domingo, 9 de outubro de 2011

SAUDADE QUE NUNCA VAI PASSAR

JOÃO ALMEIDA

AI QUE DOR!
NEM PEÇO ANALGÉSICO
PORQUE ESTA DOR NADA PASSA...
DOI, DOI E DOI!
E AS LEMBRANÇAS
EM FORMA DE FERRÃO
FUTUCA SEM A MENOR PIEDADE...
ESCUTO A VOZ DA TRISTEZA A DIZER:
-DÁ-LHE SAUDADE!

ASSIM INVADE MEUS PENSAMENTOS
O CUSCUZEIRO DE BARRO,
O CAFÉ NO CABORÉ.
A GRADE DA PORTA DO QUINTAL,
O CAMINHO PARA BEIRA DO RIO...
OS OLHOS DE MÃE DA JANELA,
VIGILANTES, ESPIANDO,
ATÉ SUA VOZ ORDENAR:
-VENHAM! O TEMPO JÁ ESTÁ FRIO!

COCADAS DE CORTE!
-DESTAS VOCÊS SÓ COMEM AS RASPAS!
AS COCADAS VÃO VIAJAR,
VÃO NO TREM PRA SUA TIA!
AS RASPAS MAIS DOCES DO MUNDO
JÁ ERAM DE PURA ALEGRIA...
A FILA DE POTES
ESPERAVA A NOSSA
E ENCHIA NOSSOS CANECOS
PARA MATAR UMA SEDE GOSTOSA...

AI QUE SAUDADE MÃE!
TANTOS ANOS DE TANTAS ALEGRIAS...
TANTA BONDADE
QUE FAZ A SUA FALTA MAIOR!
BENÇA MÃE! BENÇA MÃE!
-DEUS LHE ABENÇOE MEU ANJO!
MÃE! MÃEEEEEEEEE!
QUE SAUDADE DO SEU CHEIRO!
QUE SAUDADE DO SEU AMOR!
DE TUDO QUE VOCÊ FOI...

COISAS QUE MARCAM!

DANIEL FARIA

homens que são como lugares mal situados

homens que são como casas saqueadas

que são como sítios fora dos mapas

como pedras fora do chão

como crianças órfãs...

Homens agitados sem bússola onde repousem,

homens que são como fronteiras invadidas

que são como caminhos barricados...

Homens que querem passar pelos atalhos sufocados,

homens sulfatados

por todos os destinos

desempregados das suas vidas.

Homens que são como a negação das estratégias,

que são como os esconderijos dos contrabandistas.

Homens encarcerados abrindo-se com facas,

homens que são como danos irreparáveis,

homens que são sobreviventes vivos,

homens que são sítios desviados

do lugar.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Bambino

Ernesto Nazareth

E se o ferro ferir
E se a dor perfumar
Um pé de manacá
Que eu sei existir
Em algum lugar

E se eu te machucar
Sem querer atingir
E também magoar
O seio mais lindo que há

E se a brisa soprar
E se ventar a favor
E se o fogo pegar
Quem vai se queimar
De gozo e de dor

E se for pra chorar
E se for ou não for
Vou contigo dançar
E sempre te amar amor

E se o mundo cair
E se o céu despencar
Se rolar vendaval
Temporal carnaval
E se as águas correrem
Pro bem e pro mal

Quando o sol ressurgir
Quando o dia raiar
É menino e menina
Bambino, bambina
Pra quem tem que dar
No final do final

E se a noite pedir
E se a chama apagar
E se tudo dormir
O escuro cobrir
Ninguém mais ficar

Se for pra chorar
E uma rosa se abrir
Pirilampo luzir
Brilhar e sumir no ar

Se tudo falir
O mar acabar
E se eu nunca pagar
O quanto pedi
Pra você me dar

E se a sorte sorrir
O infinito deixar
Vou seguindo seguir
E quero teus lábios beijar