quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Oração à árvore


Veiga Simões, Arganil, Portugal, 1914


Tu que passas e ergues para mim o teu braço,
Antes que me faças mal, olha-me bem.
Eu sou o calor do teu lar nas noites frias de inverno;
Eu sou a sombra amiga que tu encontras
Quando caminhas sob o sol de Agosto;
E os meus frutos são a frescura apetitosa
Que te sacia a sede nos caminhos.
Eu sou a trave amiga da tua casa,
A tábua da tua mesa, a cama em que tu descansas
E o lenho do teu barco.
Eu sou o cabo da tua enxada, a porta da tua morada,
A madeira o teu berço e o aconchego do teu caixão.
Eu sou o pão da bondade e a flor da beleza.
Tu que passas, olha-me e não me faças mal.

Veiga Simões, Arganil, Portugal, 1914

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Leilão de Jardim


Cecília Meireles



Quem me compra um jardim com flores?
borboletas de muitas cores,

lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?

Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?

Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?

E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?

(Este é meu leilão!)


Infância

Wilson Pereira

Eu fui meu
como o espaço
era do pássaro.
Eu me soltava
em cantos e plumas
pelos campos da manhã.
Eu brincava comigo:
eu era eu
e o meu amigo.
Eu me falava baixo
para não espantar
o meu silêncio.
Eu era pequeno
e imenso

As Pequenas Palavras

Rosa Lobato de Faria

De todas as palavras escolhi água,
porque lágrima, chuva, porque mar
porque saliva, bátega, nascente
porque rio, porque sede, porque fonte.
De todas as palavras escolhi dar.

De todas as palavras escolhi flor
porque terra, papoila, cor, semente
porque rosa, recado, porque pele
porque pétala, pólen, porque vento.
De todas as palavras escolhi mel.

De todas as palavras escolhi voz
porque cantiga, riso, porque amor
porque partilha, boca, porque nós
porque segredo, água, mel e flor.

E porque poesia e porque adeus
de todas as palavras escolhi dor.


Autobiografia

Olegário Schmitt

Meus sapatos são canetas.
Não deixo rastros,
deixo letras.


Meus caminhos são poemas.
Não deixo lágrimas,
deixo tremas.


Assim vou andando
na minha estrada de papel,
pendurando as estrelas
num cordel.

Olegário Schmitt

Sei que é preciso sonhar.

Thiago de Mello

Campo sem orvalho, seca
A frente de quem não sonha.

Quem não sonha o azul do vôo
perde seu poder de pássaro.

A realidade da relva
cresce em sonho no sereno
para não ser relva apenas,
mas a relva que se sonha.

Não vinga o sonho da folha
se não crescer incrustado
no sonho que se fez árvore.

Sonhar, mas sem deixar nunca
que o sol do sonho se arraste
pelas campinas do vento.

É sonhar, mas cavalgando
o sonho e inventando o chão
para o sonho florescer.

Thiago de Mello

Novo Dia

Marla de Queiroz

Se, ao acordar, posso escolher uma roupa, posso escolher também o sentimento que vai vestir meu dia.
Se, no percurso, posso errar o caminho posso também escolher a paisagem que vai vestir meus olhos.
A mesma articulação que tenho para reclamar tenho para agradecer.
E, se posso me adornar com a alegria, não é a tristeza que eu vou tecer.



Cheia De Luz!

Caio Fernando Abreu



E o mais bonito foi quando ela descobriu,
que podia ouvir e entender estrelas.
Só quem ama pode."

Caio Fernando Abreu

TOMARA


Ana Jácomo

Tomara que os nossos enganos mais devastadores não nos roubem o entusiasmo para semear de novo. Que a lembrança dos pés feridos quando, valentes, descalçamos os sentimentos, não nos tire a coragem da confiança. Que sempre que doer muito, os cansaços da gente encontrem um lugar de paz para descansar na varanda mais calma da nossa mente. Que o medo exista, porque ele existe, mas que não tenha tamanho para ceifar o nosso amor."


