(encontrei esta cronica numa comunidade sem nome do autor)
Quando chega o envelhecimento você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava.
Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem suas alegrias, as sua compensações - todos dizem isso, embora você pessoalmente, ainda não as tenha descoberto - mas acredita.
Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade.
Não de amores nem de paixão; a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor.
Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos com seus problemas, que hoje são seus filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres - não são mais aqueles que você recorda. Aí dá aquele sentimento de maior abandonado e um gostinho de ingratidão, eles não tem tempo pra pensar na sua dedicação.
E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis - nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que se lhe é "devolvido". E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito sobre ele, ou pelo menos o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo ou decepção, se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.
Sim, tenho a certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice.
São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
terça-feira, 19 de outubro de 2010
O Mistério das Cousas
(Fernando Pessoa)
...
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
...
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
TINO GUERREIRO (QUE MAIS NINGUÉM DA MINHA FAMÍLIA TENHA QUE VOAR ASSIM)
João Almeida
São Paulo, 15 de setembro de 2010
Eu vou contar uma estória de um menino que um dia partiu pra longe, pra muito longe....Em terras estranhas o menino se perdeu e se encontrou várias vezes. A noite ficava num cantinho pensando nessa viagem um pouco maluca que fez, deixando pra trás dois pinguinhos de gente, duas filhinhas muito queridas, pai, mãe, irmãos e seu chão original. Pensava, pensava, até que um dia de madrugada pelo seu pensamento Jesus chegou e conversou com ele, compadecido do clamor do seu coração.
---Filho! Vá ser carpinteiro como meu pai!
O menino respondeu:
----Mas eu não sei nada dessa profissão!
---- Me leve com você que eu te ajudo....
E assim, o menino foi... entrou numa loja e se apresentou. Embaraçado naturalmente , Jesus lhe ajudou dando paciência ao gerente, e assim o menino encontrou como sobreviver. E o menino se renovou, e Jesus não lhe deixou mais... Deu-lhes um bocado de boas companhias, amigos, amigas e principalmente fé. Encontrou ali pertinho parentes e uma convivência feliz.
Mas o menino estava só, com saudades... Aí Jesus lhe deu uma esposa. Ajeitaram uma casinha e se amaram, e se amam...
Aí Jesus achou pouco....e preparou uma menina, uma criança pra eles! Maria Elisa.
Apesar das vitórias, estou testemunhando a rotina deste menino, debruço na varanda da sua casinha e refaço seus passos, volto ao passado e venho correndo para medir as diferenças. À meus outros meninos, irmãos, que completavam a alegria minha e de Maria, dou este testemunho, para que observem a parte rompida do elo, dos laços que nos atam, de um pássaro que bateu asas com uma plumagem e que mudou as “penas” e literalmente a sua identidade...
Virou pra mim um exemplo, mudar em condições tão adversas em vez de descer mais, enquanto outros ex-companheiros, em ambientes sociais elitizados, sem conhecer fome nem sede exibem um perfil ilusório e vão descendo dia a dia as escadas que idiguinidade construiu.
Meu menino sai as pressas, com uma roupinha surrada de acordo sua atividade de simples operário e trabalha duro, e chega em casa sorrindo, agora mais ainda que pode usar novamente a expressão:
PAPAI CHEGOU! PAPAI CHEGOU!
Tudo direitinho na sua casinha...
Principalmente a sua fé em Deus.
São Paulo, 15 de setembro de 2010
Eu vou contar uma estória de um menino que um dia partiu pra longe, pra muito longe....Em terras estranhas o menino se perdeu e se encontrou várias vezes. A noite ficava num cantinho pensando nessa viagem um pouco maluca que fez, deixando pra trás dois pinguinhos de gente, duas filhinhas muito queridas, pai, mãe, irmãos e seu chão original. Pensava, pensava, até que um dia de madrugada pelo seu pensamento Jesus chegou e conversou com ele, compadecido do clamor do seu coração.
---Filho! Vá ser carpinteiro como meu pai!
O menino respondeu:
----Mas eu não sei nada dessa profissão!
---- Me leve com você que eu te ajudo....
E assim, o menino foi... entrou numa loja e se apresentou. Embaraçado naturalmente , Jesus lhe ajudou dando paciência ao gerente, e assim o menino encontrou como sobreviver. E o menino se renovou, e Jesus não lhe deixou mais... Deu-lhes um bocado de boas companhias, amigos, amigas e principalmente fé. Encontrou ali pertinho parentes e uma convivência feliz.
Mas o menino estava só, com saudades... Aí Jesus lhe deu uma esposa. Ajeitaram uma casinha e se amaram, e se amam...
Aí Jesus achou pouco....e preparou uma menina, uma criança pra eles! Maria Elisa.
Apesar das vitórias, estou testemunhando a rotina deste menino, debruço na varanda da sua casinha e refaço seus passos, volto ao passado e venho correndo para medir as diferenças. À meus outros meninos, irmãos, que completavam a alegria minha e de Maria, dou este testemunho, para que observem a parte rompida do elo, dos laços que nos atam, de um pássaro que bateu asas com uma plumagem e que mudou as “penas” e literalmente a sua identidade...
Virou pra mim um exemplo, mudar em condições tão adversas em vez de descer mais, enquanto outros ex-companheiros, em ambientes sociais elitizados, sem conhecer fome nem sede exibem um perfil ilusório e vão descendo dia a dia as escadas que idiguinidade construiu.
