14/08/2009
Dr. Sócrates ex jogador de futebol
A alma doída não cicatriza mesmo quando estamos acostumados com a insensatez dos que possuem os meios para nos esmagar com suas palavras amargas decorrentes sei lá do quê.
Choramos lágrimas surgidas bem lá de dentro do nosso ser, subindo as paredes da emoção com uma determinação que gravidade nenhuma jamais seria capaz de detê-las. E, lá no alto, irrompem como
a lava dos mais ativos vulcões. Em seguida, deixam-se levar pela face, como as límpidas águas de cachoeiras, como mantos divinos a cair sem queixas pelos ares inertes da natureza assassinada pela incoerência humana.
Infelizmente delas não conhecemos mais que isso, pois nunca poderemos estar sob a sua proteção, livres das agruras oferecidas desbragadamente pelos espíritos mais sórdidos.
O arrepio a desgrenhar os nossos, por todo o corpo, dobra-os como folhas secas de outono sem, no entanto, derrubá-los e finalmente livrá-los do destrato com que são vistos pelos caules fraudulentos que os acolheram durante a primavera mais florida.
Ficar sem razão mais dor nos causa, e o sentir sem culpa nos desespera perante o coração sangrante sentido aqui dentro, como uma hemorragia sem fim e sem paz. Cala nossa voz sem que dela possamos extrair a reação de que necessitamos.
Enforca nosso olhar, deixando-o sem luz e sem cor, muito menos com a profundidade da reflexão tornada fundamental para buscar o entendimento e o conhecimento da origem da lança certeira, a nos flagelar e congelar sem piedade.
Tudo se turva e se dobra à nossa frente. Nossos entes queridos sofrem em silêncio brutal, sem poder nos socorrer, já que as armas dessa guerra jamais lhes foram apresentadas.
É uma guerra sem vencedores desde sempre. Mesmo assim temos de fazer parte dela e escapar com vida, ainda que feridos na essência de nossa frágil existência. A face contrita dos que nos cercam nos endurece, faz padecer. Um sentimento de impotência nos toma por inteiro, imobilizando-nos na fraqueza expressa na impotência do grito a explodir na garganta, do gesto que nos apequena em uma gaiola sem portas e sem alpiste.
Contudo, somos poucos, ainda que muito engajados para esmorecer por tão pouco. Muito pouco parte daí e aí voltará, pois não há quem possa imaginar que alguns sentimentos menores possam enfrentar gigantes que se oferecem em sacrifício pela busca do que há de melhor no ser humano e no humanismo com o claro desejo de dias e homens melhores. Para que essa melhoria se expanda a cada gene que há de nascer, até que o nosso universo desapareça por completo.
Muito diferente desses seres que não conseguem enxergar que são finitos na infinita incapacidade de sentir compaixão pelo outro, como se esta fosse uma nojenta e insana forma de se sentirem seres sociais e sociáveis.
Não somos tiranos, muito menos estamos arraigados em alguma seita que explora os desavisados e ignorantes que nada têm. E o que têm enviam aos seres que deles só querem a vida como se dela utilizassem para sua pretensa imortalidade capitalista e mercantilista.
Não somos também ingênuos a ponto de esperar pelo possível em apenas uma encarnação ou geração, e sim um grupo de loucos por justiça, carinhos e solidariedade. Sonhamos com um mundo que se não for o ideal que dele se aproxime ou, pelo menos, que todos queiram construir com zelo e cuidado para que nada se desvie e desvirtue.
Não somos perfeitos porque a perfeição não faz parte de nossas possibilidades terrenas, muito menos imaginamos assistir a uma comunhão coletiva de ideias semelhantes para se formar uma procissão de fiéis defensores do caminho em que acreditamos.
Queremos apenas deixar uma dúvida, uma sintética posição de que é possível sonhar com o impossível de hoje para encontrar amanhãs mais ensolarados e aquecidos que esquentem e iluminem determinada facção da humanidade.
Um sonho apenas que, de tanto ser mais do que nossa limitada capacidade possa entender, incomoda, incomoda e incomoda a tantos que dele nada sabem, ou melhor, nada querem saber. Só sabem que o que queremos é bom e o bom não é tão bom para eles.
Quando um de nós é agredido, algo insanamente frequente, nos tornamos mais guerreiros e acreditamos ainda mais no que estamos fazendo, pensando e pulverizando pelos ventos que por nós passam desavisados de nossa intenção.
Chegamos até aqui devido à coerência. Que a voz e a cultura popular continuem a nos proteger desta peste vil.
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