Vim Me Buscar

Ana Jácomo

"Vim aqui me buscar, com medo e coragem. Com toda a entrega que me era possível. Com a humildade de quem descobre se conhecer menos do que supunha e com o claro propósito de se conhecer mais. Vim aqui me buscar para varrer entulhos. Passar a limpo alguns rascunhos. Resgatar o viço do olhar. Trocar de bem com a vida. Rir com Deus, outra vez. Vim aqui me buscar para não me contentar com a mesmice. Para dizer minhas flores. Para não me surpreender ao me flagrar feliz. Para ser parecida comigo. Para me sentir em casa, de novo. Vim aqui me buscar. Aqui, no meu coração."



segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Como a noite descesse...

Emílio Moura

Como a noite descesse e eu me sentisse só, só e
desesperado diante dos horizontes
que se fechavam,
gritei alto, bem alto: ó doce e incorruptível
Aurora! e vi logo que só as estrelas
é que me entenderiam.
Era preciso esperar que o próprio passado
desaparecesse,
ou então voltar à infância.
Onde, entretanto, quem me dissesse
ao coração trêmulo:
— É por aqui!

Onde, entretanto, quem me dissesse
ao espírito cego:
— Renasceste: liberta-te!

Se eu estava só, só e desesperado,
por que gritar tão alto?
Por que não dizer baixinho, como quem reza:
— Ó doce e incorruptível Aurora...
se só as estrelas é que me entenderiam?

Retina

Marcelo Roque

Não queiras para ti a flor
arrancando-a da terra e assim
condenando-a a morte
Apenas guarde-a em teus olhos
Pois assim a terás para sempre

Da pior ternura


Chorar, só se ficasse assim parada, sentada quieta na cozinha. Mas sem soluço, os marejares rasos

02/02/2012

Ana Santos

“A vida é amarga e doce?” Adélia Prado

A mãe tinha jeito de bailarina: o passo delicado, as pernas pra lá e pra cá o dia inteiro.

Achava lindo ganhar gardênia, ah se teu pai me desse gardênia. Mas nem sabia que flor era, que cheiro tinha. Gostava era do nome, palavra assim, de verso.

Ela tomava café com barulho, comia pão rápida, alegre, a boca um pouco aberta, que era pra rir de tudo o que eu dizia, e eu aos sete dizia muito. Que ia ser jardineiro, plantar gardênia aos milhões. Só tinha livro de amor. Terminado o serviço, tomados os banhos, punha vestido de estampa e sentava no quintal, o cabelo molhado, a comer tangerina e ler baixinho, cochichando. Às vezes suspirava e o olhar longe, a testa franzida.

Ouvia compacto e cantava. Eh, como a senhora desafina! Então dançava segurando a saia, Borralheira em baile.

Quando escrevia carta, fazia cara seriíssima e começava assim: “Saudações!”, a letra bonita, redonda.

Bom era fazer sol pra mãe lavar roupa, estendê-la no varal, refestelar-se lagartixa até dizer mas que mormaço! e buscar a sombra da ameixeira. Se chovia, desenhava bicho. Me faz um lindo dum pombo azul, dum gato amarelo, dum peixe da escama vermelha — e o pombo e o gato e o peixe, mas sempre o sem cor, que ela tinha pressa. O pai: eh, artista!

Era passar avião que ela corria a olhar feito boba, ainda mais se fosse a jato. O risco que ele deixa, retinho, retinho... deve de dar lá no Japão!

Andava nem de bicicleta, mas queria que eu sei, uma vez o pai saiu em rodas e ela disse: que beleza, né, se pedalar-se...