Meu menino sai as pressas, com uma roupinha surrada de acordo sua atividade de simples operário e trabalha duro, e chega em casa sorrindo, agora mais ainda que pode usar novamente a expressão:
PAPAI CHEGOU! PAPAI CHEGOU!
Tudo direitinho na sua casinha...
Principalmente a sua fé em Deus.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
AINDA QUERO MOSTRAR MEU SORRISO
João Almeida
Eu do meu canto quero o que?
Muita coisa que não tem volta apenas passa pela memória, eu já sei...
Mas era tão bom ter voz, ser bem ouvido, participar e decidi.... os resultados nem sempre eram os esperados, mas tinham confiança em mim....sempre fui bem lembrado.
Quando arrumei a mala e saí pelo portão azul, porque já era tempo, deveria ter registrado tudo, não fiz...talvez por sentir que o portão nunca se fechasse de vez. Assim, lá dentro ficaram tantos, tantos queridos!
No início uns telefonemas, convites para ir sentar na roda de gargalhadas, depois como se cada um viajasse, a separação.
Agora já não dá para fundar um clube agregando aquela turma boa, no mais é ser uma pessoa extranha e ir pedindo paciência à família, ou entendendo as ausências, afinal todos tem mais o que fazer. Cada um tem seu pedaço de solidão na aposentadoria, é como ver um estádio esvaziar e ficar sozinho na arquibancada assistindo o último jogador desaparecer no túnel.
Aposentadoria!.... pois sim...
Queimam-se valiosos arquivos, é certo que se abre novas páginas, mas nelas não está o palhaço, nem o riso de tantos, de modo que não é justo ironizar algo meio triste que digo ou que faço, talvez o que falte é ouvir uma boa piada e quem se interesse ser o “palhaço” pra mim.
Eu tentei fazer o mundo rir....
“O CIRCO FOI EMBORA PROMETENDO VOLTAR, MAS NUNCA MAIS VOLTOU. MAS NA VIDA É ASSIM MESMO, QUANTA COISA VAI EMBORA E NUNCA MAIS VOLTA.”.
.
Eu do meu canto quero o que?
Muita coisa que não tem volta apenas passa pela memória, eu já sei...
Mas era tão bom ter voz, ser bem ouvido, participar e decidi.... os resultados nem sempre eram os esperados, mas tinham confiança em mim....sempre fui bem lembrado.
Quando arrumei a mala e saí pelo portão azul, porque já era tempo, deveria ter registrado tudo, não fiz...talvez por sentir que o portão nunca se fechasse de vez. Assim, lá dentro ficaram tantos, tantos queridos!
No início uns telefonemas, convites para ir sentar na roda de gargalhadas, depois como se cada um viajasse, a separação.
Agora já não dá para fundar um clube agregando aquela turma boa, no mais é ser uma pessoa extranha e ir pedindo paciência à família, ou entendendo as ausências, afinal todos tem mais o que fazer. Cada um tem seu pedaço de solidão na aposentadoria, é como ver um estádio esvaziar e ficar sozinho na arquibancada assistindo o último jogador desaparecer no túnel.
Aposentadoria!.... pois sim...
Queimam-se valiosos arquivos, é certo que se abre novas páginas, mas nelas não está o palhaço, nem o riso de tantos, de modo que não é justo ironizar algo meio triste que digo ou que faço, talvez o que falte é ouvir uma boa piada e quem se interesse ser o “palhaço” pra mim.
Eu tentei fazer o mundo rir....
“O CIRCO FOI EMBORA PROMETENDO VOLTAR, MAS NUNCA MAIS VOLTOU. MAS NA VIDA É ASSIM MESMO, QUANTA COISA VAI EMBORA E NUNCA MAIS VOLTA.”.
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MINHA LUA AZUL!
João Almeida
07de junho de 2010
Sei que quase ninguém vai acreditar que ontem eu e meus pensamentos nos encontramos com uma lua azul. Talvez Victor, Júlia acreditem, Matheus e Carol de jeito nenhum, e entre gargalhadas afirmarão:
Vovô está doido!
Maria, Iraci, Carla ,Tino e Jota desconversarão introduzindo no papo a escalação da seleção brasileira. Mas eu vi, eu vi a lua azul... o momento mais empolgante foi quando ela se escondeu atrás de uma nuvem de algodão e surgiu mais encantadora depois de uns minutinhos
Fiquei com o pescoço doendo de olhar para o céu, sabe! Me recostei na cadeira adormeci e sonhei....
No sonho fiquei criança mais ou menos do tamanho de Carol, e logo me meti no meio das brincadeiras deles. Na confusão do sonho hora nós corríamos pela sala da casa de Carla, noutras no corredor da casa de Jota e até embarcamos num trem em Osasco rumo a estação Carapicuíba, e por fim fomos parar na sombra da mangueira do Recanto Verde.
Não esqueçam que no sonho eu era criança e até tomei banho de mangueira e tomei pito de vovó Maria porque não queria dá a vez a Matheus. É , meu sonho trouxe Matheus e Victor para o sítio e se não tivesse na hora da lua azul desaparecer eu ia encolher todo mundo.... Carla, Tino, Iraci e Jota. Só deixava grande Maria pra tomar conta da gente.
Acorda! Menino velho!
