domingo, 23 de março de 2014

AS MULHERES SECAS

AS MULHERES SECAS - Joilson Kariri Rodrigues





As mulheres secas
não se banham, 
só lavam suas caras sujas nas águas dos olhos,
é pra isso que choram, se entristecem e choram.
quando a noite desanoitece
e o sol vem queimar o mundo,
é hora de rezar as velhas preces
é hora de rezar em vão, de juntar mais mágoas
que é para se entristecer e dar mais águas
nos olhos que são cacimbas de beber.
As mulheres secas bebem lágrimas!
tentando fazer leite nas muchibas magras, ocas
e não vem leite que dê pra tantas bocas,
dos meninos magros, secos
que só sugam nesses peitos, suor e sal.
As mães secas vivem de encantar meninos,
são enganadoras e prometem o céu que não têm
o leite que não vem,a chuva, o mingau.
As mulheres secas, pra enganar, dão até de sorrir
e escondem deles as suas dores, seus cansaços
e chupando seus peitos secos, embalados em seus braços,
mais um menino morre, sem ela nem sentir.

sábado, 15 de março de 2014

Quem me leva os meus fantasmas

Aquele era o tempo
Em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes as palavras voavam,
E eu via que o céu me nascia dos dedos
E a Ursa Maior eram ferros acesos.
Marinheiros perdidos em portos distantes,
Em bares escondidos,
Em sonhos gigantes.
E a cidade vazia,
Da cor do asfalto,
E alguém me pedia que cantasse mais alto.
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e´ a estrada
Aquele era o tempo
Em que as sombras se abriam,
Em que homens negavam
O que outros erguiam.
E eu bebia da vida em goles pequenos,
Tropeçava no riso, abraçava venenos.
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala
Nem a falha no muro.
E alguém me gritava
Com voz de profeta
Que o caminho se faz
Entre o alvo e a seta.
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e a estrada

De que serve ter o mapa
Se o fim está traçado,
De que serve a terra à vista
Se o barco está parado,
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta,
De que servem as palavras
Se a casa está deserta?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e a estrada

sexta-feira, 14 de março de 2014

REARRUMAÇÃO




* Karina Rabinovitz *

Minha geladeira,
resolvi colocar embaixo da amendoeira
do quintal do vizinho,
só pra mudar as coisas de lugar!

Minha cama,
pus na beira do mar,
e meu sofá,
arrastei para a praça,
onde sento e como pipoca
e vejo tudo que passa.

Meu armário, pintei de roxo
e coloquei na esquina da rua azul
com a rua rosa.

Minha vitrola,
que se entrosa muito bem com o meu pufe,
está ao lado dele, agora,
tocando, no meio da avenida, por entre os carros.
  1.  
Joguei, além, muita coisa fora:
roupas, papéis, talheres, divã...

Esta manhã,
acordei cansada de tudo como está
e resolvi, simplesmente,
mudar as coisas de lugar!


***

Sempre que os ciclos se preparam pra terminar e recomeçar (esta dança infinita...), acredito que a rearrumação seja o nosso vôo. Rearrumar fora ou dentro, quebrar coisas, jogar fora, cuidar melhor, limpar, mudar.
Bagunçar o muito arrumadinho, ajeitar o muito bagunçado...
Com nossas mãos e pensamentos recriar nossos dias. todo dia...

Com poesia, a melhor maneira!, proponho uma rearrumação...
e 2005 = 7: sete vezes melhor que 2004!!! pra todos nós!, criatividade, beleza, compa
Paz, saúde, amor, coragem, alegria, fé, leveza ixão e poesia!