A vez que teve festa na praça, ela estava feliz demais, vestiu a gente em roupa nova, engomada, chamou o pai pra dançar e ele foi, resmungando, achando que aquilo não podia estar certo. Mas se pisaram tanto os pés que o pai acabou rindo, um riso assim de quem não tem dente, envergonhado. Aí a mãe riu como se o resto do mundo fosse triste, e meu coração doeu da pior ternura.

Chorar, só se ficasse assim parada, sentada quieta na cozinha. Mas sem soluço, os marejares rasos. É que a gente pensa umas bobage...

Quando morreu, ficamos o pai e eu sem ter o que fazer. De outono a outro, os dois zanzando pela casa, inexistidos. Um dia ele disse com raiva: vamo queimá os desenho tudo. E recolheu monte de folhas, calhamaço. Mas não fez fogo. Pegou nuns lápis e foi pintando, vagaroso, dando azul pra pombo, vermelho pra peixe.


Doce de buriti


Abraçou e beijou aquele filho como fosse um soldado partindo para a guerra, tive de sair de perto pra não cair em prantos

15/02/2012

Jade Percassi

Ilustração: Kanelstrand/CC

– Quando crescer, ninguém mais vai mandar em mim! Vou-me embora pro sertão!

– E você lá sabe o que é o sertão, minha filha? – meu avô perguntava, desafiador.

Não, eu não sabia. Achava que os mapas, pintados pacientemente nas aulas de geografia, significavam coisas que eu não alcançava entender. De ouvir dizer, de ler notícias, respondia de pronto que era uma região do nosso país, que se estende por boa parte da Bahia, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí; por todo o Ceará e por uma pequena parte do Sergipe, Alagoas e o norte de Minas Gerais. Que lá chovia muito pouco, e o clima era chamado de semiárido porque lembrava o deserto. Empostava a voz: a seca traz muitos problemas para as pessoas, que sofrem com a perda de suas lavouras e com a falta de água para beber. Meu avô riu de se dobrar. “Menina atrevida!”, resmungou. Deu um último gole, cantarolou o Assum Preto e saiu sem dizer mais nada.

Pois um dia eu tive de ser moça e me embrenhar por aí. Quando não, já estava atravessando o Velho Chico de balsa de tronco, tremendo de medo daquilo virar. Na última cidade da Bahia, o ônibus diário já havia saído. Ter de pedir carona para a polícia militar até a fronteira do estado era apenas o começo da longa jornada. Era dezembro, mas as chuvas não haviam dado o ar da graça. De Avelino Lopes em diante a lotação (uma caminhonete D20 a gás) teve toda a sorte de imprevistos. Depois de algumas horas, comecei a acreditar que o Piauí era o lugar mais distante do país... mas chegamos todos vivos a Curimatá.

Neto voltou nos fundos da casinha onde morava com pai e mãe até aquele dia. Se foi buscar alguma coisa ou se por instinto, dar uma última olhada na infância que deixava pra trás, nunca saberei... O menino vestia uma camisa alvíssima, sapatos de-ir-à-missa, e carregava um pequeno embornal ao qual se agarrara. Olhava firme para frente e respondia com monossílabos as minhas tentativas de interagir. A mãe havia nos recebido com todas as honras que podia, o cuscuz com o leite da cabrita do quintal. A folhinha na parede com Nossa Senhora e as prateleiras quase vazias, forradas de tecido, deixavam transparecer o cuidado daquela mulher com seu mundo.

Abraçou e beijou aquele filho como fosse um soldado partindo para a guerra, tive de sair de perto pra não cair em prantos. “A bênça, mãe” murmurou enquanto subia na boleia. Em Redenção do Gurgueia, mais passageiros. Naquele tempo, os caminhões não tinham nenhum dispositivo de controle via satélite; em muitos casos era a única alternativa de transporte público na região. Sacoleja daqui, sacoleja de lá, já era noite quando chegamos pelas ruas de terra de Bom Jesus. Parte do povo desceu na praça. Olhei para Neto, que não piscava os olhos. Pediu ao caminhoneiro se podia dormir ali mesmo. Posso ficar pra cuidar dele, pensei. No dia seguinte, era voltar pra estrada e tentar conseguir outro caminhão até pelo menos Cristino Castro... Acordamos com mosquitos e sol escaldante.