Mas! e a minha lua azul?
Baboseiras! Hoje eu estou um pouquinho Ziraldo, do “Menino Maluquinho”.
Luto para aceitar que lembrar é saudável, que o importante é a realidade do presente, mas não é fácil sentir saudades sem sentir dor...
Andei pensando no reencontro de Maria com sua amiga de adolescência Dilail. Reencontro não, um achado! Graças a internet elas não precisaram ir para praça da Piedade participar do programa; “Procurando desaparecidos”. O que mais me entusiasma no reencontro foi o peso, a valorização da amizade que envolveu a nós todos. Como nem todo mundo tem a mesma sorte.... Aquela turma boa não era pra vida toda, demandaram outros caminhos É que é bom ter amigos, as coisa nunca serão realmente assustadora se você tiver um bom amigo.
Assim, sinto falta de Rubens... quantas gargalhadas, como era iluminado os nossos momentos. Mauro.... Gaucho moleque, assim que puder vou no Centro Gaucho com Maria, quem sabe eu não encontre meu amigo. Zé Maria! Fazia questão de mim, as vezes de pé, no “pé do balcão. Bem, podem até achar que aconteceu uma fuga, as vezes a gente fica desinteressante e principalmente para o novo. Pois então ? é por isso que só eu consigo ver, a minha lua azul.
07de junho de 2010
Sei que quase ninguém vai acreditar que ontem eu e meus pensamentos nos encontramos com uma lua azul. Talvez Victor, Júlia acreditem, Matheus e Carol de jeito nenhum, e entre gargalhadas afirmarão:
Vovô está doido!
Maria, Iraci, Carla ,Tino e Jota desconversarão introduzindo no papo a escalação da seleção brasileira. Mas eu vi, eu vi a lua azul... o momento mais empolgante foi quando ela se escondeu atrás de uma nuvem de algodão e surgiu mais encantadora depois de uns minutinhos
Fiquei com o pescoço doendo de olhar para o céu, sabe! Me recostei na cadeira adormeci e sonhei....
No sonho fiquei criança mais ou menos do tamanho de Carol, e logo me meti no meio das brincadeiras deles. Na confusão do sonho hora nós corríamos pela sala da casa de Carla, noutras no corredor da casa de Jota e até embarcamos num trem em Osasco rumo a estação Carapicuíba, e por fim fomos parar na sombra da mangueira do Recanto Verde.
Não esqueçam que no sonho eu era criança e até tomei banho de mangueira e tomei pito de vovó Maria porque não queria dá a vez a Matheus. É , meu sonho trouxe Matheus e Victor para o sítio e se não tivesse na hora da lua azul desaparecer eu ia encolher todo mundo.... Carla, Tino, Iraci e Jota. Só deixava grande Maria pra tomar conta da gente.
Acorda! Menino velho!
Mas! e a minha lua azul?
Baboseiras! Hoje eu estou um pouquinho Ziraldo, do “Menino Maluquinho”.
Luto para aceitar que lembrar é saudável, que o importante é a realidade do presente, mas não é fácil sentir saudades sem sentir dor...
Andei pensando no reencontro de Maria com sua amiga de adolescência Dilail. Reencontro não, um achado! Graças a internet elas não precisaram ir para praça da Piedade participar do programa; “Procurando desaparecidos”. O que mais me entusiasma no reencontro foi o peso, a valorização da amizade que envolveu a nós todos. Como nem todo mundo tem a mesma sorte.... Aquela turma boa não era pra vida toda, demandaram outros caminhos É que é bom ter amigos, as coisa nunca serão realmente assustadora se você tiver um bom amigo.
Assim, sinto falta de Rubens... quantas gargalhadas, como era iluminado os nossos momentos. Mauro.... Gaucho moleque, assim que puder vou no Centro Gaucho com Maria, quem sabe eu não encontre meu amigo. Zé Maria! Fazia questão de mim, as vezes de pé, no “pé do balcão. Bem, podem até achar que aconteceu uma fuga, as vezes a gente fica desinteressante e principalmente para o novo. Pois então ? é por isso que só eu consigo ver, a minha lua azul.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
TIA GLADYS
MIGUEL FALABELA
Ela nos mostrou janelas que se abriam para janelas, como se profetizasse o futuro na sua maneira de contar histórias
Dia desses, o grande arquiteto espanhol Santiago Calatrava fez uma apresentação de seu belo projeto para o Museu do Amanhã, marcando o início da revitalização da zona portuária do Rio de Janeiro. Em dado momento, ele usou um retroprojetor e começou a mostrar, através de croquis, a gênese de seu projeto. Com um movimento ágil, ele traçou as curvas da baía, os morros, a praça Mauá, restabeleceu a relação da cidade com o mar, roubada naquela área pela horrenda e inexplicável perimetral, e nos encheu de um orgulho tão necessário nesses dias que correm. Foi de uma simplicidade e clareza admiráveis e a plateia assistiu encantada às imagens que iam brotando do traço elegante do artista, na tela que dominava a cena. Regina Casé estava sentada ao meu lado e depois me disse, quase um segredo, que tinha se lembrado de tia Gladys e do encantamento que o programa causava em toda a nossa geração.
