quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O SILENCIO QUE MATA

- Bertold Brencht


Na primeira noite, eles se aproximam

e colhem uma flor do nosso jardim.

E não dizemos nada

Na segunda noite, já não se escondem,

pisam as flores, matam o nosso cão.

E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles, entra

sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,

e, conhecendo nosso medo,

arranca-nos a voz da garganta.

orque não dissemos nada,

já não podemos dizer nada.

- Maiakavski -

Primeiro levaram os negros

Mas não me importei com isso

Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários

Mas não me importei com isso

Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis

Mas não me importei com isso

Porque eu não sou miserável.

Depois agarraram os desempregados

Mas como tenho emprego

Também não me importei

Agora estão me levando

Mas já é tarde,

Como eu não me importei com ninguém

Ninguém se importa comigo


terça-feira, 16 de outubro de 2007

Penas do Tié


Pena Branca e Xavantinho

Vocês já viram lá na mata a cantoria
Da passarada quando vai anoitecer
E já ouviram o canto triste da araponga
Anunciando que na terra vai chover
Já experimentaram guabiroba bem madura
Já viram as tardes quando vai anoitecer
E já sentiram das planícies orvalhadas
O cheiro doce da frutinha muçambê
Pois meu amor tem um pouquinho disso tudo
E tem na boca a cor das penas do tié
Quando ele canta os passarinhos ficam mudos
Sabe quem é o meu amor, ele é você
Você, você, você

domingo, 14 de outubro de 2007

PÉS NO CHÃO

Autor desconhecido

Noutro dia estava estirado no sofá da sala, escutando cabelo crescer, como costumo fazer, e pensei: "há quanto tempo não ponho meus pés na terra!" Nossa! Mas tem tempo mesmo!
E pensar que eu fui um guri que cresceu andando descalço, criando cascão na sola... Hoje, se eu correr sem sapatos num gramado vai cortar a sola dos pés feito eu estivesse pisando em giletes.
Talvez até seja desconfortável eu botar a lancha no chão cru... Mas ainda quero fazer isso. E há de ser em breve. Temos chacras importantes na sola dos pés que precisam carregar/descarregar energias na terra.


Tem tanta coisa que eu fazia e deixei de fazer... Jogar futebol, subir em árvore, comer fruta no pé, jogar pedra na superfície de um lago e vê-la quicar no mínimo três vezes...
Com o tempo, a gente larga velhos hábitos e adquire novos, mas aí bate uma tremenda saudade dos antigos...

O sol pálido deixou sobre minha mesa algumas pequenas sementes de luz
Queria saber a magia exata que fizesse germiná-las.
Então eu guardaria no olhar o brilho dessas pétalas luminosas.
E quando eu novamente te visse
Teria só pra você um buquê nos olhos de moleque tímido.

(poema que eu fiz não sei quando, dedicado a não sei quem...)

É... Preciso botar os meus pés no chão. Sentir a energia do solo. Mas não consigo tirar a cabeça das nuvens... E o meu coração, que paira entre o céu e a terra, acende um farol para as gentes, e bate as asas de pássaro no rumo do sol. Porque amanhã sempre será um novo dia...



terça-feira, 9 de outubro de 2007

ONDE ESTÃO OS ARCOS-ÍRIS


João Almeida


Ontem,

um Arco-íris

apoiado na beira do rio

bebia água.

A água subia por suas veias

coloridas e eram despejadas

nas nuvens.

Arco-íris da minha infância

fazia chover

no entardecer silencioso

daqueles tempos...

Hoje,

parece que vazaram

as veias dos arcos-íris

e suas cores esparramadas

pelo tempo se apagaram,

deixando um traço no céu

mais triste do que “flicts”

Que tempos são estes?...


Obs: Flicts é uma cor criada por Ziraldo num dos seus poemas inocente e lindo:


"Era uma vez uma cor

muito rara e muito triste

que se chamava Flicts...

Tudo no mundo tem cor

tudo no mundo é

azul

cor de rosa

ou furta cor,

é vermelho ou amarelo.

Quase tudo tem seu tom,

roxo, violeta ou lilás.

Mas não existe no mundo

nada que seja Flicts.

---nem a sua solidão....

Obs. Gostaria de transcrever todo poema, mas no momento é o que me lembro, o restante ficou no livro lá onde eu espero ainda admirar muitos arcos-íris, meu querido Recanto Verde.