segunda-feira, 9 de agosto de 2010

AINDA QUERO MOSTRAR MEU SORRISO

João Almeida
Eu do meu canto quero o que?
Muita coisa que não tem volta apenas passa pela memória, eu já sei...
Mas era tão bom ter voz, ser bem ouvido, participar e decidi.... os resultados nem sempre eram os esperados, mas tinham confiança em mim....sempre fui bem lembrado.
Quando arrumei a mala e saí pelo portão azul, porque já era tempo, deveria ter registrado tudo, não fiz...talvez por sentir que o portão nunca se fechasse de vez. Assim, lá dentro ficaram tantos, tantos queridos!
No início uns telefonemas, convites para ir sentar na roda de gargalhadas, depois como se cada um viajasse, a separação.
Agora já não dá para fundar um clube agregando aquela turma boa, no mais é ser uma pessoa extranha e ir pedindo paciência à família, ou entendendo as ausências, afinal todos tem mais o que fazer. Cada um tem seu pedaço de solidão na aposentadoria, é como ver um estádio esvaziar e ficar sozinho na arquibancada assistindo o último jogador desaparecer no túnel.
Aposentadoria!.... pois sim...
Queimam-se valiosos arquivos, é certo que se abre novas páginas, mas nelas não está o palhaço, nem o riso de tantos, de modo que não é justo ironizar algo meio triste que digo ou que faço, talvez o que falte é ouvir uma boa piada e quem se interesse ser o “palhaço” pra mim.
Eu tentei fazer o mundo rir....
“O CIRCO FOI EMBORA PROMETENDO VOLTAR, MAS NUNCA MAIS VOLTOU. MAS NA VIDA É ASSIM MESMO, QUANTA COISA VAI EMBORA E NUNCA MAIS VOLTA.”.
.

MINHA LUA AZUL!

João Almeida
07de junho de 2010
Sei que quase ninguém vai acreditar que ontem eu e meus pensamentos nos encontramos com uma lua azul. Talvez Victor, Júlia acreditem, Matheus e Carol de jeito nenhum, e entre gargalhadas afirmarão:
Vovô está doido!
Maria, Iraci, Carla ,Tino e Jota desconversarão introduzindo no papo a escalação da seleção brasileira. Mas eu vi, eu vi a lua azul... o momento mais empolgante foi quando ela se escondeu atrás de uma nuvem de algodão e surgiu mais encantadora depois de uns minutinhos
Fiquei com o pescoço doendo de olhar para o céu, sabe! Me recostei na cadeira adormeci e sonhei....
No sonho fiquei criança mais ou menos do tamanho de Carol, e logo me meti no meio das brincadeiras deles. Na confusão do sonho hora nós corríamos pela sala da casa de Carla, noutras no corredor da casa de Jota e até embarcamos num trem em Osasco rumo a estação Carapicuíba, e por fim fomos parar na sombra da mangueira do Recanto Verde.
Não esqueçam que no sonho eu era criança e até tomei banho de mangueira e tomei pito de vovó Maria porque não queria dá a vez a Matheus. É , meu sonho trouxe Matheus e Victor para o sítio e se não tivesse na hora da lua azul desaparecer eu ia encolher todo mundo.... Carla, Tino, Iraci e Jota. Só deixava grande Maria pra tomar conta da gente.
Acorda! Menino velho!
Mas! e a minha lua azul?
Baboseiras! Hoje eu estou um pouquinho Ziraldo, do “Menino Maluquinho”.
Luto para aceitar que lembrar é saudável, que o importante é a realidade do presente, mas não é fácil sentir saudades sem sentir dor...
Andei pensando no reencontro de Maria com sua amiga de adolescência Dilail. Reencontro não, um achado! Graças a internet elas não precisaram ir para praça da Piedade participar do programa; “Procurando desaparecidos”. O que mais me entusiasma no reencontro foi o peso, a valorização da amizade que envolveu a nós todos. Como nem todo mundo tem a mesma sorte.... Aquela turma boa não era pra vida toda, demandaram outros caminhos É que é bom ter amigos, as coisa nunca serão realmente assustadora se você tiver um bom amigo.
Assim, sinto falta de Rubens... quantas gargalhadas, como era iluminado os nossos momentos. Mauro.... Gaucho moleque, assim que puder vou no Centro Gaucho com Maria, quem sabe eu não encontre meu amigo. Zé Maria! Fazia questão de mim, as vezes de pé, no “pé do balcão. Bem, podem até achar que aconteceu uma fuga, as vezes a gente fica desinteressante e principalmente para o novo. Pois então ? é por isso que só eu consigo ver, a minha lua azul.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