Tia Gladys e seus bichinhos era o programa infantil da minha primeira infância. Na velha televisão em preto e branco, um móvel que imperava no centro da sala, eu e meus irmãos assistíamos encantados às histórias que a mulher loura e educada ia contando e, delícia suprema, rabiscando nas paredes brancas do estúdio. A ela era permitido rabiscar nas paredes, eu pensava, e me encantava com as histórias do sapo Godô e da formiguinha Gilda que, não por acaso, emprestava o nome ao maternal que eu frequentava. Ainda tenho guardada em algum lugar uma foto com a jardineira azul da escola.
Saí do píer imediatamente tomado pelas lembranças daquelas tardes aprisionadas no tempo, quando a vida era de uma simplicidade mágica. Nossa maior aventura era uma corrida até o trilho do bonde para abandonar ali uma garrafa de cerveja vazia que, mais tarde, devidamente triturada, serviria de base para o cerol que tornaria nossas pipas invencíveis nos combates aéreos. Mas isto era transgressão punida severamente e nem todos tinham coragem de se arriscar em tal empreitada. Isso era tudo. Não havia grandes eventos, a infância era pobre de coisas e plena de sonhos, porque havia a ideia de que uma folha em branco e um pedaço de carvão eram o bastante para libertar a mente das amarras do cotidiano e não foi à toa que a imagem da apresentadora ocorreu à atriz, assim que o arquiteto espanhol começou a nos deslumbrar com seu amoroso olhar para o Rio.
Não sei quanto tempo durou Tia Gladys e seus bichinhos. Acho que era na Excelsior, cujo jingle eu ouço agora, puxado do arquivo: “Do 2 eu não saio, nem eu, nem ninguém. Ninguém sai do 2, nem eu nem meu bem”. Não sei a quantas edições do mesmo eu assisti, mas acredito que uma única experiência já teria sido o bastante, porque a mensagem era clara para as crianças da minha geração. Ela nos mostrou janelas que se abriam para janelas, como se profetizasse o futuro na sua maneira de contar histórias. A nós foi oferecida uma tela branca que é o começo de tudo, ou um quarto escuro em que se acenda a luz para encontrar a personagem. Não importa. Tia Gladys nos oferecia não só a origem, mas a semente da criação e da possibilidade.
Nunca poderemos lhe agradecer o bastante.
Ela nos mostrou janelas que se abriam para janelas, como se profetizasse o futuro na sua maneira de contar histórias
Dia desses, o grande arquiteto espanhol Santiago Calatrava fez uma apresentação de seu belo projeto para o Museu do Amanhã, marcando o início da revitalização da zona portuária do Rio de Janeiro. Em dado momento, ele usou um retroprojetor e começou a mostrar, através de croquis, a gênese de seu projeto. Com um movimento ágil, ele traçou as curvas da baía, os morros, a praça Mauá, restabeleceu a relação da cidade com o mar, roubada naquela área pela horrenda e inexplicável perimetral, e nos encheu de um orgulho tão necessário nesses dias que correm. Foi de uma simplicidade e clareza admiráveis e a plateia assistiu encantada às imagens que iam brotando do traço elegante do artista, na tela que dominava a cena. Regina Casé estava sentada ao meu lado e depois me disse, quase um segredo, que tinha se lembrado de tia Gladys e do encantamento que o programa causava em toda a nossa geração.
Tia Gladys e seus bichinhos era o programa infantil da minha primeira infância. Na velha televisão em preto e branco, um móvel que imperava no centro da sala, eu e meus irmãos assistíamos encantados às histórias que a mulher loura e educada ia contando e, delícia suprema, rabiscando nas paredes brancas do estúdio. A ela era permitido rabiscar nas paredes, eu pensava, e me encantava com as histórias do sapo Godô e da formiguinha Gilda que, não por acaso, emprestava o nome ao maternal que eu frequentava. Ainda tenho guardada em algum lugar uma foto com a jardineira azul da escola.
Saí do píer imediatamente tomado pelas lembranças daquelas tardes aprisionadas no tempo, quando a vida era de uma simplicidade mágica. Nossa maior aventura era uma corrida até o trilho do bonde para abandonar ali uma garrafa de cerveja vazia que, mais tarde, devidamente triturada, serviria de base para o cerol que tornaria nossas pipas invencíveis nos combates aéreos. Mas isto era transgressão punida severamente e nem todos tinham coragem de se arriscar em tal empreitada. Isso era tudo. Não havia grandes eventos, a infância era pobre de coisas e plena de sonhos, porque havia a ideia de que uma folha em branco e um pedaço de carvão eram o bastante para libertar a mente das amarras do cotidiano e não foi à toa que a imagem da apresentadora ocorreu à atriz, assim que o arquiteto espanhol começou a nos deslumbrar com seu amoroso olhar para o Rio.
Não sei quanto tempo durou Tia Gladys e seus bichinhos. Acho que era na Excelsior, cujo jingle eu ouço agora, puxado do arquivo: “Do 2 eu não saio, nem eu, nem ninguém. Ninguém sai do 2, nem eu nem meu bem”. Não sei a quantas edições do mesmo eu assisti, mas acredito que uma única experiência já teria sido o bastante, porque a mensagem era clara para as crianças da minha geração. Ela nos mostrou janelas que se abriam para janelas, como se profetizasse o futuro na sua maneira de contar histórias. A nós foi oferecida uma tela branca que é o começo de tudo, ou um quarto escuro em que se acenda a luz para encontrar a personagem. Não importa. Tia Gladys nos oferecia não só a origem, mas a semente da criação e da possibilidade.
