sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

SONHOS E REALIDADE


(AD)


O sonho tem pupilas dilatadas, cílios longos e a íris colorida sempre pintando a realidade com tons mais vibrantes, basta o silêncio e ele vem como uma música, orquestrando as histórias guardadas, interrompidas, mas jamais esquecidas. Eu tenho sorrisos estampados no vestido e, nos meus olhos, um mar aberto, pronto para viagens, porque a vida é um milagre. O tudo e o nada caminham de mãos dadas. Tudo pode acontecer no intervalo entre essas duas notas, é como se fosse o nascimento e a morte, e, bem no meio, a vida, sim, porque não basta nascer para se estar vivo. É preciso mais que isto, mais que um coração batendo, é preciso ter a alma pulsando e um guerreiro sempre pronto para a travessia. No espaço entre essas duas notas pode caber uma sinfonia, para quem traz nas mãos a batuta do sonho. Delirar é preciso, nesse sobreviver impreciso. Ainda que me roubem horizontes, reinvento outros, acendendo o sol na escuridão mais profunda do mar, que sou eu mesma. E o oceano, enfim, vira uma grande lamparina a clarear os sertões da alma. Tenho reservas de água, líquida e cristalina, cristais de luz que algumas sombras tentam me furtar. Mas sempre escapo, escorrendo entre as fendas, essas pequenas fissuras que atravessam a realidade e tornam a vida possível, despressurizando o insuportável dos dias. Esse intervalo não é uma pausa, ao contrário, é cheio de música. É quando saímos de cima do muro, cansados de esperar respostas. A resposta só eu mesma posso me dar, ela está em mim, no durante. Eu sou a ecoante pergunta e a misteriosa resposta. O início, o fim e o meio. Falta-me, talvez, coragem. Então, as fendas me arrastam em suas correntezas, e, de surpresa, me dizem – vai!– E, sem tempo pra pensar, eu vou, pois só a surpresa pode devolver-me manhãs fresquinhas com gostinho de morangos em calda. E eu quero me lambuzar inteira, desse presente que a vida me dá, de repente. Não desperdiço nada, já bastam os desperdícios no mundo, tanta escassez de tudo.

Até mesmo o amor, que deveria ser o maior presente para todos os dias, tornou-se ameaça, pois não queremos perder o controle, o poder, e amar, nos torna vulneráveis. Amar é bicho perigoso, nessa Atlântida que os homens construíram, é uma ameaça à manutenção de suas geleiras, pois o amor é incandescente! Enquanto o colocamos em cubos de gelo, a indiferença superaquece as esquinas das cidades, onde a fome escancara um sorriso sem dentes, e a gente preparando banquetes para celebrar o nascimento de Cristo, símbolo de fraternidade. Contraditório demais tudo isso. Não observamos que as pessoas mais felizes não têm as melhores coisas, mas fazem com o que possuem uma grande festa, uma celebração! Não quero receber nada, quero, apenas, me ofertar inteira, ao menos enquanto durar esse pequeno intervalo, onde cabe a eternidade. A eternidade acontece, quando não temos compromisso com o tempo. Mas os relógios dos homens tentam controlar os destinos, marcando horários para tudo. Dormimos pouco, talvez para que sonhemos menos. Contudo, para quem tem a batuta nas mãos, o sonho torna-se real a cada movimento, a cada nota que vai compondo a melodia dos dias. Sonho com olhos bem abertos! Acho que é por isso que me dizem que eles sempre parecem estar contando algo, olhos que saltam no escuro das coisas, pois sabem que no fundo de tudo existe luz. Até mesmo no fundo da alma do pior algoz, há uma dor que o fragiliza em algum ponto. Ser humano é isso, ser o herói e o carrasco de si mesmo, a luz e a escuridão, o começo e o fim. Contudo, o “ás” desse jogo está no meio, na metamorfose. Entre a crisálida e a borboleta está o segredo para os futuros vôos. Em essência, somos almas, e almas são encantamentos, nunca terminam, atravessam o espaço e constroem pontes sem ao menos se tocar, porém são capazes de sentir cheiros e gostos das coisas à distância, até mesmo amar, pois o amor acontece no etéreo, puro mistério, amor é surpresa.

Milagre? O ser humano é um milagre, é uma promessa, e promessas não cumpridas machucam. Não posso desistir. Farei tentáculos dos meus sentidos, e agarrarei a vida luminosa no fundo da escuridão do mar. Mergulharei no espelho, até que desapareça a imagem, e descobrirei que, por dentro, tenho o sertão, mas, também, a água, sempre em movimento, que é a alma. Se tentarmos represá-la, os tsunamis acontecerão por dentro de nós. Então, pinto os olhos do medo de azul da cor do mar, prontos para a onda que pintar! Contudo, o meio, onde são guardados os segredos, será pintado de vermelho: vida e revolução, desejos à flor dos ventos que sopram os encontros, atração dos corpos e almas, que carregam na palma da mão o destino, esse fio misterioso que nos puxa pra lá e pra cá, até alinhar os caminhos!...

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