quarta-feira, 4 de junho de 2014

Pode Entrar

A casa escancarada, a lua ali
Meu cachorro nunca morde
Meu quintal tem saputi
Tem um roseiral crescendo lindo
Quem for louco ou for poeta
Pode entrar, seja benvindo
Aqui passa o bonde da lapinha
Passa a filha da rainha
Passa um disco voador
Às vezes ele gira, pára e pisca
Como quem quase se arrisca
A parar pra conversar
Mas não me sinto só, tenho um vizinho
Que é um bêbado velhinho
Que acredita no destino
Ele mora em cima do arvoredo
Ele tem muitos brinquedos
Ele sempre foi menino
Agora se vocês me dão licença
Eu vou ver um passarinho
Que me chama no quintal
Depois eu vou deitar para sonhar
E dançar com a cigana
Que eu perdi no carnaval.

domingo, 1 de junho de 2014

formalidades


Eu quero mais é quebrar tabus, arregaçar as mangas, abrir as portas e soltar todos os meus vocábulos junto com meu coração. Quero é dizer do que gosto, de quem gosto. Repetir a dose, exagerar no gole, não fazer corpo mole e assumir meus sentimentos. Quero que se dane a formalidade que me exige andar de salto alto, corpo ereto, copos, talheres e pratos no mesmo alinhamento. Quero mesmo é dar adeus a frescura que me deixa entalada na roupa de festa e me faz beber vinho em pequenos goles, para não entornar. Que me exige dar risadinhas no canto da boca e fazer poses para ficar bem na foto.


Quero sair por ai. Andar descalça. Cumprimentar os passarinhos. Sorrir para as flores e gargalhar com as crianças. Quero falar de amor para que todos possam ouvir. ter liberdade de ficar em silêncio. Falar quando for necessário. Aconselhar meu coração. Sonhar com dias melhores. Cantar sem rima. escrever sem motivos. Chorar sem razão. Amar sem restrição.

Romper o obvio. Sair do prumo. Soltar os remos e navegar. Colher flores para dar de presente. Tricotar verdades. Descartar mentiras...Dizer bye bye para a tristeza. Não ser levada a sério. Não servir de exemplo. Não dar conselhos. Quero acordar na lua. tocar no céu. Passear pelas nuvens, pelo menos nos meus sonhos.

Quero um dia maior para viver com vontade. Um coração mais largo para caber tanto amor. Por favor, não me fale de regras, técnicas, normas. Perdi essa aula por pura teimosia.

Quero viver, aventurando-me na ousadia de fazer um belíssimo espetáculo, sem nenhum script. Sem nenhum diretor que me exija tanta disciplina. Quero é suportar minhas loucuras e me completar com o resto de alegria possível.

((Ita Portugal))

Beijos com

sexta-feira, 2 de maio de 2014

INFORMALIDADE


Lá pelo meio do século passado
os vendedores ambulantes
anunciavam na Rua da Praia:
vendo Óleo de Peixe Boi,
Extrato do Ipê da Amazônia,
pomada milagrosa tira dor,
bilhete da Loteria estadual,
assinatura da Revista Cruzeiro
e manual de como enriquecer sem fazer força...
Naquela época, na praça XV,
em torno do Mercado Público,
havia o tradicional Lambe-lambe,
o retrato em preto e branco,
três por quatro, tirado na hora
- fotos para o primeiro emprego...
As novas tecnologias varreram
hábitos e costumes antigos,
mas os ambulantes ainda estão
no Centro Histórico e agora apregoam
outros produtos:
temos  o comprimido azul importado do Paraguai,
vendemos óculos de grau por cinquenta reais,
fornecemos recibos de contra cheques
assinalados no valor que o freguês desejar
e atestados médicos de 14 diasPOR 

domingo, 23 de março de 2014

AS MULHERES SECAS

AS MULHERES SECAS - Joilson Kariri Rodrigues





As mulheres secas
não se banham, 
só lavam suas caras sujas nas águas dos olhos,
é pra isso que choram, se entristecem e choram.
quando a noite desanoitece
e o sol vem queimar o mundo,
é hora de rezar as velhas preces
é hora de rezar em vão, de juntar mais mágoas
que é para se entristecer e dar mais águas
nos olhos que são cacimbas de beber.
As mulheres secas bebem lágrimas!
tentando fazer leite nas muchibas magras, ocas
e não vem leite que dê pra tantas bocas,
dos meninos magros, secos
que só sugam nesses peitos, suor e sal.
As mães secas vivem de encantar meninos,
são enganadoras e prometem o céu que não têm
o leite que não vem,a chuva, o mingau.
As mulheres secas, pra enganar, dão até de sorrir
e escondem deles as suas dores, seus cansaços
e chupando seus peitos secos, embalados em seus braços,
mais um menino morre, sem ela nem sentir.

