MILA BORGES
Leve como uma pena estava eu a flutuar no meio de um sonho.
Eu tinha ciência de que sonhava, mas não podia nem queria me despertar...
No sonho tudo é tão lúdico quanto encantado! As dimensões pregam peças aos nossos olhos, e o tempo, tem um tempo diferente...
Meus pensamentos são empíricos, portanto, me sinto em casa e de pernas pro ar...
Tenho apenas uma pequena noção dos espaços... Meu subconsciente se encarrega dos detalhes.
Dou cambalhotas ao vento e saltito de nuvem em nuvem, porque aqui, a gravidade obedece a minha lei. E a minha lei é a liberdade!
Neste
sonho, leve eu estava e leve eu voava para dentro de mim mesma...
Mergulhava em sangue vermelho vívido, escorregava feito como se
escorrega em tobogã por artérias e veias... Glóbulos brancos bailavam,
pulsavam, brincavam de fazer o corpo funcionar!
Meu corpo todo era energia e emanava uma luz azul brilhante, como água do mar que brilha ao ser tocado pelo sol!
Era eu, inteirinha pulsando em sonho! Viva para aquela doce realidade ilusória...
Joguei-me então no mar dos meus desejos, onde cores, sabores e aromas explodiam em mim, como fogos de artifício.
Tudo brilhava em águas brandas e mornas. Era uma acolhida!
Peixinhos
fluorescentes nadavam comigo e rodeavam meu corpo, cantando cirandas e
rodando, rodando, como o mundo que gira, e gira e a gente não sai do
lugar! Em coro, nós cantávamos e sorríamos em reverência ao lindo sol
que despontava no Céu, um Céu cada vez mais azul anil!
Ondas me
levavam para lá e para cá e num repente estava eu imersa em fantasias e
flores, todas as flores, de todas as cores, como num sólido jardim
gigante! Estava eu tão miúda, sendo pólen de flor, eu estava germinando!
Era eu donzela rosa, a procura de um cravo bem amarelo! Eu tocava com
meus olhos o horizonte, mas não via o cravo. Todas as cores e onde está o
amarelo? Eu não via!
Era eu rosa cor de rosa a procura de um amarelo... Distraí-me com o colorido da borboleta!
E que linda borboleta! Fui com ela plainando sobre os girassóis! Borboletando, borboletando!
E nos girassóis, meu amarelo apareceu para me abraçar tão docemente... Que sensação agradável!
Quanta alegria resumida nas cores das flores! No bater das asas da borboleta bonita!
Como
num passe de mágica, surgiu ao longe, para acariciar meus olhos, um
encantador arco íris! Feito de tinta guache e purpurina!
Era a confirmação de que as cores me sorriam! Parte de um sonho embrulhado para presente!
Aceitei de muito bom grado!
Corri para verificar se acharia nas extremidades do arco íris um pote de ouro e mel!
Uma
chuva bem fininha começou a cair, mas não era água o que as nuvens
derramavam. As nuvens se desfaziam em jujubas coloridas! Cores! Mais
cores! E mais!
Doces!
Que doce sonhar!
E o que achei na
extremidade do arco íris foi algo ainda maior e mais bonito que ouro! De
um esplendor fantástico! Era um universo azul royal, com estrelas
prateadas piscando, faiscando fagulhas de paz para alegrar a lua! Havia
uma festa naquela noite! Pois é, anoiteceu e tudo se iluminou.
Era um prateado tão intenso e belo que meus olhos lacrimejavam de emoção...
Na festa noturna e prateada, teve valsa e teve samba... Os astros se reuniram para sonharem junto comigo...
Cometas, luas, estrelas, sóis... Eu, estrelando um sonho meu!
Eis que um relógio feito de ouro badalou as horas do fim...
Mas já?
Ahhhh não! Só mais um pouquinho...
Porém o despertar estava quase, quase...
Agarrei-me a uma estrela cadente e desci com ela para o solo macio e fofo, feito de lençóis e colchões e almofadas e...
Abri os olhos...
Era dia!
Foi um sonho tão bom e tão lindo...
Fiquei
um tantinho ainda deitada, olhando para o teto do meu quarto
relembrando cada momentinho do que naquela noite, vivi sonhando...
Levantei-me.
Quando de repente pus a mão nos bolsos do pijama e...
Oh! Que surpresa...
Em um bolso havia jujubas coloridas...
No outro, um lindo girassol amarelo!
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