Horas na estrada e viva alma aparecia. “Tão indo pra onde, Dona?” o motorista de um ônibus surgido do nada indagou. Neto, mais que depressa, puxou a barra de meu vestido:

– Diz que a gente vai pro Canto do Buriti, senão ele não leva!

Enfim, nos tornávamos cúmplices. Durou pouco. Moleque, quase me tira do sério – não é que me confundi? “E a senhora disse que tá estudando pra ser professora, hein? Vai precisar de estudar muito, pelo jeito, viu moça?” Ora, buriti, juriti, tudo muito parecido... em nosso umbigo sudes tino. Achei que a cidade tinha esse nome por conta do canto do passarinho! Escutei sua risada acanhada se transformar num riso frouxo, de perder o ar. Quantos anos teria?

Dez, onze no máximo. Estava indo para uma cidade maior, onde viviam uns parentes, pra estudar o ginásio. Será que voltaria um dia? Fui interrompida em meus pensamentos. O motorista gritou sem aparentar qualquer constrangimento: “Alguém tem coragem de descer em Eliseu Martins?”. Uma senhora de mais idade desceu, corajosa, em frente à igrejinha de uma torre só, com tudo o que cabia no bagageiro – malas, colchão, fogão, galinhas. Vinha ajudar a filha um tempo, que tinha dado a luz a gêmeos, explicou em voz alta.

Dizem que hoje em dia esse trajeto leva três horas, no máximo. Deve ser conversa. Levamos o dia todo. De noite, na rodoviária, tínhamos fome, sede e quase dinheiro nenhum. Neto tratou de caçar o cajueiro mais próximo, voltou com os bolsos cheios de caju madurinho. Brinquei: “Faltava só uma branquinha pra acompanhar, né? Mas não pode não, que você ainda é menino...”. Embrabou. De cenho franzido, disse sério que já tinha nascido homem, que nunca fora menino. Ficamos em silêncio umas tantas horas, até o momento da despedida, sofrida e inevitável. Ele seguiria para São João, eu tinha de subir para Floriano, tentar romper o ano em Teresina. Seguimos para o guichê improvisado da lotação, tirou do embornal uma bolsinha costurada pela mãe e entregou tudo o que tinha dentro. Encontrou por ali um amigo de seu tamanho, cochicharam um tanto; dali a pouco voltou com as mãos pra trás.

– Escolhe uma mão!

Era uma caixinha de fibra, com doce de buriti. Neto agarrou minha mão e não queria mais largar.

– Professora, se a senhora não voltar nunca mais pro Piauí um dia vou lá em São Paulo te visitar...

Virou as costas e correu. Embarquei com o coração apertado. Não havia aparelho de mp3, nem walkman tinha; ficava Conterrâneos tocando dentro da minha cabeça... Lembrei do meu avô, de seu brio e da saudade do seu Nordeste. Fiquei imaginando essa viagem ao contrário, com menos condição ainda, quantos anos atrás. Tive vontade de dizer a ele que agora sabia sim o que era o sertão, que ele era maior e mais bonito no Piauí. Que lá tem a seca mas já tem milhares de cisternas, e as pessoas amam muito sua terra e pensam mil vezes antes de embarcar num pau de arara modernizado da Itapemirim. Que tem um povo aguerrido, bem-humorado e muito justo, que construiu cidades e povoados como Mudança, Boa Hora, Estaca Zero; Segredo, Sossego e Alegria; Peixe, Jacaré, Gato e até Tamanduá. Que no sertão tem medo de Num-Se-Pode e do Cabeça-de-Cuia, e tem Neto e sua família, e o doce de buriti.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

São Os Olhos


Rubem Alves


"Agora, ao final de nossas andanças, nossos olhos são outros,
olhos de velhice, de saudade.
Toda saudade é uma espécie de velhice.
É por isso que os olhos dos velhos vão se enchendo de ausências.
'Memória fraca', dizem os jovens.
Engano: é que a sua alma sabe o que merece ser lembrado.
Esquecem-se do que aconteceu ontem, mas se lembram do que aconteceu há muito tempo, como se fosse hoje."


