quinta-feira, 26 de setembro de 2013

ETERNO


Duy Huynh

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Corrias pelo campo por entre searas inocentes, carregando nos bolsos as histórias tricotadas por asas de sonho. Só repousavas nos braços da pequena montanha, que avistavas da janela do teu quarto. Acreditavas que o céu lhe beijava o rosto sempre que o sol e a lua poisavam a mão no seu regaço. Convicta dessa ilusão, escancaravas os olhos e imaginavas poder abraçar o céu e semeá-lo num pedaço do teu jardim onde as flores teriam o simples brilho das estrelas. Sonhavas poder beber esse azul e navegar pelo céu povoado de ilhas brancas e árvores com asas. O infinito não cabia nos teus olhos, mas ias guardando e cultivando pequenos fragmentos dessa morada... Agora que os teus bolsos se tornaram demasiado pequenos, e as searas ganharam outra cor, já não precisas de correr. Pois as histórias tricotadas por asas de sonho foram crescendo e (sobre)vivem na única morada onde cabe todo esse infinito, o teu eterno coração de mãe...

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terça-feira, 17 de setembro de 2013

DA LÚCIDA EMBRIAGUEZ

(AD)

Garçom, traga-me uma dose exagerada de conhaque e valentia, por favor. Por que ainda tenho um bom pedaço pra caminhar, antes que me a noite me tome nos braços e lance na cama desalinhada o meu corpo exausto do que me mostrou o dia. E pra viagem, garçom, embrulhe uma porção de poesia e outro bocado de sonhos. Pretendo abarrotar quaisquer espaços vazios com esses dois ingredientes de indescritível necessidade. Pode um sujeito viver sem sonhar? Pode não, rapaz! Quando tudo na vida é desencanto e amargura, o sonho invade o silêncio do lado de dentro e garante que na vida haverá de se experimentar outro gosto que não seja o azedume desgraçado misturado nos goles de vida do sujeito. E também é de muita precisão a poesia, você não acha? Poetas não permitem que a vida aconteça em vão, sem que sua alma se alvoroce e a tudo retrate. Pois, se há por perto uma poesia, mastigue-a até o último verso. Até a amargura do sujeito ganha ares de boniteza, quando lhe diz a poesia. Ah, e de amor, garçom, me separe logo uma meia dúzia de garrafas, que é pra eu beber quando cá dentro insinuar secura. Que eu sem amar não quero ter aprendizado de vida, não senhor. Que seja boa a sua continuação de noite, rapaz. Eu tenho que ir andando, porque o amanhã já é quase agora... Inté!