Nunca poderemos lhe agradecer o bastante.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
NUM DIA MEIO TRISTE
Neste dia, o Recanto estava tão triste que deu dó de mim ao lembrar de tanta alegria desfilando no meu terreiro, tanta gargalhada na molequeira, na conversa fiada que quem desse mundo não estava lá não sabe o que perdeu. Mas o Recanto foi feito pra ser um pedaço diferente do mundo, e assim será....
João Almeida
A SOMBRA DAS QUATRO VEIO....
O VENTO E A BRISA TAMBÉM.
TRÊS BORBOLETAS AMARELAS
DANÇAVAM SOBRE O JARDIM,
E ENQUANTO NUVENS BRANCAS
SE ARRUMAVAM NO CÉU,
UMA ESQUADRILHA DE GARÇAS
CORTOU O MEU ESPAÇO,
FAZENDO PARECER SER ALI
UM DIA DE FESTA...
VINHERAM OS CARDEAIS,
AS ROLINHAS E OS TZIUS.
GIRANTES , CANÁRIOS DA TERRA,
SOFRÊS , SANHAÇOS E TIÊS.
AS SABIÁS JÁ ESTAVAM,
DESDE CEDINHO QUE CANTAM,
NÃO VINHERAM...MORAM AQUI.
VEM TANTA GENTE...
QUER DIZER, GENTE MESMO, NÃO...
MAS QUANDO SE ESTÁ SÓ,
UM MOSQUITINHO QUE SEJA
FAZ COMPANHIA...
VINHERAM AS FRUTAS...COMO QUE SAINDO,
DETRAZ DE UMA CORTINA DE FOLHAS,
SE APRESENTAM...
LIMAS, ARAÇÃS E MANGAS,
OLHEM LÁ UM CACHO DE ACEROLAS,
UM RAMO PRETINHO DE AMORAS...
MAS AÍ, VEIO UMA TRISTEZA
NOS VERSOS DE SEU ZÉ
QUE SÓ LABUTA CANTANDO
E ESTÁVA PERTO POR TRÁS DO BANANAL:
“MEU COQUEIRO DE TÃO ALTO,
JOGA CÔCO NA CIDADE.
MEU AMOR ALI TÃO PERTO,
E EU MORRENDO DE SAUDADE.’
TEM HORAS QUE NÃO SÃO FEITAS
PRA GENTE FICAR SÓ...
NÃO DOMINAMOS AS SENSAÇÕES,
MUITO MENOS....MUITO MENOS.....
AS SENSAÇÕES DOS OUTROS....
AMANHÃ PODE NÃO VIR O SOL,
E ENTÃO NÃO TEREMOS SOMBRA.
MAS NO SEU LUGAR,
ATÉ UMA CHUVA PODE VIR...
ANOITECER MAIS CEDO...
MESMO SÓ, EU VOU ESTAR AQUI.
João Almeida
A SOMBRA DAS QUATRO VEIO....
O VENTO E A BRISA TAMBÉM.
TRÊS BORBOLETAS AMARELAS
DANÇAVAM SOBRE O JARDIM,
E ENQUANTO NUVENS BRANCAS
SE ARRUMAVAM NO CÉU,
UMA ESQUADRILHA DE GARÇAS
CORTOU O MEU ESPAÇO,
FAZENDO PARECER SER ALI
UM DIA DE FESTA...
VINHERAM OS CARDEAIS,
AS ROLINHAS E OS TZIUS.
GIRANTES , CANÁRIOS DA TERRA,
SOFRÊS , SANHAÇOS E TIÊS.
AS SABIÁS JÁ ESTAVAM,
DESDE CEDINHO QUE CANTAM,
NÃO VINHERAM...MORAM AQUI.
VEM TANTA GENTE...
QUER DIZER, GENTE MESMO, NÃO...
MAS QUANDO SE ESTÁ SÓ,
UM MOSQUITINHO QUE SEJA
FAZ COMPANHIA...
VINHERAM AS FRUTAS...COMO QUE SAINDO,
DETRAZ DE UMA CORTINA DE FOLHAS,
SE APRESENTAM...
LIMAS, ARAÇÃS E MANGAS,
OLHEM LÁ UM CACHO DE ACEROLAS,
UM RAMO PRETINHO DE AMORAS...
MAS AÍ, VEIO UMA TRISTEZA
NOS VERSOS DE SEU ZÉ
QUE SÓ LABUTA CANTANDO
E ESTÁVA PERTO POR TRÁS DO BANANAL:
“MEU COQUEIRO DE TÃO ALTO,
JOGA CÔCO NA CIDADE.
MEU AMOR ALI TÃO PERTO,
E EU MORRENDO DE SAUDADE.’
TEM HORAS QUE NÃO SÃO FEITAS
PRA GENTE FICAR SÓ...
NÃO DOMINAMOS AS SENSAÇÕES,
MUITO MENOS....MUITO MENOS.....
AS SENSAÇÕES DOS OUTROS....
AMANHÃ PODE NÃO VIR O SOL,
E ENTÃO NÃO TEREMOS SOMBRA.
MAS NO SEU LUGAR,
ATÉ UMA CHUVA PODE VIR...
ANOITECER MAIS CEDO...