Rubem Alves

Quero!

Fernanda Mello.

“Sigo a vida conforme o roteiro, sou quase normal por fora, pra ninguém desconfiar. Mas por dentro eu deliro e questiono. Não quero uma vida pequena, um amor pequeno, um alegria que caiba dentro da bolsa. Eu quero mais que isso. Quero o que não vejo. Quero o que não entendo. Quero muito e quero sem fim. Não cresci pra viver mais ou menos, nasci com dois pares de asas, vou aonde eu me levar. Por isso, não me venha com superfícies, nada raso me satisfaz. Eu quero é o mergulho. Entrar de roupa e tudo no infinito que é a vida. E rezar – se ainda acreditar – pra sair ainda bem melhor do outro lado de lá.”

Fernanda Mello.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Favo de Mel

Sergio Mendes, Carlinhos Brown y Siedah Garret


E aí, meu rio!

Vou levando a alegria, junto carrego o amor
Dia de festa, salve a floresta
Hoje tem baile onde for
Hoje o dia está lindo, o som já nos despertou
Quando o amigo, alto cantou, toda a floresta acordou

Dentro de mim a esperança, quero aprender a voar
Esse é meu sonho, desde criança
Venha comigo
Levanta, é hora de encontrar o céu
A gente se ama, e anima o favo de mel

Levanta, é hora de encontrar encontrar o céu
A gente se ama, e anima o favo de mel

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Das terras de Benvirá

O anel que tu me deste
eu quardei pra me ajudar
construi numa viola
de madeira o teu altar
o amor que tu me tinhas
eu roubei pra me salvar
toda hora em que a danada da saudade
me pega

Joema dos olho claros
bem verdes das cor do mar
me dava tanta alegria
que eu não preciso sonhar
basta me lembrar agora
das coisas que deixei lá
Joema sempre esperando
na praia do grande mar

Waldomiro das estrelas
não podia se encontrar
tinha tudo que queria
dizia tudo há pintar
olhando pro céu de frente
perdido sempre em chegar
Waldomiro das estrelas
pedia para voltar

que faço agora Maria
que faço agora diz já
de longe que eu ouço hoje
as coisas que vão voltar
em ti em ti e comigo
agora no Deus dará
das coisas de todo mundo
na vida do bendirá

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

LONGITUDES

RODRIGO DE SOUZA

a cidade cresceu
além dos limites da minha infância
subiu montanhas
engoliu pastos e bois
secou
pequenos lagos
calou
corujas e sapos
apagou vagalumes
derrubou árvores
arrancou
roseiras e pomares
bulêmica
a cidade vomita
saudade
do chão de terra que já não se vê

domingo, 19 de fevereiro de 2012

uma canção antiga na língua da tarde

Nydia Bonetti

sem alarde
invade
vidraças
dissoluta atravessa cortinas
dissolve véus
vestidos
vestígios do dia - quer tocar na pele
nua
que se insinua
ao ouvir a canção - epifania - estrelas
em meio aos escombros
lua cheia - qualquer ruído será
música

rebeladas penas

NIDIA BONETTI

é tanto sol
que uma pena da minha asa preguiçosa se soltou

voou leve lá fora

do meu ninho pude ver o vôo silencioso das penas
que flutuam

outras tantas se rebelam agora - mal posso contê-las
ansiosas asas se contorcem

e o vento e o sol e o vento - fui... ganhei o céu