sábado, 15 de março de 2014

Quem me leva os meus fantasmas

Aquele era o tempo
Em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes as palavras voavam,
E eu via que o céu me nascia dos dedos
E a Ursa Maior eram ferros acesos.
Marinheiros perdidos em portos distantes,
Em bares escondidos,
Em sonhos gigantes.
E a cidade vazia,
Da cor do asfalto,
E alguém me pedia que cantasse mais alto.
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e´ a estrada
Aquele era o tempo
Em que as sombras se abriam,
Em que homens negavam
O que outros erguiam.
E eu bebia da vida em goles pequenos,
Tropeçava no riso, abraçava venenos.
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala
Nem a falha no muro.
E alguém me gritava
Com voz de profeta
Que o caminho se faz
Entre o alvo e a seta.
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e a estrada

De que serve ter o mapa
Se o fim está traçado,
De que serve a terra à vista
Se o barco está parado,
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta,
De que servem as palavras
Se a casa está deserta?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e a estrada

sexta-feira, 14 de março de 2014

REARRUMAÇÃO




* Karina Rabinovitz *

Minha geladeira,
resolvi colocar embaixo da amendoeira
do quintal do vizinho,
só pra mudar as coisas de lugar!

Minha cama,
pus na beira do mar,
e meu sofá,
arrastei para a praça,
onde sento e como pipoca
e vejo tudo que passa.

Meu armário, pintei de roxo
e coloquei na esquina da rua azul
com a rua rosa.

Minha vitrola,
que se entrosa muito bem com o meu pufe,
está ao lado dele, agora,
tocando, no meio da avenida, por entre os carros.
  1.  
Joguei, além, muita coisa fora:
roupas, papéis, talheres, divã...

Esta manhã,
acordei cansada de tudo como está
e resolvi, simplesmente,
mudar as coisas de lugar!


***

Sempre que os ciclos se preparam pra terminar e recomeçar (esta dança infinita...), acredito que a rearrumação seja o nosso vôo. Rearrumar fora ou dentro, quebrar coisas, jogar fora, cuidar melhor, limpar, mudar.
Bagunçar o muito arrumadinho, ajeitar o muito bagunçado...
Com nossas mãos e pensamentos recriar nossos dias. todo dia...

Com poesia, a melhor maneira!, proponho uma rearrumação...
e 2005 = 7: sete vezes melhor que 2004!!! pra todos nós!, criatividade, beleza, compa
Paz, saúde, amor, coragem, alegria, fé, leveza ixão e poesia!


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Janela da infância




Janela da infância, janela das lembranças.

(Shirlei Ribeiro)





Quando abro minha janela, sempre me lembro da minha infância, onde eu podia espiar o movimento da rua, dos vizinhos, dos amigos, dos velhos conhecidos, enfim de quem ia e vinha. 

Hoje, na cidade grande, quando o tempo corrido permite é monótono olhar a janela do apartamento, e observar o vai e vem de quem eu não conheço, ou mesmo de quem mora no mesmo prédio na qual nunca fora desenvolvida uma conversa além do oi e bom dia.

As lembranças de infância me faz recordar sobre as histórias, que meu pai me contava do que via pela janela quando era criança. Muitas vezes, até acredito que sejam um pouco, digamos fantasiosas ou exageradas.

Ele contava que morava na beira da praia com seus pais e seis irmãos. Costumava pescar da janela do seu quarto e que em tempo de maré cheia, os siris se escondiam debaixo da cama, então a mãe dele corria com uma vassoura na mão, para defender sua cria do indefeso animal perdido na maré das águas insulanas. 

Lembro-me dele falar que acordava com um boi na janela, mas eu exclamei: -Pai, boi na praia? Assim surge a dúvida sobre a legitimidade de suas histórias.

Retornando as janelas, elas revelam mesmo o passar do tempo. Da época que se viam crianças brincando nas ruas, e agora que se veem pessoas apressadas, vizinhos dentro de suas janelas, outras janelas, ou até mesmo janela alguma. 

Apesar disso ainda acredito existir pessoas do outro lado da janela que devem estar pensando o mesmo que eu: Ah, que saudade da janela da minha infância!



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