TIA GLADYS

MIGUEL FALABELA
Ela nos mostrou janelas que se abriam para janelas, como se profetizasse o futuro na sua maneira de contar histórias

Dia desses, o grande arquiteto espanhol Santiago Calatrava fez uma apresentação de seu belo projeto para o Museu do Amanhã, marcando o início da revitalização da zona portuária do Rio de Janeiro. Em dado momento, ele usou um retroprojetor e começou a mostrar, através de croquis, a gênese de seu projeto. Com um movimento ágil, ele traçou as curvas da baía, os morros, a praça Mauá, restabeleceu a relação da cidade com o mar, roubada naquela área pela horrenda e inexplicável perimetral, e nos encheu de um orgulho tão necessário nesses dias que correm. Foi de uma simplicidade e clareza admiráveis e a plateia assistiu encantada às imagens que iam brotando do traço elegante do artista, na tela que dominava a cena. Regina Casé estava sentada ao meu lado e depois me disse, quase um segredo, que tinha se lembrado de tia Gladys e do encantamento que o programa causava em toda a nossa geração.

Tia Gladys e seus bichinhos era o programa infantil da minha primeira infância. Na velha televisão em preto e branco, um móvel que imperava no centro da sala, eu e meus irmãos assistíamos encantados às histórias que a mulher loura e educada ia contando e, delícia suprema, rabiscando nas paredes brancas do estúdio. A ela era permitido rabiscar nas paredes, eu pensava, e me encantava com as histórias do sapo Godô e da formiguinha Gilda que, não por acaso, emprestava o nome ao maternal que eu frequentava. Ainda tenho guardada em algum lugar uma foto com a jardineira azul da escola.

Saí do píer imediatamente tomado pelas lembranças daquelas tardes aprisionadas no tempo, quando a vida era de uma simplicidade mágica. Nossa maior aventura era uma corrida até o trilho do bonde para abandonar ali uma garrafa de cerveja vazia que, mais tarde, devidamente triturada, serviria de base para o cerol que tornaria nossas pipas invencíveis nos combates aéreos. Mas isto era transgressão punida severamente e nem todos tinham coragem de se arriscar em tal empreitada. Isso era tudo. Não havia grandes eventos, a infância era pobre de coisas e plena de sonhos, porque havia a ideia de que uma folha em branco e um pedaço de carvão eram o bastante para libertar a mente das amarras do cotidiano e não foi à toa que a imagem da apresentadora ocorreu à atriz, assim que o arquiteto espanhol começou a nos deslumbrar com seu amoroso olhar para o Rio.

Não sei quanto tempo durou Tia Gladys e seus bichinhos. Acho que era na Excelsior, cujo jingle eu ouço agora, puxado do arquivo: “Do 2 eu não saio, nem eu, nem ninguém. Ninguém sai do 2, nem eu nem meu bem”. Não sei a quantas edições do mesmo eu assisti, mas acredito que uma única experiência já teria sido o bastante, porque a mensagem era clara para as crianças da minha geração. Ela nos mostrou janelas que se abriam para janelas, como se profetizasse o futuro na sua maneira de contar histórias. A nós foi oferecida uma tela branca que é o começo de tudo, ou um quarto escuro em que se acenda a luz para encontrar a personagem. Não importa. Tia Gladys nos oferecia não só a origem, mas a semente da criação e da possibilidade.
Nunca poderemos lhe agradecer o bastante.