MESMO SÓ, EU VOU ESTAR AQUI.
domingo, 4 de abril de 2010
Tentação do Vaqueiro (Contos Sertanejos)
Saindo de um forró, lá na serra da remetedeira Zé Francisco preferiu ir a pé para casa, precisava arejar os pensamentos. Caminhou trôpego por aquelas estradas, onde não se via viva alma e cuja única luz, era da lua, coberta pela bruma que encobria o caminho. “Inda bem que num ta cheia!” pensou. Às vezes, aquele silêncio ensurdecedor do caminho era interrompido pelo canto dos grilos, outras vezes pelas corujas.
Em certo ponto da estrada, próximo a uma encruzilhada, avistou algo vermelho, como um pano, tremulando com o vento. Cismou, chegando mais perto pôde perceber que era uma mulher, encostada na cerca. Uma bela mulher loira de seios fartos, que aos olhos do caboclo parecia estar usando roupas de baile. Tudo combinando: vestido, batom e sapatos vermelhos. Achou aquilo tudo muito estranho. Aproximou-se.
―Moça... Quê que ta fazendo sozinha aqui... Num esquisito desse?
―Esperando por você!
―Pur mim? Mais... A sinhora me conhece?
−Quem é que não conhece o grande Zé Francisco? O caboclo mais valente de Santana do Ipanema?
− Grande é Deus moça!
−Mas você pode ser maior que Ele! Alias, pode tudo que quiser!
−Maió do que Deus nosso sinhô? Que cunversa é essa?
−Nosso não! Seu... Que por sinal, nem sabe que você existe!
−Peraí... Peraí! Eu num to entendendo o rumo desse prosa não! Quem é a sinhora?
−Eu sou aquela que pode lhe oferecer tudo o que você quiser! O inimaginável! Prazeres com os quais você nunca sonhou!
−Ói moça... Eu posso ta bêbo... Mais eu num sô burro! Isso daí... É a troco de quê?
− Quase nada! Pra começar, tire esse escapulário que você usa no pescoço!
− Meu escapulário? Não... Tem a image de minha madrinha sinhora Santana.
− É, onde estava sua madrinha quando seu cavalo foi esquartejado?
O caboclo engoliu um seco, parece que aquela mulher sabia onde apertar.
−A hora dele chegô... Como vai chegá a minha, Cuma qualqué vivente nessa terra!
−Não venha falar assim como não se importasse! Nós sentimos sua dor! Ouvimos seu desejo ardente de vingança! Além disso... Conhecemos seus desejos mais obscuros!
Estas últimas palavras, a dama misteriosa proferiu com um sorriso malicioso no rosto, acariciando a nuca do sertanejo.
− Renuncia a este Deus impiedoso que você segue! Nós lhe daremos poder para esmagar seus inimigos, traremos seu cavalo de volta. E Rosa... Ah, Rosa... Ela será toda sua! É pouco? Peça mais! É só dizer! Tudo o que você quiser está ao seu alcance!
− Nóis... Eu já intendi! Sai pra lá fia do capeta! Coisa ruim! Vai de retro! Vorta pros quinto dos inferno que é teu lugá! Sangue de Cristo tem podê!
Naquele momento, a mulher de vermelho começou a se contorcer, e emitir um som como se fosse um animal ferido. Depois sumiu, como se sugada pele terra, bem diante dos olhos de Zé Francisco, que caiu no chão na mesma hora.
Acordou novamente, desta vez foi desperto por um homem que segurava um candeeiro.
− Amigo... Você esta bem?
Lentamente o caboclo levantou a cabeça. Com um olho aberto e outro fechado encarou aquele homem. – baixe o candinhêro pr`eu vê sua cara!
O homem obedeceu.
− Louvado seja nosso Sinhô Jesus cristo! Falou o caboclo, desconfiado.
− Para sempre seja louvado! Deixe eu lhe ajudar, vou levar você para sua casa.
Zé Francisco nada respondeu, estava tão embriagado que mal conseguia andar. O homem do candeeiro apoiou o caboclo em seus ombros e o conduziu para casa. Durante o caminho o sertanejo puxou conversa.
− O sinhô num vai acreditá! Mais o diabo apareceu pra mim inda agorinha, na forma de uma muié! Me prometendo o mundo e o fundo!
− Eu acredito sim! Às vezes ele tenta testar as pessoas, principalmente as mais especiais!
− especiais? Eu num tenho nada de especial não seu moço... Só tenho o dia e a noite!
− Não diga isso! Você é especial para Deus! Ele sempre vai olhar por você! Por isso o outro lado sempre vai tentar abalar sua fé!
De repente os dois estavam diante da porta da casa de Zé Francisco
−Já?...Eí! Eu num tinha lhe falado onde era minha casa... Tinha?
O homem sorriu para ele e foi descendo a rua com seu candeeiro, até sumir na bruma.
−Crê em Deus pai todo poderoso!
Em certo ponto da estrada, próximo a uma encruzilhada, avistou algo vermelho, como um pano, tremulando com o vento. Cismou, chegando mais perto pôde perceber que era uma mulher, encostada na cerca. Uma bela mulher loira de seios fartos, que aos olhos do caboclo parecia estar usando roupas de baile. Tudo combinando: vestido, batom e sapatos vermelhos. Achou aquilo tudo muito estranho. Aproximou-se.
―Moça... Quê que ta fazendo sozinha aqui... Num esquisito desse?
