifício.
ninguém assistirá ao espetáculo estourando champanhes
nem desejando ao outro que o próximo ano seja melhor.
- um próximo ano simplesmente não virá para mais ninguém.
nem para a natureza como a conhecemos
nem para os bichos, e nem para as coisas feitas pelo homem
para as pirâmides, para o Cristo Redentor,
para a Torre Eiffel, para o Machu Picchu,
para as estátuas da Ilha de Páscoa,
para o Palácio do Planalto, para a Casa Branca,
para qualquer tipo de casa...
tudo se transformará em um imenso nada,
e depois haverá apenas silêncio.
antes que o mundo acabe,
e que a água do mar ou uma pedra do espaço me cale,
confesso: não fui santo nem demônio.
e como todos os outros animais racionais,
às vezes apenas uma espécie de macaco
quase todo pelado, arrogante e pretensioso.
às vezes ingênuo, buscando algum conforto
para conseguir habitar meu próprio corpo,
como habitam em si mesmos
os animais irracionais, livres e despudorados.
nunca dei nome aos meus sentimentos,
e embora já tenha vivido algumas ilusões,
hoje, perto do fim,
prefiro não fingir nenhum tipo
de felicidade ou tristeza,
porque nunca gostei de me dizer
triste ou feliz,
alegre ou melancólico...
tudo isso sempre foram códigos
que usamos para representar papéis.
em verdade, agora apenas esclareço:
o que sempre gostei foi de viver.
de fim de ano,
que essa felicidade
sempre foi uma espécie de ilusão.
desde quando o homem
inventou a televisão e as revistas,
essa felicidade e a margarina
sempre foram duas obrigações
- depois do facebook,
certas ilusões passaram a durar o ano inteiro.
não vou compactuar com as mentiras digitais.
não vou acender velas para os gênios
vivos e mortos da tecnologia.
nem para os cérebros articuladores
por trás dos veículos de comunicação.
quando o mundo acabar,
nenhum computador sobrará
para contar nossas histórias.
nenhum pen drive, nenhum tablet
nenhuma revista, nenhuma televisão...
e mesmo que sobrassem, resistentes ao fim,
para nada serviriam.
se um tsunami invadir esta cidade,
transbordando a Lagoa do Violão aqui ao lado,
a Maria da feira e eu
teremos a mesma expressão de desespero sobre o rosto.
ninguém na cidade se preocupará
em salvar sua câmera digital antes da inundação.
não sobrará nenhuma fotografia da morte
e do sangue das horas derradeiras.
os pescadores nos barcos, os comerciantes,
os advogados, as cabeleireiras,
as donas de casa, os velhos, as crianças,
os padeiros, as faxineiras,
os garis, as margaridas, os professores,
os médicos, os enfermos no hospital,
e até os feirantes, que não estarão trabalhando
na sexta-feira do dia vinte e um,
todos irão afogar sob as águas
misturadas do mar e da lagoa,
chocando-se em tudo o que vier
pelo caminho com a cataclísmica enxurrada.
quando o mundo for acabar,
é certo que ninguém estará sorrindo.
e que até os ateus, descrentes de um juízo final,
nessa hora gritem "Oh, meu Deus!"
quando o mundo for acabar,
todos os papéis se transformarão em nada, todos os livros,
todos os pensamentos que foram registrados,
todas as ideias não servirão nem para embrulho de peixes.
que sequer haverá quem coma peixes.
que sequer haverá quem possa ler
qualquer coisa que já tenha sido escrita.
- que sequer haverá quem.
quando o mundo for acabar,
ninguém estará fazendo a social na rede.
a desgraça e o desespero
serão as únicas coisas compartilhadas.
nossos pais, irmãos, tios, primos,
amigos e amigos dos nossos amigos,
todos teremos apenas caos e desordem,
e nada disso será motivo para curtir.
quando o mundo for acabar,
haverá luzes e sons pelos céus
muito mais impressionantes
do que quaisquer fogos de artifício.
ninguém assistirá ao espetáculo estourando champanhes
nem desejando ao outro que o próximo ano seja melhor.
- um próximo ano simplesmente não virá para mais ninguém.
nem para a natureza como a conhecemos
nem para os bichos, e nem para as coisas feitas pelo homem
para as pirâmides, para o Cristo Redentor,
para a Torre Eiffel, para o Machu Picchu,
para as estátuas da Ilha de Páscoa,
para o Palácio do Planalto, para a Casa Branca,
para qualquer tipo de casa...
tudo se transformará em um imenso nada,
e depois haverá apenas silêncio.
antes que o mundo acabe,
e que a água do mar ou uma pedra do espaço me cale,
confesso: não fui santo nem demônio.
e como todos os outros animais racionais,
às vezes apenas uma espécie de macaco
quase todo pelado, arrogante e pretensioso.
às vezes ingênuo, buscando algum conforto
para conseguir habitar meu próprio corpo,
como habitam em si mesmos
os animais irracionais, livres e despudorados.
nunca dei nome aos meus sentimentos,
e embora já tenha vivido algumas ilusões,
hoje, perto do fim,
prefiro não fingir nenhum tipo
de felicidade ou tristeza,
porque nunca gostei de me dizer
triste ou feliz,
alegre ou melancólico...
tudo isso sempre foram códigos
que usamos para representar papéis.
em verdade, agora apenas esclareço:
o que sempre gostei foi de viver.
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