―Esperando por você!
―Pur mim? Mais... A sinhora me conhece?
−Quem é que não conhece o grande Zé Francisco? O caboclo mais valente de Santana do Ipanema?
− Grande é Deus moça!
−Mas você pode ser maior que Ele! Alias, pode tudo que quiser!
−Maió do que Deus nosso sinhô? Que cunversa é essa?
−Nosso não! Seu... Que por sinal, nem sabe que você existe!
−Peraí... Peraí! Eu num to entendendo o rumo desse prosa não! Quem é a sinhora?
−Eu sou aquela que pode lhe oferecer tudo o que você quiser! O inimaginável! Prazeres com os quais você nunca sonhou!
−Ói moça... Eu posso ta bêbo... Mais eu num sô burro! Isso daí... É a troco de quê?
− Quase nada! Pra começar, tire esse escapulário que você usa no pescoço!
− Meu escapulário? Não... Tem a image de minha madrinha sinhora Santana.
− É, onde estava sua madrinha quando seu cavalo foi esquartejado?
O caboclo engoliu um seco, parece que aquela mulher sabia onde apertar.
−A hora dele chegô... Como vai chegá a minha, Cuma qualqué vivente nessa terra!
−Não venha falar assim como não se importasse! Nós sentimos sua dor! Ouvimos seu desejo ardente de vingança! Além disso... Conhecemos seus desejos mais obscuros!
Estas últimas palavras, a dama misteriosa proferiu com um sorriso malicioso no rosto, acariciando a nuca do sertanejo.
− Renuncia a este Deus impiedoso que você segue! Nós lhe daremos poder para esmagar seus inimigos, traremos seu cavalo de volta. E Rosa... Ah, Rosa... Ela será toda sua! É pouco? Peça mais! É só dizer! Tudo o que você quiser está ao seu alcance!
− Nóis... Eu já intendi! Sai pra lá fia do capeta! Coisa ruim! Vai de retro! Vorta pros quinto dos inferno que é teu lugá! Sangue de Cristo tem podê!
Naquele momento, a mulher de vermelho começou a se contorcer, e emitir um som como se fosse um animal ferido. Depois sumiu, como se sugada pele terra, bem diante dos olhos de Zé Francisco, que caiu no chão na mesma hora.
Acordou novamente, desta vez foi desperto por um homem que segurava um candeeiro.
− Amigo... Você esta bem?
Lentamente o caboclo levantou a cabeça. Com um olho aberto e outro fechado encarou aquele homem. – baixe o candinhêro pr`eu vê sua cara!
O homem obedeceu.
− Louvado seja nosso Sinhô Jesus cristo! Falou o caboclo, desconfiado.
− Para sempre seja louvado! Deixe eu lhe ajudar, vou levar você para sua casa.
Zé Francisco nada respondeu, estava tão embriagado que mal conseguia andar. O homem do candeeiro apoiou o caboclo em seus ombros e o conduziu para casa. Durante o caminho o sertanejo puxou conversa.
− O sinhô num vai acreditá! Mais o diabo apareceu pra mim inda agorinha, na forma de uma muié! Me prometendo o mundo e o fundo!
− Eu acredito sim! Às vezes ele tenta testar as pessoas, principalmente as mais especiais!
− especiais? Eu num tenho nada de especial não seu moço... Só tenho o dia e a noite!
− Não diga isso! Você é especial para Deus! Ele sempre vai olhar por você! Por isso o outro lado sempre vai tentar abalar sua fé!
De repente os dois estavam diante da porta da casa de Zé Francisco
−Já?...Eí! Eu num tinha lhe falado onde era minha casa... Tinha?
O homem sorriu para ele e foi descendo a rua com seu candeeiro, até sumir na bruma.
−Crê em Deus pai todo poderoso!
quinta-feira, 4 de março de 2010
COISAS DA VIDA,MINHA NÊGA...
João Almeida
EU TINHA UMA CASA QUE NUNCA ESTEVE DE PORTAS FECHADAS...
NO MURO DA MINHA CASA NÃO TINHA CACO DE VIDRO...
NA MINHA CASA PERNOITOU VIAJANTES...
E QUANDO DE VOLTA DE VIAGENS PERDIDAS
SE ATIRARAM PELOS CANTOS DAS MINHAS NOITES
E CRUZARAM O CORREDOR DA MINHA PACIENCIA
QUANDO EU ACHAVA QUE JÁ O HAVIA PERDIDO.
ENTRARAM TANTOS , TANTO NA MINHA CASA ,
COMO NO MEU CORAÇÃO...
SAIRAM PELA MANHÃ SEM UM ATÉ LOGO,
DEIXANDO ALGUNS PACOTINHOS DE INGRATIDÃO...
MESMO ASSIM AINDA SENTI SAUDADES....
MESMO ASSIM AINDA SINTO SAUDADES
POR NADA TER SIDO COMO NA MINHA IMAGINAÇÃO.
VOEI
E NA VOLTA NÃO ACHEI MAIS O MEU NINHO...
VOEI ATOA, ATOA,
ATÉ NÃO PUDER MAIS...
ENTÃO POUSEI...SOB OS OLHOS ARREGALADOS
INDICANDO A MINHA ROTA DE VOLTA
ANTES DE ATÉ MESMO TER DESCANSADO.
“A Casa, que nunca fechou suas portas,
Era um sonho,
Era um recanto...
Mas hoje não se sente mais
O cheiro forte de café,
Nem do feijão safado...”.
EU TINHA UMA CASA QUE NUNCA ESTEVE DE PORTAS FECHADAS...
NO MURO DA MINHA CASA NÃO TINHA CACO DE VIDRO...
NA MINHA CASA PERNOITOU VIAJANTES...
E QUANDO DE VOLTA DE VIAGENS PERDIDAS
SE ATIRARAM PELOS CANTOS DAS MINHAS NOITES
E CRUZARAM O CORREDOR DA MINHA PACIENCIA
QUANDO EU ACHAVA QUE JÁ O HAVIA PERDIDO.
ENTRARAM TANTOS , TANTO NA MINHA CASA ,
COMO NO MEU CORAÇÃO...
SAIRAM PELA MANHÃ SEM UM ATÉ LOGO,
DEIXANDO ALGUNS PACOTINHOS DE INGRATIDÃO...
MESMO ASSIM AINDA SENTI SAUDADES....
MESMO ASSIM AINDA SINTO SAUDADES
POR NADA TER SIDO COMO NA MINHA IMAGINAÇÃO.
VOEI
E NA VOLTA NÃO ACHEI MAIS O MEU NINHO...
VOEI ATOA, ATOA,
ATÉ NÃO PUDER MAIS...
ENTÃO POUSEI...SOB OS OLHOS ARREGALADOS
INDICANDO A MINHA ROTA DE VOLTA
ANTES DE ATÉ MESMO TER DESCANSADO.
“A Casa, que nunca fechou suas portas,
Era um sonho,
Era um recanto...
Mas hoje não se sente mais
O cheiro forte de café,
Nem do feijão safado...”.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Traduzir-se
Ferreira Gullar
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
EU SEI QUE TUDO PASSA!
Apesar do meu peito cheio das porcarias que o tempo me serviu enquanto eu estava tonto de tanto sonhar, faço um esforço para escrever, ler e ir vivendo, filosofando para me afastar do lago encantado que chama para o mergulho as desilusões. Ainda consigo esquecer de mim , “mim” que só tem eu para lembranças, exclusivamente para sangrar tristezas ao me ver responsável pelos desencontros dos meus, gerados do meu gozo mas principalmente da minha vontade. É uma tristeza que não tem como se avaliar o seu tamanho diante da pequenitude da importância que se dá à uma agonia implantada, e que portanto ninguém tem nada com isso.
Numa noite clara e enluarada, Nasrudim vai ao poço tirar água. Ao olhar para baixo, vê o reflexo da lua brilhando na água e na mesma hora diz:
- Nossa, coitada da lua, ela caiu dentro da água! Espere lua, que eu já vou tirá-la daí!
Nasrudim vai correndo até a sua casa e volta com uma corda com um gancho de ferro amarrado na ponta. Rápidamente atira a corda dentro do poço, gritando de forma encorajadora:
- Vamos lua, força, agarre firme que eu já puxá-la para fora daí!
Mas aconteceu que a corda ficou presa numa grande pedra no fundo do poço e Narudim precisou puxar com toda a sua força.
“Ufa!” – pensou Nasrudim com os seus botôes. “Mas como a lua é pesada!”
De repente, a corda se solta num tranco e Nasrudim cai de costas no chão.
Quando consegue recuperar o fôlego, ainda estendido no chão, ele se depara com a lua no céu, brilhando no meio das estrelas.
Então Nasrudim diz à lua:
- Não foi nada fácil, mas conseguimos, heim lua! Que sorte a sua eu ter chegado bem a tempo de poder ajudá-la! Foi um prazer estar a seu serviço.
Adeus lua, e boa noite!
EU GOSTARIA QUE A HARMONIA FOSSE LUA POR UM DIA E QUE EU CHEGASSE A TEMPO DE TIRA-LA DO POÇO.
JOÃO ALMEIDA
Numa noite clara e enluarada, Nasrudim vai ao poço tirar água. Ao olhar para baixo, vê o reflexo da lua brilhando na água e na mesma hora diz:
- Nossa, coitada da lua, ela caiu dentro da água! Espere lua, que eu já vou tirá-la daí!
Nasrudim vai correndo até a sua casa e volta com uma corda com um gancho de ferro amarrado na ponta. Rápidamente atira a corda dentro do poço, gritando de forma encorajadora:
- Vamos lua, força, agarre firme que eu já puxá-la para fora daí!
Mas aconteceu que a corda ficou presa numa grande pedra no fundo do poço e Narudim precisou puxar com toda a sua força.
“Ufa!” – pensou Nasrudim com os seus botôes. “Mas como a lua é pesada!”
De repente, a corda se solta num tranco e Nasrudim cai de costas no chão.
Quando consegue recuperar o fôlego, ainda estendido no chão, ele se depara com a lua no céu, brilhando no meio das estrelas.
Então Nasrudim diz à lua:
- Não foi nada fácil, mas conseguimos, heim lua! Que sorte a sua eu ter chegado bem a tempo de poder ajudá-la! Foi um prazer estar a seu serviço.
Adeus lua, e boa noite!
EU GOSTARIA QUE A HARMONIA FOSSE LUA POR UM DIA E QUE EU CHEGASSE A TEMPO DE TIRA-LA DO POÇO.
JOÃO ALMEIDA
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